Um desencontro de informações, prazos e processos coloca em risco as exportações de carne suína do Paraná. O estado está no limite do prazo para cumprir os protocolos necessários ao reconhecimento internacional de área livre da peste suína clássica, também conhecida como febre suína ou cólera dos porcos. Terceiro no ranking de produção e exportação, o Paraná e outros 15 estados brasileiros são reconhecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como livres da enfermidade desde 2001. Ocorre que a partir de maio de 2015 a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) passará a conceder o status em nível mundial, ambiente onde os padrões são mais rígidos e podem suspender os embarques do Paraná. O status será condição à exportação.
O estrago poderia ser ainda pior, não fosse recente mobilização do setor produtivo paranaense. O Mapa estava prestes a enviar à OIE os pedidos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estados que lideram os embarques, respectivamente sem que o Paraná fosse incluído na solicitação. O estado não teria cumprido as exigências e preenchido os relatórios exigidos pela OIE. Assim como os gaúchos e catarinenses, o Ministério da Agricultura alega que Paraná teve um largo período, mais de cinco anos, para adequar sua fiscalização e procedimentos sanitários. Mas não o fez. Por burocracia, desencontros ou desinformação, o fato é que o estado sequer questiona a posição do Mapa. De certa forma admite problemas e pede mais prazo, numa decisão política do governo federal que atende uma falha técnica do governo do Paraná.
De qualquer forma, terá que correr contra o tempo. O Mapa acredita que o prazo 19 de setembro é muito curto para todos os procedimentos que os outros estados levaram anos para cumprir. O Paraná alega que tudo vai ser cumprido e entregue a tempo e que muitas das exigências estão no dia a dia da cadeia produtiva, assim como outras ações de fiscalização e monitoramento já foram realizadas ou estão em andamento. Uma das medidas que deve ser anunciadas nesta semana é antecipar a contratação dos médicos veterinários aprovados em concurso da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
Aliás, no período em que deveria estar atendendo aos relatórios à OIE o estado criou a Adapar. Entre outras funções, a agência assumiu as atribuições do Defis, o Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). Alguns dos profissionais que atendiam ao Defis e que provavelmente estavam à frente de demandas como essa, hoje não trabalham mais na Seab, o que dificulta o rastreamento dessas informações e também como o tema foi conduzido internamente. De qualquer forma, mais do que identificar e administrar o problema, o importante agora é a solução. Porque o tempo é curto e a nossa falha, pelo menos nessa questão, não é sanitária ou de fiscalização, mas de desinformação ou desorganização.
Em jogo
O que está em jogo é o futuro de uma importante cadeia produtiva do Paraná. Terceiro maior produtor, o estado embarca em torno de 50 mil toneladas de carne suína, o equivalente a 10% das exportações do país, que são lideradas pelos estados vizinhos do Sul. Em 2013 o Brasil exportou 517 mil toneladas com receita de US$ 1,36 bilhão. Nossos principais parceiros são a Rússia, Ucrânia e Argentina. O status da OIE é importante para que nossa carne acesse novos, importantes e exigentes compradores, como o Japão. Com uma demanda estimada em 100 milhões de toneladas, a carne de porco é a proteína animal mais consumida no mundo.
Tem ainda a questão dos novos empreendimentos. Fruto da intercooperação e com investimento de R$ 130 milhões, a Região dos Campos Gerais deve inaugurar este ano um frigorífico com capacidade para inicial para abater 2,5 mil animais por dia. A Frimesa, no Oeste do Paraná, que hoje abate 6,5 mil/dia é outra unidade que prevê expansão da capacidade e que tem o reconhecimento da OIE a condição à expansão. Também fica no estado um dos maiores frigoríficos do país, que é o da Sadia, em Toledo, com abate acima de 13 mil suínos/dia.
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