O petróleo, mais uma vez, está despertando preocupações. Na quarta-feira, o barril bateu recorde. No início do ano, esperava-se que a média de preço ficaria em US$ 60, mas agora o barril já está perto dos US$ 80. A maioria dos analistas acha que esse patamar não se sustenta, mas que, como o mundo continua crescendo e a demanda aumentando, isso alimenta todo o mercado especulativo futuro.
Entre 2000 e 2006, o consumo mundial de petróleo aumentou de 76,5 milhões de barris/dia para 84,4 milhões de barris/dia. Mais da metade desse aumento se destinou à demanda maior na China (32%) e nos demais países asiáticos, com exceção do Japão e da Coréia do Sul (20%).
Até agora, a média de preço deste ano ainda não ultrapassou a de 2006: foi de US$ 66,34 no ano passado e, até julho, a média do Brent estava em US$ 65,36. O problema é que a curva está subindo. De abril para cá, aumentou 10%.
O mercado não está vendo à frente queda na demanda, os dados sobre economia americana e chinesa continuam altos, e isso alimenta a especulação comenta David Zylbersztajn.
O petróleo é uma commodity ultra-sensível. Isso não apenas porque se trata de uma fonte esgotável; mas também porque é produzido em regiões bastante instáveis do planeta e é altamente poluente (e os tempos agora são de preocupação ambiental). Assim, seu preço depende de uma série de variáveis. A Cambridge Energy Research Associates (Cera) calculou a formação do preço do barril. Eles acreditam que, hoje, cerca de US$ 45 equivalem ao gasto de produção. Entre US$ 45 e US$ 60, são as condições de mercado, o preço esperado pela relação entre oferta e demanda. Porém o que faria, na visão deles, o petróleo chegar aos US$ 80 são fatores outros como o medo da interrupção no fornecimento, como é o caso do Irã; a efetiva interrupção do fornecimento, como na Nigéria; problemas nas refinarias e picos de aumento na demanda.
Hoje a variável especulação está muito presente neste preço do petróleo acredita Adriano Pires, do CBIE.
No mês passado, um relatório da Agência Internacional de Energia inflou ainda mais as percepções de risco. A EIA alterou suas previsões e espera que 2008 seja de estoques menores que este ano, com forte aumento do consumo.
Há, sim, bastante especulação, mas existem também questões concretas. Para começar, o próprio fato de que o petróleo é finito e de que, até agora, não se encontrou substituto à altura. Não há tampouco descobertas relevantes de novas reservas. O aumento da produção tem sido de óleo mais caro para extrair, transportar e refinar. Adriano Pires lembra que a ameaça do fim do petróleo sempre existiu. Nos anos 40, quando todo mundo achava que iria acabar, acharam a mina de ouro do petróleo, no Oriente Médio; depois dos choques dos anos 70, aumentou a exploração offshore e agora a em águas ultraprofundas.
As duas novas e fortes variáveis hoje são segurança e meio ambiente diz Adriano.
A princípio, imaginava-se que a pressão ambiental contra o combustível fóssil acabaria, lá na frente, derrubando seu preço. Isso porque, com o aumento do imposto ambiental sobre o combustível fóssil, o preço ficaria mais alto num primeiro momento e poderia desestimular o consumo. Por enquanto, isso não aconteceu.
Diversos outros fatores estão impactando no preço. As refinarias estão poucas para o aumento da demanda mundial. As refinarias americanas passaram por manutenções. Há tensões constantes e mais sérias no Irã e na Nigéria. O Iraque não deve voltar a produzir como antes da guerra, pelo menos, até 2010. A Opep, agora com a participação de Angola, anda segurando a produção. Hoje a produção de países não-Opep é maior que a dos da Organização; mas, quando se trata de reservas, eles têm o triplo dos demais países.
A Rússia era um player que vinha entrando em todos os cenários como o produtor que faria a diferença, mas os desmandos de Putin não parecem dar muitas garantias. Uma das visões que se têm é a de que a Rússia está hoje queimando propositalmente suas reservas, porque eles considerariam que o petróleo não vai se manter neste preço por muito tempo. Para se ter uma idéia, atualmente a Rússia produz 9,8 milhões de barris/dia e a Arábia Saudita 10,8 milhões b/d. Mas a Rússia tem um horizonte de produção de 22 anos, enquanto o da Arábia é de 67 anos.
Os especialistas dizem que, na prática, a Opep ainda tem o poder de controlar os preços, pois eles não produzem todo o volume de que são capazes. A Arábia Saudita, por exemplo, se quisesse, poderia produzir um Brasil a mais.
A Cera trabalha com três cenários futuros para o petróleo. Em todos eles, o preço sobe mais um pouco até o fim do ano. No cenário base, o barril se estabilizaria em torno de US$ 55 já no ano que vem, com o aumento na capacidade de refino mundial e na produção de países não-Opep. Em outro cenário, há uma queda mais brusca da economia mundial e da demanda, levando o petróleo para entre US$ 40 e US$ 45. O cenário de preço mais alto prevê economia mundial aquecida sem aumento suficiente na oferta, o que deixaria o preço nos patamares atuais por mais alguns anos, apenas revertendo porque o próprio petróleo caro tem o poder de segurar a economia e estimular novas fontes.
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