Como você é no volante de um carro? Mediano, acima da média ou abaixo da média? Toda vez que eu perguntei isso a um grande grupo de pessoas, obtive uma resposta pouco racional.
Quase ninguém se apresenta como um motorista abaixo da média. No mercado financeiro, isso também acontece. A grande maioria dos perdedores é tímida e se cala. Geralmente, quem se manifesta exagera ao descrever sua capacidade de prever o comportamento do mercado.
No dia 14 de junho, quem se atrevesse a entrar no mercado de ações teria encontrado o Ibovespa sangrando a 32.057 pontos. Vinte dias depois, teria auferido um ganho de 14%. A literatura financeira chama essa estratégia de market timing. A recompensa paga aos que se arriscam a sair do mercado para entrar pouco depois é enorme. Isso incentiva milhares de investidores a entrarem e saírem rapidamente.
Estudos mais conservadores dizem que o market timing é uma miragem. Ainda não existe técnica capaz de, consistentemente, dizer a hora certa de comprar e a hora de vender. Ocasionalmente, alguns gestores se orgulham de ter escolhido o timing correto de entrar ou de sair. Entretanto, nenhum deles mostrou desempenho superior ao praticar o esporte de pular de galho em galho, segundo a consultoria americana Morningstar, que acompanha milhares de fundos há duas décadas.
A maioria dos praticantes de market timing usa ferramentas de análise técnica, também chamada de análise gráfica. Geralmente, os modelos se baseiam na oferta e demanda de papéis e na definição de tendências e de padrões de comportamento dos preços com base no passado.
Em artigos acadêmicos publicados na rede de pesquisadores www.ssrn.com, percebe-se a intensidade do debate sobre a eficácia desses modelos. Conservadores mostram que, após se deduzir os custos de transação, principalmente a corretagem e o spread nas cotações de compra e venda, não há ganhos extras. Já os grafistas indicam que, em mercados pouco sofisticados, os ganhos são relevantes.
Se os doutores ainda não se entenderam nessa longa conversa, em quem deve acreditar o pequeno investidor? Prefiro a abordagem conservadora, que aposta no bom desempenho das ações apenas no longo prazo e que usa a diversificação como um seguro contra riscos específicos de empresas que ora brilham (como a Eron) e que, pouco depois, levam para a cova seus dirigentes e acionistas.
***
O leitor pergunta
Depois de ter lido seu texto sobre a maldita frase "Eu mereço", fiquei com a consciência pesada. Mas queria que o senhor me dissesse para que tanto esforço, se eu não sei se vou morrer cedo?
Você tocou em um ponto crítico. Esse é o maior desafio das finanças pessoais. Se nós soubéssemos o dia de nossa morte, seria muito mais fácil administrar nosso dinheiro. A incerteza sobre o destino nos coloca diante de uma escolha entre dois equívocos: acumular demais ou deixar faltar dinheiro na velhice. Como o segundo erro dói mais, eu sugiro ficar com o primeiro.
Congresso mantém queda de braço com STF e ameaça pacote do governo
Deputados contestam Lewandowski e lançam frente pela liberdade de expressão
Marcel van Hattem desafia: Polícia Federal não o prendeu por falta de coragem? Assista ao Sem Rodeios
Moraes proíbe entrega de dados de prontuários de aborto ao Cremesp