Hoje à tarde, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, estarão Zezé di Camargo e Luciano, KLB e Gabriel o Pensador. O objetivo? Um show contra a CPMF, quer dizer, contra os tributos; e o tributo em questão, neste momento, é a CPMF. Valem todos os expedientes.
Enquanto isso, em Brasília, o governo parte para o tudo ou nada no Senado. Como tem pouco tempo, sua única saída, os aliados têm dito, é aprovar do jeito que está, sem negociação.
O governo aprovar esta emenda não é bom, mas também, se não aprovar, pode ser um desastre. Os dois cenários extremos são ruins. Era hora de negociarem afirma Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas.
Os políticos que estão no front batalhando pela prorrogação vêm usando o argumento de que não aprovar a CPMF significará aumento no risco-país e fará com que o grau de investimento não chegue tão cedo. No domingo, num artigo, o atual deputado e ex-ministro Antônio Palocci alertou quanto ao risco de pensar que tudo está resolvido na economia. Alerta importante. Porém usava a CPMF quase como garantidora da estabilidade. Não é bem assim.
Por partes: o Brasil tem, sim, uma altíssima carga tributária, de 35,2% do PIB, bem mais alta que a de outros países, e que atravanca o crescimento da economia. Mas melhor seria lutar por uma efetiva reforma dos tributos. Acabar com a CPMF é apenas tirar o bode da sala.
Prescindir hoje do tributo seria cortar uma receita que equivale a 1,5% do PIB, de onde saem R$ 20 bilhões para a saúde. E também eliminar um excelente controle de movimentação financeira num país em que a sonegação é muito alta.
Assim, Giambiagi acredita que o ideal seria ir reduzindo paulatinamente a CPMF. Fazendo isso de forma programada, o próprio crescimento do país poderia compensar a perda de receita:
Se a CPMF não passar, em algum momento o governo terá que aumentar um imposto em que tem margem de manobra; haverá corte em alguma rubrica sem planejamento e será preciso reduzir o superávit primário.
De fato, o risco fiscal ainda existe. E ele é observado pelas agências de risco. Mas é um exagero dizer que o Brasil deixará de ser grau de investimento se não mais cobrar a CPMF.
No fim das contas, o que deveria ser uma negociação séria quanto ao futuro do país virou um grande espetáculo. De todos os lados.
Muito dinheiro; de plástico
Pensar que no Brasil existem hoje 417 milhões de cartões, ou seja, mais de dois por habitante, a princípio, parece um absurdo. Mas, antes de duvidar do número, tente contar quantos cartões de plástico você tem. Considere o de crédito, o de débito, daquela loja em que se fez a prestação.
No país, esta proporção triplicou entre 2000 e 2006 (veja no gráfico). Há algumas explicações. Umas mais dignas, como aumento da renda dos brasileiros e maior acesso ao consumo nas classes mais baixas. E outras menos, como a atitude agressiva e proibida de enviar o cartão para a casa de possíveis clientes sem que eles tenham solicitado.
Fato é que, há 10 anos, segundo a Abecs, associação do setor de cartões, apenas 7% do consumo das famílias era feito com cartão. Agora já são 20%.
Nos Estados Unidos onde as pessoas chegam a pagar um cartão de crédito com outro , a proporção de quase 6 cartões por habitante se manteve nos últimos anos. Com esse número imenso, nem é de se espantar tanto.
Para terminar, um pouco de Brasil: comentário de um transeunte ontem, dia do comércio no Rio de Janeiro, diante das ruas vazias, sem os vendedores ambulantes, no centro da cidade: "Camelô não é comércio? Então, é feriado deles também."