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Giovani Ferreira

Pauta de infraestrutura e mercado

O levantamento técnico-jornalístico realizado pelo Agronegócio Gazeta do Povo está na estrada novamente para acompanhar um novo ciclo produtivo. Duas equipes percorrem a partir de hoje Paraná e Mato Grosso, estados que lideram o ranking nacional de produção. Juntos, os dois estados respondem por mais de 40% da soja e do milho do país, com mais de 80 milhões de toneladas das 160 milhões que as duas culturas juntas rendem no Brasil. Outro número expressivo que está no radar dos técnicos e jornalistas da Expedição é o potencial produtivo inicialmente estimado para a temporada, que pode atingir uma safra total de 200 milhões de toneladas.

Nesse sentido, uma das principais motivações da Expedição neste ciclo é a discussão sobre mercado. Além dos dados estatísticos e todas as suas variáveis, como infraestrutura, clima e tecnologia, o projeto reforça a sondagem com a temática "expansão que desafia preço, mercado e sustentabilidade". Um foco que se justifica, basicamente, porque a produção que cresce ainda precisa encontrar mercado. As intensas variações em volume de produção verificadas nas últimas safras acendem a luz vermelha da infraestrutura e nos remetem à reflexão sobre se este é ou não um crescimento sustentável. Em apenas três anos, a se confirmar o potencial da safra 2013/14, a produção nacional de grãos terá crescido 35 milhões de toneladas.

Há dez anos, o movimento dessas variações era 2, 3 até 5 milhões de toneladas entre uma safra e outra. Agora, acima de 10 milhões de toneladas. No último ciclo, por exemplo, foram 20 milhões de toneladas adicionais, enquanto que o desempenho da temporada atual pode superar em 15 milhões de toneladas a safra anterior. Mas será que o Brasil está preparado para isso? O questionamento é no sentido mais amplo da palavra. E não estamos falando apenas de logística – armazenagem e escoamento da produção. A questão prioritária aqui é mercado, consumo interno e demanda internacional. De nada adianta produzir se não tem para quem vender.

Esta coluna mostrou em datas anteriores que o Brasil consolida sua posição como primeiro produtor e exportador mundial de soja. Esse talvez seja o nosso maior trunfo, o porto seguro do agronegócio brasileiro, a julgar a liquidez espelhada pelo produto no ambiente globalizado. Mas o que fazer com o milho? Outra cadeia estrutural, embora uma cultura onde o Brasil ainda enfrente dificuldades para se consolidar fora do mercado doméstico, além da transformação em proteína animal. Ocorre, que hoje a oferta do cereal cresce muito acima da produção de carnes e precisa, portanto, de novos mercados para dar vazão a um volume anual que se aproxima das 80 milhões de toneladas, das quais pouco mais de 50 encontram espaço no mercado interno.

De qualquer forma, à soja ou ao milho, não há outra saída que não seja encontrar novas destinações à crescente produção. O consumo interno cresce, mas de maneira orgânica, aquém da oferta. É preciso, então, discutir alternativas, como faz o Mato Grosso com as usinas de etanol de milho. Assim como os Estados Unidos, o Brasil começa a investir na produção do biocombustível a partir do cereal. As primeiras usinas que estão em funcionamento no Centro-Oeste alimentam a esperança de ter, no milho, assim como na soja, outra importante e relevante cadeia do agronegócio brasileiro. Existe área e tecnologia para dobrar a produção de milho. Mas não dá para fazer isso sem mercado. E se não existe demanda, é preciso criar essa demanda, como faz o Mato Grosso.

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