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Se existia alguma dúvida sobre as pretensões políticas da senadora Kátia Abreu, na semana passada ela se encarregou de deixar bem claro sua conveniência política diante do atual quadro eleitoral brasileiro. A senadora, que também é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), é uma das protagonistas da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Em depoimento que sai em defesa da candidata do governo, ela apareceu logo no programa de estreia do horário eleitoral do segundo turno.

A posição assumida não é, porém, uma decisão ideológica a considerar a classe que ela representa enquanto presidente da maior entidade do agronegócio nacional. Não que o setor tenha maior ou menor afinidade com o candidato Aécio Neves (PSDB). O que pesa aqui é a rejeição histórica ao PT dentro do setor. A aliança com Dilma Rousseff não é nem de longe a vontade dos representados pela CNA. E sim da senadora Kátia Abreu, uma contradição que gera conflitos entre interesses pessoais, políticos e de classe.

No caso da reeleição de Dilma Rousseff, a senadora aparece como o nome com maiores chances de assumir o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Em tese não lhe faltariam credenciais. Presidente de sindicato rural, da Federação da Agricultura do Tocantins e da CNA, Kátia Abreu ainda reúne um atributo que é condição ao cargo. Ela pertence ao PMDB, partido que loteou o Mapa na gestão do Partido dos Trabalhadores desde o segundo governo do então presidente Lula. Sob a ótica do governo, se reeleita Dilma não teria nenhuma dificuldade na indicação da sua agora fiel escudeira.

Como senadora, a resistência estaria na bancada ruralista do Congresso e, como presidente da CNA, junto à sua própria base, que demonstra muito mais simpatia à campanha de Aécio Neves do que à de Dilma. Por causa da situação de Kátia Abreu, uma bancada que segue dividida para o segundo turno da disputa presidencial. Existe, inclusive, um movimento para isolar a senadora. Com o resultado das urnas do dia 5 de outubro, os intitulados defensores do agronegócio cresceram no Congresso. Saem de 205 para mais de 250 parlamentares.

Reeleição em risco

Kátia Abreu foi reeleita para seu segundo mandato como senadora pelo Tocantins com 282 mil votos. No próximo dia 14 ela também disputaria sua terceira eleição à CNA. O pleito, porém, não será tão fácil. E não é porque há disputa. Mas porque há questionamentos. Uma ação judicial patrocinada pela Federação Paranaense de Agricultura (Faep), que suspendeu as eleições marcadas para amanhã, coloca em risco sua recondução à presidência da entidade. A Faep aponta irregularidades na gestão e nas contas da entidade. Seriam mais de R$ 30 milhões gastos sem a devida comprovação e transparência em 2013, apesar de as contas teriam sido aprovadas em assembleia. A CNA alega divergências políticas internas e que não há irregularidades.

Que há divergências políticas, isso está claro. Agora, que não há irregularidades nas contas, isso parece não estar tão claro assim. Até porque a Justiça acatou a demanda patrocinada pela Faep e pediu explicações à CNA. Explicações, aliás, que não convenceram, motivaram a suspensão das eleições e vão colocar Faep e CNA frente a frente para uma acareação, marcada para o próximo dia 21, sob a mediação da Justiça do Trabalho.

Vale lembrar que o presidente da Faep, Ágide Meneguette, foi um dos principais cabos eleitorais da campanha que levou Kátia Abre à CNA, em 2008. E se agora é ele quem questiona a condução da entidade, é porque a coisa é grave. Ter representação política é necessário e essencial. Misturar e confundir política com representação setorial é no mínimo perigoso, é colocar interesses pessoais à frente do interesse coletivo. Caso típico na triangulação CNA, Mapa e Senado.

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