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Muito além da extensão

Presente em todo estado, a extensão rural completa 60 anos como um dos serviços públicos com maior capilaridade no Paraná. Hoje não existe um extensionista para cada um dos 399 municípios. Por questões de contingenciamento, prioridades de governo e da pura falta de entendimento do papel da assistência técnica, nessas seis décadas o quadro funcional ficou defasado.

Atualmente pelos menos 70 cidades não contam com o apoio direto de um técnico da extensão. O que não significa que aquela localidade deixou de ser atendida. Pode não ser com exclusividade, nas condições consideradas ideais, mas o extensionista do endereço mais próximo é quem se desdobra e acaba dando atendimento aos municípios descobertos.

Mas o cenário de hoje não é muito diferente das últimas décadas. Pautada pelo desafio constante, a extensão rural sobrevive e se renova. Mostra que, apesar das dificuldades, não aquelas impostas pelo campo – essas os extensionistas tiram de letra –, mas pela conveniência política à qual está sujeita enquanto autarquia pública, ela está aí, pensando, planejando e se preparando para o futuro. Porque em um estado com vocação natural à agricultura e pecuária, estruturada basicamente em pequenas propriedades, a extensão rural não pode arrefecer. Não pode ser encarada como despesa. Porque é investimento. Na promoção do econômico e social, do campo e da cidade, no desenvolvimento do Paraná.

Respeitadas as devidas proporções, contratar no Instituto Emater é tão importante quanto como contratar na polícia. Um é segurança pública. O outro, segurança alimentar. Nos dois casos, responsabilidade do Estado. Aliás, em uma analogia ao princípio da subsidiariedade, de não esperar que o Estado faça por você o que você mesmo pode fazer, talvez seja essa uma grande oportunidade para o governo retribuir. Porque a agricultura está cumprindo a sua parte. Fez, faz e ainda tem muito por fazer pelo Paraná.

E não custa nada lembrar ao Estado, em especial à Secretaria da Fazenda, que o agronegócio representa 35% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Que mais de 70% das exportações totais da economia paranaense saem do campo. Que mais de 150 mil propriedades têm área menor que 10 hectares. E que mais de 200 mil propriedades têm renda mensal abaixo de dois salários mínimos. É esse estado, é essa economia, são esses produtores que precisam da extensão.

Nesse sentido, o impasse sobre as novas contratações na Emater precisa de definição com prioridade. São quase dois anos desde a realização do concurso e, mais recentemente, meses de debates e indisposições. Os aprovados lutam pelo seu direito legítimo de contratação. Afinal, não fizeram concurso para cadastro de reserva. E o governo se defende na necessidade de equacionar o caixa. As discussões, no entanto, estão no limite. O quadro do instituto está descoberto e o concurso vence em pouco mais de um mês.

Então, independentemente se convoca todos ou não, convoca logo. Se vai chamar todos os quase 400 aprovados ou apenas os 143, número equivalente aos desligamentos do Plano de Demissão Voluntária (PDV), que o faça logo. Assuma os riscos, o desgaste político e social e tente se justificar. Mas vamos resolver isso de uma vez. Porque o candidato aprovado precisa trabalhar, o produtor precisa do extensionista, os municípios precisam da Emater, o estado precisa da extensão rural.

Em solenidade realizada na sexta-feira (20), em Curitiba, a Emater celebrou seus 60 anos. Ninguém do Palácio Iguaçu apareceu.

Expectativa no Mapa

O produtor Blairo Maggi chegou chegando no Ministério da Agricultura (Mapa). O ex-governador e senador pelo Mato Grosso quer mostrar rapidamente a que veio. Vai comandar a incorporação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), disse que vai definir novos critérios para a escolha do presidente da Embrapa e sinalizou com possíveis mudanças nas regras do Plano Safra 2016/17, anunciado pela presidente Dilma Rousseff e pela então ministra da Agricultura Kátia Abreu dois dias antes de deixarem o governo. Ele também quer prorrogar para todos os produtores o prazo já vencido do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Resta saber como ele vai lidar com a ingerência política que tomou conta do Mapa nos últimos governos, quando o PMDB loteou o ministério e suas principais vinculadas. De secretarias a órgãos como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi um período em que os acordos e acomodações políticas sempre prevaleceram sobre o interesse técnico. É chegada a hora de ver como o produtor e senador vai lidar com as pressões do Executivo e os interesses técnicos do agronegócio. A semana deve ser de nomeações. Agora é pagar.

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