O Brasil vive um crescimento forte de crédito e, apesar das diferenças com a crise norte-americana, existem riscos, sim. Num seminário no Banco Central, uma apresentação mostrou um ponto interessante: crescimentos rápidos de crédito estão associados a crises tanto em países ricos, como em emergentes; mas nem todo boom de crédito leva à crise. Temos que garantir que o nosso boom seja do segundo tipo.
Foi o boom do crédito que detonou a crise norte-americana que agora se espalha. Mas o que nos interessa mais de perto é: a nossa expansão de crédito poderá nos levar a uma crise como a vivida nos Estados Unidos? Como todo mundo já sabe, o crédito no Brasil ainda é pequeno em relação ao PIB se comparado com o de outros países; e aqui não há o abuso que houve nos EUA. Eles chegaram a emprestar vastos montantes até mesmo aos "ninjas" (a sigla, inventada pelo mercado financeiro norte-americano, refere-se a devedores "No Income, No Job, No Asset"; ou seja, sem renda, emprego ou bens).
É bom lembrar, no entanto, que o crédito está crescendo rápido no Brasil, e o tomador, em razão de crises passadas, não está acostumado a lidar com dívidas. O dinheiro aqui é o mais caro do mundo; e a inflação também subiu recentemente, tomando renda das pessoas.
Em dezembro de 2004, os brasileiros tinham R$ 17 bilhões em empréstimos consignados (garantidos por salário ou pensão); em junho deste ano tinham quase R$ 73 bilhões. No mesmo período, o crédito pessoal pulou de R$ 43 bilhões para R$ 116 bilhões. Os empréstimos para pessoas físicas saíram de R$ 134 bilhões para R$ 315 bilhões. O mais impressionante são as taxas de crescimento. O crédito para a compra de veículos vinha aumentando no ritmo de 20% a cada mês, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior; agora caiu um pouco, mas continua em alta, acima de 10%. O ritmo do crescimento do financiamento imobiliário é estonteante. No começo do ano passado, crescia a uma taxa de 37%, o que já era muito; hoje está em 78% ou seja, em um ano, terminando em junho, a alta é desse tamanho, quase 80%. (Veja no gráfico ainda outros tipos de empréstimo.) Não há sinais de aumento significativo da inadimplência, mas a inflação come parte da renda, e ela atingiu mais fortemente os de menor renda, que acabaram de chegar ao mercado de crédito. Para se ter uma idéia, neste primeiro semestre, 62% dos que financiaram suas casas pelo FGTS na Caixa recebiam até 5 salários mínimos.
Uma apresentação feita no seminário de metas de inflação do Banco Central mostrou que esta relação entre expansão rápida de crédito e crises econômicas é objeto de inúmeros estudos. A apresentação "Boom de crédito: o bom, o mau e o feio", de Adolfo Barajas e Giovanni DellAriccia, do FMI, e Andrei Levchenko, da Universidade de Michigan, mostra que muitas crises são precedidas por um boom de crédito; mas somente alguns booms são seguidos por crises. Porém os episódios de crescimento extremo de crédito são seguidos de crises. Analisando 135 casos de boom de crédito em 100 países, eles chegaram a esta conclusão: houve 104 casos "bons", que não terminaram em crise; ocorreram 34 casos de crises portanto, "maus casos"; entre esses, 27 foram "feios", ou seja, viraram crises sistêmicas. Os bons casos foram em países com inflação mais baixa e o tempo de duração do ciclo de expansão do crédito foi menor.
Os atuais dirigentes do Banco Central não acreditam muito em conter o excesso de crescimento por medidas regulatórias; acreditam mais na força da política monetária. Assim sendo, que não se espere, pelo menos a curto prazo, normas de restrição de crédito, como já houve no passado, do tipo limitação de número de prestação; contudo podem-se esperar mais taxas de juros. O que pode acabar se tornando mais punitivo para o tomador. O que o BC pode fazer é criar regras para os bancos, de forma a dar mais segurança ao sistema como um todo. Afinal o Banco Central é o emprestador de última instância: é ele que empresta a quem empresta. Foi isso que o Fed esqueceu.
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