Com a saída de Mendes Ribeiro e a chegada de Antônio Andrade, no último sábado, em 10 anos o Brasil trocou de ministro da Agricultura seis vezes. Na média, foi uma mudança de ministro a cada 20 meses. Na prática, porém, essa relação tende a ser ainda pior. Dos cinco nomes que antecederam Antônio Andrade, dois (Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes) cumpriram juntos seis anos e meio à frente da pasta; os outros três dividiram apenas três anos e meio de mandato, rebaixando a média de permanência do trio para apenas 14 meses, quase um ano por ministro. São eles Mendes Ribeiro, Wagner Rossi e Luiz Carlos Guedes Pinto, pela ordem de tempo em que ocuparam o comando da pasta.
De lá para cá, o volume de recursos destinado ao Plano Agrícola e Pecuário (PAP) saltou da casa dos R$ 30 bilhões para mais de R$ 130 bilhões. A produção cresceu de 120 milhões para mais de 180 milhões de toneladas, conforme previsão para a temporada 2012/13. Números relevantes, que impressionam e espelham o potencial de expansão do agronegócio aqui no Brasil. O fato a se lamentar é que desde então foram anunciados 10 planos safra, mas nenhuma política agrícola, de governo, capaz de dar garantias e segurança ao planejamento do setor, no curto, médio e longo prazo. Todo ano é a mesma expectativa, para não dizer agonia, à espera das novas regras, que invariavelmente chegam atrasadas.
Se não conseguimos sequer manter um ministro por um mandato inteiro, imagine então planejar, definir metas e promover o desenvolvimento estratégico e sustentável do agronegócio brasileiro. Na atual conjuntura, diria que isso beira o impossível, a considerar os critérios cada vez mais políticos na indicação de pastas estratégicas em Brasília. O Ministério da Agricultura, aliás, que virou moeda de troca na composição política do governo, talvez seja o endereço que expõe mais fortemente essa relação. A pasta, que deveria ser mais técnica, se torna cada vez mais política. O equilíbrio entre os interesses políticos e a necessidade de domínio da área em questão há tempos vem sendo ignorada.
Depois do ex-ministro Roberto Rodrigues, sem partido, o ministério foi reivindicado e loteado pelo PMDB. Os últimos cinco ministros, contanto com o atual, foram indicações do partido. Isso tudo em nome da governabilidade, da coalizão necessária para governar o país, justifica a presidente Dilma Rousseff. Tudo bem. O Brasil precisa ser governado e o PT, assim como qualquer outro partido, precisa de aliados para isso. Mas e o agronegócio? Porque a escolha e as composições, ao que me parecem, têm seguido critérios exclusivamente políticos, pouco ou nada técnicos.
Que os escolhidos têm ampla capacidade política e de gestão, podemos até acreditar que sim. Mas propriedade para discutir e defender, bem como legitimidade para representar o segmento não se constrói da noite para o dia. Dá para arriscar? Sim. O problema é que não temos mais tempo para aprender. A velocidade e o dinamismo em que o agronegócio acontece, no Brasil e no mundo, não nos permite mais experimentar, arriscar e errar. O que está em jogo agora não é mais a nossa capacidade de expansão, mas nossa competitividade, que não pode mais esperar, sob pena de nos restringirmos a um mero fornecedor de commodities agrícolas para o mundo. Temos que assumir nossa posição estratégica de fornecedor, sim, mas de alimentos e energia, o que requer planejamento, estratégia e senioridade.
Quando o ministro começa a engrenar, entender não de plano safra, mas de política agrícola, vem a política partidária e devolve o jogo à estaca zero. Foi o que ocorreu com o ex-ministro Mendes Ribeiro. Quando assumiu foi alvo de duras críticas, enfrentou inúmeras dificuldades dentro do Ministério e admitiu sua falta de experiência e identificação com a área. Mas com reconhecida habilidade política ele aprendeu logo. Em um ano e meio de governo ainda tinha muito que fazer e aprender, mas estabeleceu conquistas relevantes e estava vencendo o desafio. A presidente disse que ele saiu para cuidar da saúde e se dedicar à luta contra o câncer. Isso é verdade. Como também é verdade que a escolha de Antônio Andrade, na descontinuidade no Ministério da Agricultura, é explicitamente política. A expectativa agora é que surpreenda. E aprenda rápida.
Para constar, em 20 anos os Estados Unidos tiveram seis secretários da Agricultura, cargo equivalente ao de ministro no Brasil. Sendo que o atual, Tom Vilsack, entra em seu quinto ano à frente da pasta. Os Estados Unidos são os principais concorrentes do Brasil no mercado internacional de commodities agrícolas.
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