O mais difícil será fazer a lição de casa, que não é produzir, mas criar as condições e o ambiente favorável à produção, desafio que passa pelo público e pelo privado, pelo governo e pelo produtor.

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Os principais indicadores do agronegócio em 2012 revelam que o ano foi bom não apenas para o setor como também para a economia brasileira. Oferta e demanda, produção, preço e mercado aqueceram os negócios de ponta a ponta da cadeia produtiva. Com raras exceções, como é o caso do setor de carnes, o agro não apenas fez a sua parte como teve contribuição expressiva na composição do Produto Interno Bruto (PIB). Não fosse o desempenho do campo, o crescimento do país poderia ser bem pior. Se vamos fechar as contas de 2012 com um PIB abaixo de 1%, abençoado seja o agronegócio, sem o qual esse resultado certamente seria negativo. Basta ver os números do terceiro trimestre, quando a variação do PIB foi 0,6% e a do agronegócio superou os 2%.

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Aliás, todos cenários para o Brasil econômico em 2012 seriam de recessão não fosse o incremento de renda que veio da atividade agrícola. Exemplo claro está na balança comercial, que segue pelo 12.º ano consecutivo sustentado pelas transações do agro. Reportagem publicada pela Gazeta do Povo na semana passada (28/12) mostra que nesse período em apenas duas ocasiões o superávit do agronegócio só não foi maior que o saldo da balança comercial. Isso ocorreu em 2005 e 2006, quando os demais segmentos que integram a pauta conseguiram se virar sozinhos. Detalhe importante nesse histórico é que antes de o agro assumir a responsabilidade, entre 1995 a 2000 as contas fecharam no vermelho, com o país exportando menos e importando mais.

Em 2012, entre janeiro e novembro, o superávit do campo é de US$ 73 bilhões do campo, podendo facilmente fechar o ano acima dos US$ 80 bilhões. E olha que a produção agrícola não tem nada a ver com geladeira ou automóvel. Não faz parte do rol da linha branca ou do automobilístico, que tiveram boa parte de suas vendas sustentadas pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). No agronegócio o estímulo veio dos fundamentos, da redução na oferta e da demanda em alta. E apesar de colaborar com o governo ao segurar uma queda ainda maior na previsão do PIB, não recebeu nenhum benefício ou ajuda extra para retribuir sua contribuição.

De qualquer forma, não dá para se queixar. O Plano Agrícola e Pecuário 2012/13, que reúne as ações do governo voltadas ao setor, não é o ideal e está longe de ser. Mas não dá para negar que é uma ferramenta importante no suporte à produção. A avaliação de que a falta de uma política pública condizente faz com que o setor ande sozinho não está errada. Como também é verdade que sem o apoio do governo o crescimento do setor estaria limitado, sem condições de avanços significativos, como o esperado para este ciclo. A produção de grãos tem potencial para atingir 185 milhões de toneladas, quase 20 milhões de toneladas adicionais na comparação com a temporada anterior, quando o país colheu perto de 166 milhões de toneladas.

Ou seja, se há uma variação desse porte em apenas uma safra é porque há preço, mercado, área, tecnologia e principalmente crédito para financiar custeio e comercialização. Um crédito público ou privado que tem origem basicamente em única fonte, o Plano Agrícola e Pecuário, que bem ou mal é formulado, executado e administrado pelo governo federal. Parece pouco diante do potencial espelhado pelo setor. Mas é o que temos e que precisamos melhorar: evoluir de um plano agrícola para uma política agrícola. Esse o nosso desafio.

E talvez não haja momento melhor para essa reflexão. Os números de 2012 ou então dos últimos 10 anos mostram o quanto o agronegócio é essencial à economia brasileira. Os próximos anos não serão diferentes, a começar por 2013, quando o Brasil desse assumir um papel ainda mais relevante no comércio internacional de commodities agrícolas. Vamos usar de exemplo a soja, que depois do petróleo é a commodity com maior liquidez no mundo. A produção mundial é 260 milhões de toneladas, sendo que mais da metade está aqui, na América do Sul, liderada pelo Brasil, que concentra mais de 70% da oferta da oleaginosa no bloco sul-americano.

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Então, a oportunidade está posta. O mais difícil será fazer a lição de casa, que não é produzir, mas criar as condições e o ambiente favorável à produção, desafio que passa pelo público e pelo privado, pelo governo e pelo produtor. Se em 2012 o agronegócio foi o fiel da balança, em 2013 o setor entra num processo de consolidação, superação e inserção do campo à atividade econômica brasileira. A esperança é que não apenas o Ministério da Agricultura, como o da Fazenda e o próprio Executivo possam enxergar dessa maneira. Essa é a oportunidade, mas que impõe um grande desafio.