A proposta é antiga, mas andava meio esquecida nos últimos anos. Afinal, com o mercado bombando, não havia por que reviver a ideia. Mas agora, depois de dois anos consecutivos de forte retração, que fizeram a indústria de máquinas agrícolas voltar à realidade de oito anos atrás, o assunto volta à tona. Ninguém admite boicote, mas o fato é que a ausência de sete das principais montadoras no Show Rural Copavel, no início do mês que vem em Cascavel, reacende as discussões sobre uma velha reivindicação do setor.
A indústria defende que as exposições agropecuárias sejam realizadas de forma mais espaçada, a cada dois anos. Alega que as empresas não têm tantos lançamentos para apresentar todos os anos e que, como o calendário brasileiro de feiras é muito intenso, os gastos com montagem, transporte de equipamentos e logística acabam ficando muito elevados.
O plano surgiu há pelo menos uma década, mas a última vez que foi levado a cabo foi em 2009, quando a Anfavea, associação que representa os fabricantes, sugeriu aos organizadores da Agrishow que o evento se tornasse bienal. Sem a Anfavea ser atendida, as sete grandes montadoras decidiram não participar da exposição paulista, justamente como ocorre agora em Cascavel. Neste momento, a justificativa oficial para a ausência na feira paranaense passa por uma indefinição de data, o que geraria conflito de calendário com uma exposição gaúcha em Não-Me-Toque.
Além de abrir espaço para as montadoras menores, como vai mostrar reportagem do caderno “Agronegócio” desta terça-feira (12), a decisão das sete grandes empresas que dominam o mercado de ficar de fora do Show Rural levanta outro debate. Teria o processo de renovação brasileira do parque de máquinas agrícolas chegado a seu limite? A série de resultados negativos registrados pelo setor nos últimos dois anos, depois de quase uma década de expansão frenética, sugere que o investimento em renovação, modernização e ampliação da frota pode estar entrando em um ciclo de baixa.
O primeiro segmento a dar sinais de exaustão foi o de tratores de baixa potência, que viveu um boom entre 2006 e 2010, seguindo o lançamento de programas sociais como o Trator Solidário, no Paraná, o Pró-Trator, em São Paulo, e o Mais Alimentos, do governo federal. Equipamentos maiores vinham sustentando a expansão desde então. A taxa média de crescimento das vendas de colheitadeiras foi de 23% ao ano entre 2010 e 2013, índice bem superior à média de 17% que vinha sendo registrada nos quatro anos anteriores. Já a comercialização de tratores desacelerou de 27% ao ano entre 2006 e 2009 para 10% ao ano de 2010 a 2013.
O crédito farto e barato, com prazos mais prolongados e juros subsidiados, permitiu ao Brasil reduzir a idade média de seu parque de máquinas de 12 anos em 2004, para 9 anos. Hoje, aproximadamente um terço da frota brasileira tem menos de cinco anos. Nos últimos dez anos, 442,7 mil novos tratores e 30,5 mil novas colheitadeiras chegaram às lavouras brasileiras, segundo dados da Anfavea. Isso é equivalente a 60% e 67%, respectivamente, da frota total do Brasil em 2006, último ano em que há estimativa oficial disponível (do Censo Agropecuário do IBGE) e ano que marca o início do boom do setor.
Com o mercado saturado após o salto observado nos últimos anos, a indústria vem enfrentado dificuldades desde 2014. De lá para cá, encolheu quase 50%. Vendas domésticas ou produção, seja qual for o indicador escolhido, fabricar e comercializar máquinas agrícolas é hoje metade do negócio que era dois anos atrás. Em 2013, no auge da euforia, as montadoras brasileiras chegaram a tirar de suas linhas de montagem mais de 100 mil tratores, colheitadeiras, cultivadores e retroescavadeiras – quase 83 mil dos quais foram absorvidas pelo mercado interno.
No ano passado, apenas 44,9 mil unidades foram comercializadas no Brasil. Um tombo de 34,5%, após uma queda de 17% já registrada em 2014. Desde 2007, a indústria não vendia menos de 50 mil unidades em um ano. A produção nacional, que havia caído a 82,3 mil máquinas no ano anterior, recuou a 55,3 mil em 2015. A Anfavea não divulga dados de faturamento de suas associadas. Mas o balanço das exportações dá uma mostra do tamanho do baque. Mesmo com o real 48% mais fraco, a receita do setor com as vendas externas foi reduzida quase metade do que era em 2014 – uma contração bem superior ao recuo no número de unidades comercializadas no mercado internacional (27%).
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