Em parceria com entidades do setor, tendo como protagonista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o governo do estado lançou na semana passada o Plano Integrado de Desenvolvimento da Bovinocultura de Corte. O objetivo: revitalizar e modernizar a pecuária de genética e carne bovina, que entre altos e baixos segue estacionada no Paraná. Do último caso de febre aftosa, em 2005, à proposta de estado livre da doença sem vacinação, a pecuária paranaense parece andar de lado. Dez anos depois, recuperamos o patamar de exportação anterior à notificação da aftosa, avançamos em genética e o zebu começou a dividir espaço com as raças europeias. Mas o rebanho encolheu. E o mercado, não apenas no Paraná, como no Brasil, vive um momento de contradição: falta boi, mas sobra carne.
Para renovar uma cadeia que está de certa forma desestruturada, um período bastante razoável. Mas também pode ser pouco tempo, caso as ações previstas no programa não sejam implementadas de imediato. Não será fácil.
O que fazer tem a ver com organização, tecnologia de produção, gestão, manejo e comercialização. Essa seria a base da integração. A questão é como fazer, resposta que só será respondida na prática. Reduzir a idade de abate, ampliar a relação de unidade/animal por hectare, maior rendimento de carcaça e autossuficiência na cadeia estão entre as metas. Isso está escrito e faz parte da essência do programa, que estabelece um prazo de dez anos para que esteja estabelecida a nova e moderna pecuária paranaense.
Para renovar uma cadeia que está de certa forma desestruturada, um período bastante razoável. Mas também pode ser pouco tempo, caso as ações previstas no programa não sejam implementadas de imediato. Não será fácil. Mas também não será tão difícil, a considerar a vocação natural do estado ao segmento. Mesmo com um nível de organização da cadeia que deixa a desejar, a taxa de ocupação dos pastos por aqui é 1,4 cabeça por hectare/ano, contra uma média no Brasil de 0,5 cabeça/hectare/ano.
Levantamento feito pelo presidente da comissão de Bovinocultura de Corte da Faep, Rodolpho Botelho, e apresentado no lançamento do programa, na semana passada, no Palácio Iguaçu, mostra um rebanho de 9,4 milhões no Paraná. Dois terços – aproximadamente 6 milhões de cabeças – são de corte. Segundo o Instituto Emater, o rebanho médio das 56 mil propriedades de bovinocultura é de 109 animais, num estado onde a estrutura fundiária prioriza o pequeno e 87% das áreas têm até 50 hectares. Um perfil de um estado que tem 2,3% do território brasileiro, mas de uma pecuária que responde com cerca de 5% da produção nacional de carne bovina.
Nas palavras do presidente da comissão da Faep, apesar das dificuldades e desafios, os números do Paraná revelam uma peculiaridade e impõe uma quebra de paradigma, que normalmente associa a produção de carne de boi a grandes extensões de áreas e a centenas e milhares de cabeças. O que se busca, então, com o programa, não é o maior, mas o melhor rebanho. Organizar a cadeia produtiva não significa, necessariamente, ter maior oferta. Isso é o mercado quem vai regular. Mas ter regularidade e segurança no abastecimento, conquistar e fidelizar o comprador.
Sinergia no campo
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) foi o maior repassador de recursos do Plano Safra 2014/15 via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na Região Sul. De junho de 2014 a julho de 2015, dos R$ 7,46 bilhões contratados através do sistema BNDES pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, R$ 1,69 bilhão foi repassado em operações de crédito de programas agrícolas e pecuários coordenadas pelo BRDE. Os números fazem do banco regional o maior parceiro do banco nacional na aplicação do plano safra do Ministério da Agricultura (Mapa) e também do Desenvolvimento Agrário (MDA) na região.
Na teoria, uma relação até certo ponto comum, a considerar a natureza e propósito dos dois agentes financeiros. Na prática, porém, o que pesa nessa expressiva participação é o alinhamento do banco com o setor. Não que o BRDE seja um banco exclusivo do segmento. Porque não é. A prioridade, explícita em seu DNA, é o desenvolvimento. A coincidência, aqui, na Região Sul, é que não há como dissociar economia e desenvolvimento do agronegócio. No Paraná, por exemplo, dos mais de R$ 950 milhões aplicados pelo BRDE no primeiro semestre de 2015, R$ 850 milhões foram em operações do agronegócio. Não necessariamente de programas agrícolas. Mas aplicados no financiamento de todos elos da extensa cadeia produtiva, dentro e fora da porteira, da produção ao comércio e serviços que atendem o setor.
As contratações via BNDES no Sul são lideradas pelo Paraná, com R$ 3,79 bilhões. Em seguida aparece o Rio Grande do Sul com R$ 2,52 bilhões e Santa Catarina com R$ 1,14 bilhão. A participação do BRDE foi de R$ 960,95 milhões, R$ 381,46 milhões e R$ 347,68 milhões, respectivamente. Depois do BRDE, entre os maiores repassadores estão o Bansicredi, com R$ 922,8 milhões e o sistema Cresol com R$ 536,3 milhões.