Enquanto os Estados Unidos confirmam uma surpreendente safra de milho, com potencial recorde acima de 355 milhões de toneladas, o Brasil entre na fase final da colheita do cereal de segunda safra sem perspectiva de preço e mercado. O país deve encerrar a temporada com uma produção próxima de 78 milhões de toneladas, volume equivalente a menos de um quarto da oferta norte-americana. No ambiente globalizado, porém, pouco importa o tamanho da safra deste ou daquele player. O mercado internacional acaba mesmo é sendo balizado pela oferta e demanda, pela produção, consumo e estoque a nível mundial.
A produção mundial de milho se aproxima da marca de 1 bilhão de toneladas. O desempenho é liderado por EUA em primeiro, a China em segundo lugar no ranking, com pouco menos de 220 milhões de toneladas, e o Brasil na terceira colocação. Nos três países é alto o porcentual de consumo no mercado interno, enquanto que o excedente enfrenta disputa acirrada no comércio internacional. Nem sempre há mercado suficiente que garanta demanda, preço e rentabilidade, exatamente o que ocorre neste momento com o milho brasileiro.
Da produção nacional, perto de 55 milhões de toneladas são para consumo interno. A maior parte para alimentação humana e animal e um pequeno mas crescente volume destinado à produção de etanol. As exportações devem tirar do país outras 17 milhões de toneladas, quase 10 milhões a menos que o volume embarcado no ciclo anterior. Ainda assim, são essenciais para garantir um mínimo de liquidez ao cereal nacional, principalmente nas regiões mais distantes dos centros de consumo, como Mato Grosso, por exemplo, maior produtor do milho de segunda safra, com 17 milhões de toneladas. Juntos, o Paraná o estado do Centro-Oeste produzem 32 milhões de toneladas.
Neste momento o governo federal realiza leilões com prêmio pago ao produtor para apoiar o escoamento da produção de unidades da federação onde o preço pago está baixo do preço mínimo. O primeiro leilão, na semana passada, foi destinado a Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. O próximo remate, com área de influência ampliada, será na quinta-feira (28) e inclui Bahia, Piauí e Maranhão. O Ministério da Agricultura (Mapa) estaria preparado para subsidiar o escoamento de 10 milhões de toneladas.
Mas o leilão que subsidia preço é a solução? Definitivamente, não! Embora necessário, a julgar pelas circunstâncias, essa não é uma saída sustentável. É preciso encontrar mercado, crescer de forma adequada, consolidar exportações e encontrar novos destinos à produção primária, como faz o Mato Grosso com o etanol. Ou então ampliar a produção de carne, como faz o Paraná. No mercado globalizado a sustentabilidade depende, sim, das vendas externas. Mas o ambiente favorável à liquidez, rentabilidade e segurança começa no mercado interno, está no equilíbrio entre consumo doméstico e internacional.
Paraná e Paranaguá
Na prática o Brasil ainda precisa exportar em torno de 10 milhões de toneladas de milho em 2014. Até julho foram 6 milhões de toneladas. Apesar do pouco tempo, apenas quatro meses, a contar de agosto, alguns analistas não descartam a possibilidade de o país superar o embarque das 17 milhões de toneladas. Os mais otimistas acreditam que seria possível chegar a 20 milhões. A análise considera o baixo custo do cereal brasileiro no mercado externo. Mesmo com entrada da safra dos Estados Unidos, em setembro, em termos de preço o milho do Brasil estaria mais competitivo ao comprador internacional. Continua ruim para quem vende, mas atrativo para quem compra.
No Paraná, o preço pago ao produtor consegue sustentação acima do preço mínimo. Na sexta-feira, no mercado de Ponta Grossa, a saca de 60 quilos atingiu máxima de R$ 22, e a média estadual ficou em R$ 18,55. O cenário também é positivo em Paranaguá, que atinge prêmios acima de US$ 2 por saca do cereal. O terminal paranaense se destaca nos embarques, reduz o tempo de espera para carregamento dos navios e supera Santos no início da temporada de exportação do cereal.
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