Mais do que o futuro do dólar, que dá suporte em reais à cotação das principais commodities, o campo está preocupado com o reflexo da crise política e econômica no próximo ciclo produtivo. Com exceção de manifestações de entidades que representam o setor produtivo, que encaminharam para Brasília sugestões e contribuições para a elaboração do Plano Safra 2016/17, não houve nenhum movimento concreto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nesse sentido. Diante da falta de perspectiva sobre o anúncio das novas regras de custeio, comercialização, investimento e principalmente do seguro rural, o produtor é obrigado a tomar decisões de planejamento no escuro, sem um horizonte da política agrícola que virá do governo federal.
No ano passado, primeiro ano da gestão da ministra Kátia Abreu à frente do Mapa, o Plano Safra 2015/16 foi anunciado no dia 2 de junho. No ano anterior, as regras da temporada 2014/15, foram divulgadas ainda antes, no dia 19 de maio, pelo ministro Neri Geller. Era uma esperança de que o governo finalmente estivesse entendendo o tempo e as necessidades do agronegócio. Quanto antes as regras são divulgadas, mais tempo e segurança tem o produtor rural para se planejar e se programar para a próxima safra.
Contudo, na comparação com os anos anteriores, maio está aí e junho muito próximo. Ao produtor, resta rezar e ficar no aguardo. Mas sem muita expectativa. Até porque, se a presidente Dilma Rousseff for afastada, sai também a ministra Kátia Abreu. Aí, é contar com o bom-senso e a sensibilidade do novo ministro para com a urgência e o tempo do agronegócio, diante da urgência e do tempo de um novo governo.
Rally em US$
Em uma semana de alta volatilidade no mercado internacional, a soja rompeu os US$ 10/bushel na Bolsa de Chicago. O contrato de maio, referência para a safra brasileira, bateu em US$ 10,19 e os de julho e agosto, US$ 10,19. O rally no milho não foi tão intenso, mas ainda assim significativo. O cereal bateu nos US$ 3,94/bushel, a melhor cotação desde o início de novembro do ano passado. No caso da soja, o melhor preço em oito meses. No fim da semana o mercado cedeu e os ganhos não se sustentaram nos picos. Mas foi uma semana de euforia.
A alta na oleaginosa tem a ver com especulações de safra menor na Argentina, o terceiro produtor mundial. As chuvas no país vizinho devem reduzir a produção para próximo de 55 milhões de toneladas. Foram mais de 60 milhões no ano passado.
O movimento no mercado também levou em conta a produção abaixo do potencial inicialmente estimado para a soja brasileira, para menos de 100 milhões de toneladas. Do lado da especulação, a desvalorização do dólar no mercado internacional teria sido outra influência na valorização da oleaginosa.
Reflexo em R$
Em reais, apesar de o câmbio seguir abaixo de R$ 3,60, no Porto de Paranaguá foram registrados negócios a R$ 84/saca de soja. No acompanhamento feito pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), a média do último dia de aferição, na quarta (20), ficou em R$ 67,95 com máxima de R$ 75.
Já o milho segue descolado e aumenta a dianteira de Chicago. Com máxima de R$ 48/saca, em praças mais ao Norte, o cereal terminou o dia com média de R$ 37,50 no estado. Situação mais extrema vive o Nordeste brasileiro, onde a saca do milho é comercializada a mais de R$ 50/saca em praça como Fortaleza (CE). A região sofre com a oferta menor por causa da seca no MaToPiBa (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), natural e tradicional fornecedor de milho para a indústria de ração que abastece a avicultura nordestina.
Pelo menos neste momento, o campo dá sinais de que a produção total de milho (1.ª e 2.ª safras) não será suficiente para dar conta da demanda nacional. Consumo para a indústria de carnes, somado à exportação e demanda para alimentação humana deve superar o volume estimado de produção, de 84 milhões de toneladas. E se não será suficiente para atender a demanda, muito menos será possível recompor os estoques, outro fator de viés altista para as cotações.
Produtores de frangos e suínos estão recorrendo aos governos, estadual e federal, na tentativa de amenizar o impacto da alta do insumo nos custos de produção. O governo federal zerou a tarifa de 8% para importação de milho de países de fora do Mercosul. E o governo do Paraná reduziu, em caráter temporário, de 12% para 6% a alíquota de ICMS na comercialização estadual e interestadual de suínos vivos.