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Giovani Ferreira

No campo, a festa é da colheita

 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
(Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

O país do carnaval também é o país do agronegócio, graças a Deus! E se na Sapucaí tudo acaba em samba, tudo bem. É uma questão de escolhas, que têm a ver com pontos de vista. Ou de princípios, talvez. Mas no campo isso é diferente. Em vez de carros alegóricos, desfilam tratores e colheitadeiras. Na lavoura, a festa é da colheita, que resgata e enaltece uma vocação natural do país, de produzir alimentos e energia, desenvolvimento econômico e social.

No momento em que o Brasil vive uma das suas maiores crises institucionais, é do campo e do agronegócio que vem o alento à economia nacional. É o único setor com saldo positivo na geração de empregos, único segmento com o Produto Interno Bruto (PIB) no azul e também o principal – ou o único – responsável pelo saldo positivo da balança comercial.

Então, não acredito, portanto, que a Imperatriz Leopoldinense tivesse a real noção do impacto que o samba enredo Xingu – O clamor que vem da floresta iria provocar. Até porque, aparentemente, eles nem sabem do que estão falando. Pelo menos não da dimensão contextual que envolve a temática. Está claro que não entendem nada de agronegócio, não conhecem os números do segmento e muito menos sobre a relevância econômica e social do setor.

A escola pode até entender de samba e carnaval, condição primeira para estar na Sapucaí – embora essa correlação também seja questionável. E não há nenhum problema em trazer para a avenida interpretações culturais, tradições e inquietações sociais. Isso faz parte do samba e do carnaval. É crítica social e expressão cultural. É festa popular.

Só não dá para fazer isso com sugestões, insinuações e ilações. O meio ambiente e a questão indígena, motivações primeiras da Imperatriz, estão relacionados à própria urbanização, ao desenvolvimento e modernização do país. Não apenas ao agronegócio, às usinas hidrelétricas, ao índio ou à floresta. Mas à sociedade. E uma sociedade que precisa de alimentos e energia, de conforto e qualidade de vida, de segurança alimentar. É questão de sobrevivência, econômica e social. E de soberania.

O levante do agronegócio, portanto, é tão legítimo quanto a liberdade de expressão da Imperatriz. Não é o agronegócio contra o samba. E muito menos contra o carnaval. A manifestação é contra a injustiça que se comete quando não se contextualiza a discussão. A escola defende o índio e a floresta e condena o uso de agrotóxicos. Agora eu pergunto: quem, em plena e sã consciência, iria contra isso? O tema, portanto, é apelativo. Mas não precisa ser sensacionalista.

O que o agronegócio questiona, e assim se posiciona, é que o enredo aponta o dedo sem critérios, sem contar a história toda. Não mostra, por exemplo, que 60% do território brasileiro é coberto por vegetação nativa e que boa parte dessa área é de reservas indígenas. E que, ainda, o país é o maior exportador do agronegócio, atende a demanda interna e boa parte da necessidade mundial de proteínas animal e vegetal. E que essa é uma atividade sustentável, com tecnologia e respeito ao meio ambiente.

Problemas existem, no campo e na Sapucaí. Então, vamos nos respeitar. Contextualizar, não insinuar. Trazer números e comparar. Precisamos preservar o meio ambiente e respeitar o direito do índio. Mas também precisamos produzir e alimentar. Precisamos viver e conviver. Ser sustentáveis, do ponto de vista socioeconômico e ambiental, inclusive na avenida.

Sem dúvida o samba da Imperatriz cumpre seu papel quando o objetivo é questionar. Contudo, também remete a uma pergunta, ou a uma escolha. O que será que tem mais a ver com o Brasil? O samba ou o agronegócio?

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