Prestes a definir suas apostas para temporada 2011/12, o agronegócio brasileiro se volta para o extremo Sul do país, onde uma das feiras mais tradicionais do setor testa e orienta o mercado e o produtor. Aberta no sábado, a Expointer, que ocorre em Esteio, na Grande Porto Alegre, de certa forma desafia a crise internacional protagonizada pelos Estados Unidos e Europa. Dos corredores do comércio em geral às baias dos animais e pátios de exposição de máquinas e equipamentos agrícolas, a pergunta que não quer calar é: até onde a recessão européia e norte-americana deve influenciar a economia interna? Pergunta que deve ser respondida com números, ao longo da semana, de público e prospecção de negócios.
Cauteloso, o governador Tarso Genro, logo na abertura do evento, tratou de conter a ansiedade, embora não o otimismo. Disse que repetir o resultado recorde do ano passado pode ser considerado um excelente desempenho. Em 2010, estima-se que a feira movimentou R$ 827 milhões, impulsionada pelos programas públicos de incentivo à mecanização agrícola e redução de IPI na compra de automóveis. Mas os fabricantes estão empolgados. As políticas públicas podem não fazer tanta diferença como no ano anterior, mas, com preço e mercado aquecido, as commodities devem fazer a diferença. Demanda alta e oferta apertada mantém a saca da soja perto de US$ 30 e a do milho em US$ 17 em Chicago, cotações que criam um ambiente favorável aos negócios para, no mínimo, repetir a edição anterior.
No caso de positivo, o balanço da exposição virá a confirmar que a economia agrícola segue sustentada no Brasil e no mundo. E que, na atual fase de turbulências das economias globalizadas, o segmento tem mais base em fundamentos e menos em especulação, o que pode ser um bom sinal diante da retração que ronda o planeta.
Os fundos de investimento e o capital especulativo continuam atuando. Contudo, pelo menos por enquanto, sem influenciar de maneira decisiva aspectos de conjuntura. Bom para o setor e a economia brasileira, que aos poucos começa a ter participação mais ativa nas relações de oferta, demanda e formação de preço no comércio internacional de grãos realidade que confere maior competitividade à agricultura da América do Sul.
Mas não será fácil fazer essa economia girar. O convencimento do produtor, ou do consumidor, requer muita habilidade, soluções e inovações que realmente façam a diferença, justifiquem o investimento e o risco. Cientes dessa condição, as montadoras de máquinas agrícolas que estão na Expointer renovam sua aposta nos pequenos produtores. Os tratores de baixa potência sensação do mercado em 2010 continuam com os mesmos cavalos. A diferença está na oferta combinada de um pacote tecnológico, que promete uma nova revolução na agricultura familiar. A primeira foi a da mecanização. O desafio agora é levar agricultura de precisão para essas pequenas áreas. O grande produtor e a grande propriedade compram máquinas grandes e potentes. Mas os pequenos produtores e as pequenas máquinas é que geram escala.
A feira, no entanto, não é só agro. A partir dessa temática, a exposição também é cultura e tradição, é urbana e rural, como poucas no Brasil. Um termômetro não apenas da agricultura, como da economia de um modo geral. Assim sendo, que ela possa ser o prenúncio de uma boa safra de feiras e exposições Brasil afora, do Rio Grande do Sul a São Paulo, na Agrishow, passando pelo Show Rural, ExpoLondrina e Expoingá, no Paraná. Cada uma do seu jeito, com seu estilo, público e identidade, mas com um único objetivo: promover, integrar e fortalecer campo e cidade, o desenvolvimento econômico e o social.
Se o agronegócio será ou não afetado pelas crises internacionais, somente o tempo vai dizer. O importante é não ficar sentado esperando a tempestade chegar. O momento é tenso, de incertezas e dificuldades, mas também de oportunidades. Se realmente pretende ser um dos protagonistas da nova era da economia agrícola mundial, o Brasil precisa de foco e planejamento. E talvez esta seja a hora. Não de colocar o pé no freio, mas de ousadia e determinação.
E se for para ser, que seja agora. Que comece pela Expointer onde os bancos prometem colocar R$ 1 bilhão à disposição dos produtores e contagie o país.
É pagar para ver!