Mais uma vez o Ministério da Fazenda zera a Tarifa Externa Comum (TEC) para importação de trigo de fora do Mercosul. Sob a alegação de controle e combate à inflação, o governo brasileiro penaliza a produção e o produtor nacional, afeta a competitividade da triticultura nacional e favorece a indústria em detrimento do campo. Até o dia 15 de agosto os moinhos poderão comprar 1 milhão de toneladas com isenção da tarifa de 10%. Com as restrições de exportação impostas pelo governo da Argentina, nosso principal fornecedor tem sido os Estados Unidos.
Mesmo com a TEC em vigor, de janeiro a maio de 2014 os norte-americanos já mandaram para cá quase 1 milhão de toneladas do cereal, quatro vezes o volume registrado no mesmo período do ano passado. Ou seja, apesar do custo adicional com a tarifa de 10%, o produto dos Estados Unidos consegue chegar às indústrias do Norte e Nordeste brasileiro principais destinos do cereal importado mais em conta que o trigo argentino e até mesmo o trigo produzido no Sul do Brasil, região que concentra mais de 90% da produção interna.
Está certo que o Brasil precisa comprar trigo lá fora. Com uma produção de 7 milhões de toneladas e consumo próximo de 12 milhões de toneladas, não há segredo. Para fechar a conta não tem o que fazer que não seja trazer o trigo de fora. Além de não ser autossuficiente, tem ainda a discussão sobre a qualidade do trigo nacional versus a melhor qualidade do trigo importado. Tudo bem! São fatores que precisam ser considerados. Como também está na hora de considerar que essa dependência, em volume ou em qualidade, só amplia o risco e afeta a soberania do país.
Na prática, o combater a inflação do Ministério da Fazenda é reduzir o preço do produto ao consumidor, com impacto direto na rentabilidade do produtor. Zerar a TEC em plena véspera de colheita aqui no Brasil deve pressionar as cotações, impactar na liquidez e na renda do campo. Tudo isso em um ano de resgate da triticultura e de recuperação do triticultor. Quase que um balde de água fria num ano que poderia ser um marco na retomada do cereal, com área e produção recorde e menor dependência externa na relação oferta e demanda.
Para entender um pouco do raciocínio, é preciso ter preço para ter volume e buscar a qualidade. O que significa que é preciso ter uma política agrícola ao trigo. A cotação da saca de 60 quilos do cereal, na praça do Paraná, fechou a sexta-feira cotada a R$ 42,26. A média do mês de junho de 2013 foi de R$ 39,17. Mas as médias dos mesmos meses em 2012, 2011 e 2010 foram de R$ 25,81, R$ 26,41 e R$ 22,78, respectivamente. Em termos de preço, o setor passa, então, por um bom momento. Mas nem sempre ou quase nem sempre foi assim. Muitas vezes o preço recebido pelo produtor nem sequer cobriu os custos de produção.
Aí o desafio e a contradição, que está em controlar o impacto na inflação pelo suposto preço do trigo ao consumidor, conforme aponta o Ministério da Fazenda, e garantir renda no agronegócio, o setor que sustenta entre outros índices o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o superávit da balança comercial brasileira.
Oportunidade e risco
Apesar de rebaixar a produtividade média da safra total de soja no estado, o fim da safrinha adiciona quase 200 mil toneladas da oleaginosa à produção paranaense no ciclo 2013/14, com rendimento em torno de 1,8 mil quilos/hectare. Preço e liquidez do mercado estimularam a ampliação da área, que foi a 108 mil hectares, extensão recorde e 34% maior que no ano passado.
Na atual temporada o rendimento médio das duas safras recua a 48 sacas, ou 2,9 mil quilos/ha, contra 3 mil quilos obtidos no verão, a primeira e principal safra. No ano passado a média foi de 3,35 mil quilos/hectare. Segundo a Expedição Safra, o Paraná encerra o ciclo com 15,12 milhões de toneladas de soja, volume em torno de 6,5% menor que em 2012/13. Ainda assim um bom resultado, a considerar os problemas de clima enfrentados na safra em janeiro e a menor produtividade da safrinha.
Com a safrinha de soja vem sempre a preocupação agronômica, da proliferação de pragas e doenças, em especial da ferrugem asiática. A oportunidade de mercado, que leva ao cultivo de soja sobre soja, onde muitas vezes a oleaginosa de inverno ocupa a mesma área do verão, também amplia os riscos. Por isso a necessidade do respeito ao vazio sanitário, medida que proíbe o cultivo entre 15 de junho e 15 de setembro, carência usada como forma de limpar a área para o próximo cultivo de verão.
Com 120 mil hectares de soja safrinha, Mato Grosso lidera o ranking da segunda safra. A expectativa de produção nacional da segunda safra de soja está próxima de 600 mil toneladas. Em tese, por conta do vazio sanitário, a colheita deve ter sido encerrada na semana passada. A Expedição Safra estima uma produção total de soja em 2013/14 de 87,10 milhões de toneladas.
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