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A volta dos leilões de trigo com o pagamento de prêmio ao escoamento do produto não poderia ter ocorrido em hora melhor. O volume ofertado versus o trigo negociado no primeiro leilão do ano, na última sexta-feira, revela a importância desse instrumento de comercialização. Mais do que isso, a operação surpreendeu pela liquidez dos contratos. Com um certo deságio, é verdade, mas foram co­­mercializados 98% do total de 360 mil toneladas colocadas à venda. O ônus do deságio é do dono do produto, que na maioria absoluta dos casos acaba sendo o agricultor. Na outra ponta, porém, é um sinal de que há demanda e que o trigo da última safra está represado nos armazéns. E não é por falta de mercado. O problema é a falta de preço e de competitividade do trigo nacional, mais por questões de lobby e interesses da indústria do que necessariamente de qualidade do produto nacional.

No momento em que a Região Sul contabiliza as perdas provocadas pela estiagem, os leilões para escoar o trigo da safra anterior chegam como um alento ao campo. Não deixam de ser uma fonte de capitalização àqueles produtores que registraram perdas significativas, nas áreas mais afetadas pela falta de chuva, como o Oeste e Sudoeste do Paraná e o Rio Grande do Sul. Esses também são os estados que concentram, juntos, mais de 90% do trigo nacional. Se in­­cluirmos Santa Catarina, 95% do cereal produzido no ano passado, safra 2010/11, saíram de campos dos três estados do Sul do Brasil. Esse foi o ano em que o Paraná reduziu área e também teve problemas com o clima que reduziu o potencial produtivo das lavouras. Outra conseqüência foi a perda da liderança, pela segunda vez em 10 anos, para os gaúchos. Ainda assim, uma diferença pequena, inferior a 250 mil toneladas.

Em resumo, no ano passado o Rio Grande do Sul produziu mais trigo em uma área menor que a do Paraná. Ou seja, independente de preço e mercado, o Paraná enfrentou problemas maiores que o seu concorrente direto no desenvolvimento da safra. Merecia, portanto, atenção maior do poder público em qualquer que fosse o tipo de apoio para fazer frente às adversidades climáticas e financeiras, como agora, com os leilões para auxiliar a comercialização. Na prática, no entanto, a regra se mostra outra, sem critérios proporcionais e respeito à distribuição de mercado. A cotação atual do cereal, abaixo do preço mínimo, é comum e linear à produção nacional. Con­­tudo, o produtor que enfrentou e enfrenta maiores problemas de rentabilidade com o trigo é o paranaense, a julgar os prejuízos climáticos.

Quem deveria receber apoio maior, portanto, seria o Paraná. Mas benefício maior, pelo menos nesse primeiro leilão do ano, foi para o Rio Grande do Sul. O estado do extremo-sul garantiu subsídio para escoar 205 mil toneladas, enquanto que o Paraná para apenas 120 mil toneladas. Com o volume total ofertado foi de 360 mil toneladas, 57% ficaram com os gaúchos e 33% com os paranaenses. A diferença porcentual no volume ofertado entre os dois estados é muito superior à margem na produção. Então, não apenas por conta dos problemas com o clima, mas principalmente na relação proporcional de mercado o Paraná deveria receber recursos para um volume maior de escoamento, ou pelo menos similar ao do Rio Grande do Sul. Pura e simples matemática. Para constar, ano passado a safra rendeu, 2,74 milhões de toneladas ao RS e 2,5 milhões ao PR.

Teoricamente os leilões devem seguir critérios técnicos, é óbvio. Mas como tudo no Brasil, na prática o peso político também faz a diferença. Aparecem então as distorções, que nem mesmo os técnicos, do próprio governo, no caso da Com­­panhia Nacional do Abaste­­ci­­men­­to (Conab) compreendem. Na verdade, técnicos ou políticos são critérios fáceis de entender. Difícil mesmo é explicar, a considerar que quando envolve política envolve deputados, senadores e ministros. Suas bases, relações e interesses. É quando a técnica, a proporção e a matemática têm suas próprias regras. Critérios que nem sempre, ou quase nunca, seguem a lógica, o bom-senso e distribuição proporcional e justa dos recursos públicos. De qualquer forma os leilões estão de volta, para ajudar o produtor não deste ou daquele estado, mas a agricultura do país. Não que isso seja um consolo ao Paraná, mas é importante saber que bem ou mal o governo está atento.

Ao Paraná resta discutir o modelo do último leilão, trabalhar para mudar as regras e participar de uma forma mais técnica e justa do processo. Tarefa para as entidades de representação dos produtores e das cooperativas que, na verdade, estão fazendo sua parte. Se o leilão da sexta-feira aconteceu e outros devem ser programados, isso deve ser creditado à mobilização dessas entidades. O que falta, talvez, seja um lobby mais forte e corporativo dos parlamentares do Paraná junto ao Ministério da Agricultura. Os números estão aí, contra os quais não há argumento, pelo menos técnicos. O que pode faltar então é pressão política. Não vamos esquecer que mais do que deputados e senadores, os gaúchos tem ninguém mais do que ministro da Agricultura, Mendes Ri­­beiro.

Na operação de sexta-feira o Paraná vendeu 119.450 toneladas, de uma oferta de 120 mil toneladas. Do lote de 205 mil toneladas ofertadas pelo Rio Grande do Sul, foram comercializadas 201.820 toneladas. Em volume absoluto, no país foram comercializadas 351.270 toneladas, 98% do total colocado à venda. Somado ao leilão realizado em novembro de 2011, o governo federal fez a equalização de 974 mil toneladas, o equivale a 16% da safra.

O Paraná ainda tem mais de 2 milhões de toneladas da safra passada passíveis de comercialização. O próximo leilão está programado para a próxima sexta-feira. Então, se for para fazer alguma coisa por uma distribuição mais proporcional, a hora é agora.

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