Na semana em que o mundo volta seus olhos para a Rio+20, o Brasil se esforça para justificar o fato de sediar novamente a Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento Sustentável. Do público ao privado, o país tenta mostrar os avanços obtidos desde a Rio 92. A intenção é usar experiências bem-sucedidas como uma espécie de know-how, que nos credenciaria a coordenar as discussões sobre os rumos e metas a serem adotados pelos países-membros nos próximos 20 anos.
A estratégia, que coloca o Brasil na vitrine, permite ao governo brasileiro pautar os debates a partir de um conceito bastante particular de sustentabilidade, que tem relação com meio ambiente, clima, energia limpa e diversidade biológica, mas com justiça e equilíbrio social. Para o Brasil, a "economia verde", um dos temas centrais do encontro, deve estar sempre associada ao contexto sustentável, bem como com a erradicação da pobreza. O governo defende que os temas de economia e de meio ambiente não podem ser dissociados das visões de cunho social.
Nesse sentido, a redução no índice de desmatamento, seja na Amazônia, no Cerrado ou em outros biomas revela que aos poucos estamos conseguindo conciliar produção com sustentabilidade. Ao mesmo tempo em que se protege mais o meio ambiente, os saltos de produtividade garantem o abastecimento e a oferta de energia e alimentos de forma racional. Foi-se o tempo em que a agricultura, a pecuária e indústria da madeira avançavam sobre os rios e florestas.
Vivemos um novo tempo, de preservação, recuperação e conscientização. O Brasil tem hoje uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo. Aqui, não respeitar rios e florestas é crime e dá cadeia. O novo Código Florestal, em debate no Congresso Nacional, estabelece regras e limites para produzir e preservar, de forma a garantir o equilíbrio necessário entre a demanda econômica e social e a proteção dos recursos naturais como condição à sobrevivência do planeta.
São inúmeros os exemplos que o Brasil pode colocar na mesa como sugestão para a construção de uma agenda positiva na Rio+20. Um dos mais relevantes, sem dúvida, está no campo, com modelos agrícolas sustentáveis que estão revolucionando o modo de fazer agricultura, no Brasil e no mundo. O plantio direto, a agricultura de baixo carbono, a integração lavoura-pecuária-floresta e o cooperativismo são algumas das práticas adotadas no país e que espelham o agronegócio do futuro, moderno e globalizado.
Um documento divulgado na semana passada pelo Ministério da Agricultura (Mapa) traduz em números o empenho brasileiro nessa empreitada. O texto traz uma avaliação da agropecuária 20 anos após a Rio-92 como contribuição ao aumento da produção de alimentos, conservação do meio ambiente e erradicação da pobreza para as próximas duas décadas. Entre os dados de maior impacto está a relação entre produção e ocupação de área no Brasil. Nos últimos 50 anos, revela o documento, a produção de grãos cresceu 290% e o rebanho de gado, 250%, enquanto que o incremento da área foi de apenas 39%. Ou seja, um ganho real de produtividade e sustentabilidade.
O desafio, agora, é manter a liderança na oferta de alimentos e conciliar essa produção com a demanda de grãos para energia, mas sempre com preservação ambiental. Outra preocupação externada pelo Mapa está no acesso dos produtores às inovações tecnológicas, ao mercado e à informação. Na pauta que leva a Rio+20, o Mapa considera essas necessidades como condições à inserção econômica dos pequenos agricultores.
A contribuição da agropecuária brasileira na construção de uma sociedade sem fome, sem miséria e de uma economia sustentável, título do documento divulgado pelo Mapa, aponta que para isso ocorrer o Brasil deverá enfrentar o desafio de melhorar as condições de infraestrutura, logística, assistência técnica e extensão rural, expandindo os investimentos públicos e ampliando a parceria com o setor privado. Ou seja, não vai ser fácil. Aliás, isso não é nenhuma novidade: são condições básicas de desenvolvimento, que o setor persegue há décadas e em que houve poucos avanços.
De qualquer forma, existe a consciência que uma agricultura sustentável passa por essas condições. E se o agronegócio será um dos principais cartões de visita do Brasil na Rio+20, que a conferência construa uma agenda positiva e seja um agente motivador e de transformação contínua do setor, como instrumento de desenvolvimento econômico, social e, por consequência, responsável do planeta.