O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, divulga nesta quarta-feira, dia 12, mais um relatório de acompanhamento das lavouras no país, que neste ano são castigadas por uma das maiores e mais severas estiagens das últimas décadas. O documento ganha relevância ao confirmar aquela que também deve ser uma das maiores quebras de safra no Hemisfério Norte. Entre soja e milho, serão mais de 120 milhões de toneladas perdidas para o clima (de um total de 460 milhões de toneladas), estimativa que deve ser sacramentada hoje à tarde pelo USDA. Como não há mais tempo e nem clima para reverter essa tendência, a expectativa com os números deve movimentar a Bolsa de Chicago de maneira bastante intensa neste início de semana. Contudo, uma variação que entra num período de acomodação, a considerar que o mercado passa a trabalhar com um cenário praticamente definido nos Estados Unidos.
Os olhos se voltam então à aposta na América do Sul, em especial no Brasil, no cultivo do próximo ciclo, que começa a ser implantado a partir da próxima semana. A especulação sai do Norte e se concentra no Sul. Não é mais o número da colheita nos Estados Unidos, mas do plantio no Brasil e na Argentina que vai conduzir e direcionar o mercado pelo menos até dezembro. É o clima por aqui que vai definir o cenário de preço, oferta e demanda internacional de commodities agrícolas. A única coisa certa por agora é o recuo nas cotações. Bem ou mal, grande ou pequena, a safra norte-americana começa a chegar e diminui o impacto da entressafra. As exportações dos Estados Unidos serão menores, é verdade. Mas não vão cessar, provocando uma sensação, mesmo que falsa, de alívio e fôlego no comércio internacional, principalmente de soja.
De qualquer forma, no patamar em que os preços estão, falar em redução ou acomodação não significa cotações achatadas ou que possam ameaçar a rentabilidade. É bem provável que dentro de pouco tempo, questão de semanas, a saca de soja no Brasil volte a ser trabalhada entre R$ 55 e R$ 60. Bem diferente da máxima de R$ 85 verificada na sexta-feira em Ponta Grossa. Mas também bem distante do custo direto (desembolso) que flutua entre R$ 26 e R$ 29. O milho, que na semana passada registrou máxima de R$ 31/saca, também em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, pode vir a R$ 25 ou talvez R$ 24. Ainda assim, realidade que estimula o plantio, o investimento em ampliação de área e tecnologia e com segurança. Não apenas de preço, mas de uma cotação sustentada em fundamentos, de oferta reduzida, demanda em alta e estoques praticamente zerados.
Definitivamente, preço não será um problema a ser administrado na próxima safra brasileira. Até porque, o Brasil deve dar a largada no plantio 2012/13 com pelo menos 50% safra comprometida. Sem antes mesmo de iniciar o plantio, o país já comercializou mais da metade da produção estimada. Aproveitou e aproveita cotações que vão fazer a diferença na média de comercialização e na rentabilidade da produção. Pode ter certeza que ninguém, de Norte a Sul, do Rio Grande do Sul ao Piauí, por exemplo, realizou negócios abaixo de R$ 50/saca de soja. Tem produto e produtor com negócios para entrega em março acima de R$ 60/saca. Teoricamente é plantar, colher e correr para o abraço. O mercado está atrativo, o clima não deve atrapalhar e o produtor está confiante.
A dificuldade maior, ou talvez a única dificuldade, será dar vazão à uma safra com potencial recorde de área, produção e produtividade. A oportunidade também traz problemas, expõe gargalos e exige manobras para que o setor não entre em colapso. Não haverá caminhão, trem e armazéns suficientes. A estrutura portuária é limitada e no Brasil os modais logísticos não se conversam. Casar plantio, colheita, armazenagem ou escoamento será o grande desafio da temporada. Na realidade da infraestrutura do Brasil, não há programação ou manejo que resista a 180 milhões de toneladas de grãos (previsão 2012/13). Mas se cada um fizer sua parte, temos de acreditar que será possível amenizar esse impacto, combater o custo Brasil e garantir nossa competitividade.
A tarefa, no entanto,não é simples. Ela requer esforços individuais, mas também coletivos, de agentes públicos e privados. Está diante do Brasil a grande oportunidade de mostrar ao mundo sua capacidade de responder e atender, rapidamente, a uma demanda internacional por estabilidade não apenas de preço, mas de oferta e demanda, não de bens materiais, mas de comida, de abastecimento e segurança alimentar. É mais do que econômico. É social. Só não podemos deixar que a oportunidade se transforme em problema.
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