Em agosto (24), serão 20 anos da primeira resolução que destinou recursos específicos e, de certa forma, reconheceu oficialmente a agricultura familiar no Brasil. Um grupo que, a depender do critério adotado para a classificação, em alguns estados representa mais de 80% de todos os produtores em atividade. Do tamanho da área à renda anual ou porcentual de mão de obra familiar empregada na propriedade, eles são pequenos, mas são muitos e com certeza estão em maioria.
“Um dos grandes desafios e também diferenciais do segmento está na diversificação. Com uma área relativamente pequena, que vai de 2 a 100 hectares, esse produtor precisa ser mais diversificado que o grande pecuarista ou agricultor.”
Particularmente, enxergo certo conflito na distinção entre pequenos e grandes, de agricultura familiar e empresarial. Estamos falando de escalas diferentes, é óbvio. Mas de um único conceito. Embora na prática seja compreensível que há a necessidade de apoio e atenção diferenciada para quem tem 100 e aqueles que têm 1.000 hectares. De qualquer forma, política social ou não, conveniência ou não, o fato é que existem duas maneiras de encarar não a agricultura, mas o agricultor no Brasil.
Nestas duas décadas, foram destinados R$ 220 bilhões em crédito à promoção desse extrato da economia rural. A grande ferramenta, que antecede inclusive o Plano Safra da Agricultura Familiar (2003), é o Pronaf, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Uma estratégia que conferiu um novo status ao pequeno produtor. Hoje, discutir a agricultura familiar é discutir o futuro do abastecimento e da segurança alimentar, a considerar sua crescente e relevante participação na produção de alimentos.
Não se fala mais em agricultura de subsistência, mas de negócio que gera emprego, renda e receita que movimenta economias regionais, que combate o êxodo rural e que leva dignidade e sustentabilidade ao campo. Do frango ao leite, dos hortifrutigranjeiros ao feijão com arroz, esse pequeno produtor participa de um grande negócio. Está mais presente no dia a dia dos centros urbanos do que muita gente imagina. Em algumas cadeias, mais da metade da produção vem da agricultura familiar.
Um dos grandes desafios e também diferenciais do segmento está na diversificação. Com uma área relativamente pequena, que vai de dois a 100 hectares, esse produtor precisa ser mais diversificado que o grande pecuarista ou agricultor. E não é opção, mas condição para a sobrevivência: 90% da produção nacional de mandioca e 50% do milho estão nas mãos dele. Embora a agricultura familiar esteja presente nas grandes commodities, típicas das grandes áreas, o setor produz, por exemplo, 20% da soja brasileira.
Estima-se que o Sul do país tenha um milhão de propriedades da agricultura familiar. No Paraná, seriam 320 mil. O nosso estado e o Rio Grande do Sul são os que têm maior presença e concentração de pequenos produtores. Como referência, dos R$ 23,8 bilhões aplicados pelo Plano Safra da Agricultura Familiar 2014/15, R$ 5,6 bilhões ficaram com os gaúchos e R$ 3,5 bilhões com os paranaenses.
Expedição
Para destacar e desvendar esse mundo, em agosto o Agronegócio Gazeta do Povo lança a Expedição Safra da Agricultura Familiar. Com o tema “A revolução silenciosa e sustentável da agricultura brasileira”, jornalistas e técnicos das entidades apoiadoras vão percorrer seis estados brasileiros para dimensionar e apontar tendências do setor. No roteiro, todos os elos da cadeia produtiva da pequena propriedade, com visitas a campo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia.
Com uma metodologia baseada em pesquisa e incursão a campo, o projeto pretende apontar a participação da agricultura familiar na produção agrícola e pecuária, desmistificar o conceito de agricultura de subsistência, destacar os níveis tecnológicos e de gestão, discutir a diversificação como condição, fortalecer a estratégia de combate ao êxodo rural e debater os avanços e desafios.
Dia do Agricultor
Como nesta terça será o Dia do Agricultor, fica aqui nossa homenagem e reverência não ao agricultor empresarial ou familiar, mas aos homens e mulheres que fazem o Brasil a partir do campo. Que fazem do nosso país o segundo maior exportador mundial de alimentos e energia. Mais do que isso, que respondem por um setor que está segurando as pontas na balança comercial e evitando uma recessão ainda mais profunda da economia brasileira.
Se você é grande ou pequeno, ou simplesmente faz parte dessa cadeia produtiva, direta ou indiretamente, não importa. Sinta-se orgulhoso e homenageado. Este é o seu dia. É o dia do Brasil.
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