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A atividade agrícola e pecuária está na iminência de uma verdadeira revolução tecnológica no Brasil. Está prestes a ingressar em um novo mundo, que partilha conhecimentos e oportunidades, amplia horizontes e mergulha no universo digital. Uma transformação movida pelo conhecimento, pelo acesso à informação, qualificada e capaz de formar opinião, subsidiar a tomada de decisão, apontar erros e ditar tendências. Pura ousadia, mas que vai encontrar apoio e demanda. A iniciativa, do governo federal. O apoio, do setor produtivo. A demanda, certa e segura, de quem vive ou trabalha na zona rural. A ferramenta, o computador, o telefone e a internet. É o campo em busca de seu lugar ao sol, de sua inclusão digital, do mundo competitivo e globalizado.

Uma necessidade e um desafio, que ganha agora um plano e um jogador estratégico, chamado Ministério das Comunicações. Em reunião de governo realizada na última terça-feira, em Brasília, o ministro Paulo Bernardo chamou representantes da cadeia produtiva do agronegócio para tornar pública a iniciativa. O objetivo foi abrir a discussão, apresentar o modelo considerado mais viável à realidade brasileira – sob a ótica do ministério – e convocar uma força-tarefa para elaborar o edital de seleção da empresa vai prestar o serviço. Também participaram do encontro representantes de outras áreas do governo, como Casa Civil, Ministério da Agricultura, Embrapa e Banco do Brasil. A intenção é licitar o serviço em abril de 2012, na forma de leilão público em busca do melhor preço para o consumidor final.

A tecnologia proposta pelo governo é a de radiodifusão, na faixa dos 450 MHz, através da qual seriam instaladas bases com antenas ou torres de fre­­quência em distritos ou comunidades rurais. A partir dessa estrutura, o sinal cobriria um raio de 35 quilômetros – podendo chegar a 90 quilômetros – para o atendimento individual. Contudo, a aderência não se restringe ao produtor rural. A solução tecnológica pode ainda ser incorporada a áreas urbanas de baixa densidade demográfica. Na medida em que permite mobilidade, seria um caminho para a expansão da telefonia celular.

Atualmente, a cobertura tanto na área rural quanto urbana pouco densa é deficiente por falta de interesse das operadoras. Não há, na verdade, interesse econômico, por falta de escala para remunerar o serviço. No caso da faixa de 450 MHz, há um componente diferenciado que permite ampla cobertura. Uma torre consegue ter um raio de atendimento maior que outras faixas de frequência, característica que dilui o custo de implementação do serviço.

O objetivo é o desenvolvimento econômico, dando mais competitividade ao campo. Mas também há um componente social forte e marcante, que vai do combate ao êxodo rural à qualidade de vida da população rural. Um projeto como esse vai atender o produtor, mas também a escola e o posto de saúde da comunidade. Pode, inclusive, fomentar a geração de emprego, com a instalação de empresas que demandam commodities agrícolas. Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum encontrar usinas de etanol de milho no meio das lavouras do cereal. Quase no meio do nada, mas conectadas com mundo, com telefone, internet e outras comodidades propiciadas pelas telecomunicações.

Se necessário for, o serviço será de certa forma subsidiado pelo governo federal. Várias etapas podem ser desoneradas de tributos federais, da compra do equipamento à assinatura do serviço, assim como a operação do negócio pelo fornecedor. A compensação virá no desenvolvimento das áreas que vivem em zonas cegas, praticamente sem comunicação, mas que têm potencial para gerar ou ampliar renda. Ou simplesmente qualificando seu produto ou serviço, sua relação e principalmente comunicação com o mercado e o mundo. Sem dúvida, uma nova era, que insere o Brasil num ambiente de gente grande, que posiciona o país e sua gente em um novo status, de respeito, competências e potenciais. Segundo estudo do Ministério das Comunicações, 55% dos domicílios rurais têm telefone, mas apenas 6% são contemplados com internet.

Nem tudo estará resolvido, é verdade. Telefone e internet são apenas alguns dos gargalos do agronegócio brasileiro. Quero crer, no entanto, que com a comunicação será mais fácil desencadear outros movimentos, fomentar renda e arrecadação e, a partir de resultados, promover outras transformações. Acredito que inserir o Brasil rural no mundo digital é um bom começo, está no topo da lista das prioridades do agronegócio. Mas que a comunicação possa abrir caminho para outros avanços, como na área de logística, fator que limita sobremaneira a expansão do setor e por consequência da economia brasileira. Com comunicação, armazéns, estradas e ferrovias, aí sim vai ser difícil segurar esse país.

A segmentação rural das telecomunicações consta do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que até 2015 pretende levar internet para 70% dos domicílios brasileiros, contra 33% atualmente. Para constar, um estudo do Banco Mundial revela que, em países em desenvolvimento, para cada 1 ponto porcentual de aumento da penetração do serviço de banda larga, haveria aumento de 0,138 ponto na taxa de crescimento do PIB per capita.

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