Apesar do sentido figurado, a manchete de sábado da Gazeta do Povo, "Terra que vale ouro", traduz de maneira prática e objetiva um momento quase que singular do agronegócio brasileiro. De um negócio globalizado, mas com capilaridade para influenciar economias regionais, inflacionar mercados e ativos, fundamentos e especulações, do interior do Paraná à Bolsa de Chicago. A terra tem preço, mas não tem negócio. Condição que torna valor e custo de oportunidade numa variável tão relativa quanto o clima, capaz de determinar a rentabilidade do empreendimento. De qualquer forma, o preço da terra não deixa de ser um indicador da saúde financeira, potencial e sustentabilidade do agronegócio.
No patamar em que se encontram, sejam em reais, dólares ou sacas por hectare, na conversão à moeda do produtor, as cotações expressam com clareza o fortalecimento do setor, assim como sua expressiva participação na sustentação da economia nacional. Bem como está clara a aposta do governo federal, que investe no campo na tentativa de reverter a tendência de queda no Produto Interno Bruto (PIB), com um crescimento menor da economia em 2012. Se as riquezas geradas a partir da produção primária da agricultura e pecuária serão suficientes para segurar o PIB, isso ainda vai depender de inúmeras variáveis. De concreto mesmo, só o fato de o segmento ter grandes chances de ampliar sua presença no PIB. E não será por falta de apoio ou incentivo. As condições estão colocadas e o desafio está lançado para a temporada 2012/13.
Com soja a US$ 16 e milho a US$ 7 por bushel, não há limite ao preço da terra, assim como não falta estímulo ao produtor e motivo para investir. Na moeda nacional, quando existe produto disponível, as transações superam os R$ 60/saca da oleaginosa e chegam a bater em R$ 25 no caso do cereal. Então, realmente não é cotação para vender, mas para investir na terra, explorar seu potencial produtivo e rentabilizar a atividade. É cotação para pagar conta, fazer caixa e na temporada seguinte ampliar o custeio com recursos próprios, reduzindo a dependência de qualquer que seja o agente financeiro. Pelo menos em tese, cenário que permite sonhar com a independência e a sustentabilidade do negócio.
Na prática, é a conjuntura favorável da temporada que multiplica as chances de um desempenho acima da média. A começar pelo clima, que tem tudo para ser amigável, ao crédito farto e com juros reduzidos do Plano Safra, são poucas as chances de algo dar errado. As incógnitas e variáveis a serem vencidas, ou acompanhadas, estão no campo da oferta mundial, que pode sustentar ou deprimir preços. E no acesso ao crédito oficial para custeio, proteção, investimento e capitalização, de produtores e cooperativas. Em resumo, em parte o futuro próximo do agronegócio brasileiro está na dependência da safra dos Estados Unidos, em fase de desenvolvimento e castigada pelo clima quente e seco. E dos agentes financeiros, responsáveis pela liberação do crédito e pela burocracia quase intransponível entre o tomador e a concessão.
O Banco do Brasil, o principal agenciador desse crédito, realiza hoje uma agenda nacional e simultânea para apresentar a sua versão do Plano Safra 2012/13. Uma mobilização com capilaridade para superar o lançamento oficial do plano, que ocorreu em Brasília, há 10 dias. Além da sede do banco, na capital federal, o evento se estenderá a todas as capitais e principais cidades afins ao tema. Ficará a cargo do vice-presidente de Agronegócios Osmar Dias apresentar as metas e desafios da instituição na busca de resultados que garantam a hegemonia do banco nessa seara. Não que sua liderança esteja ameaçada, mas pelo fato de que a crescente participação de outros agentes começa a incomodar. Somente no Paraná, por exemplo, a carteira do sistema Sicredi no crédito rural quer crescer mais de 30% em relação ao ano anterior.
A expectativa maior, no entanto, é de que a concorrência na ponta da concessão do crédito venha de alguma maneira a beneficiar o lado do tomador. Ao ampliar o volume de recursos, reduzir os juros e garantir um limite maior por contrato, o governo avança, mas ainda falta garantir a devida aplicação desse capital. Mas a tarefa deve ser partilhada, com direitos e obrigações, que começam no governo, passam pelos bancos e terminam com o produtor. Se tem dinheiro, é preciso cobrar retorno e resultado, desde que as condições de acesso à aplicação dos recursos sejam devidamente garantidas. O que só vai se caracterizar quando todo o dinheiro disponibilizado for efetivamente contratado.
No ciclo 2011/12, R$ 30 bilhões dos R$ 123 bilhões do Plano Safra não saíram dos bancos. A oferta agora é de R$ 133,2 bilhões.
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