A ponta mais fraca do nosso já fraco Mercosul se chama Paraguai. O país tem um PIB que não chega a 1% do brasileiro; com a economia concentrada em produtos agrícolas, Itaipu e na "intermediação comercial". Para o Brasil, não é de hoje, a imagem do país está atrelada ao contrabando. Mas o professor paraguaio Fernando Masi, que esteve aqui esta semana, contra-ataca: "O problema começa na demanda. É o empresário paulista que liga pedindo ao importador paraguaio para trazer produto da Ásia."

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Masi, diretor do Centro de Análise da Economia Paraguaia, fez uma palestra no Cebri, na qual se discutiu o desenvolvimento na fronteira. Ele vai além:

– Como os brasileiros podem dizer que tudo que é falso é paraguaio, se não produzimos relógio, perfume ou peça de informática? Como um país tão pequeno pode fazer tanto contrabando e o grande não pode fazer nada? Parece muito conveniente para o Brasil a intermediação comercial paraguaia.

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O professor, de fato, tem um bom ponto: esse atravessar fronteiras – várias vezes de forma ilegal, sonegando impostos – só acontece porque todos os lados estão sendo beneficiados, inclusive o brasileiro.

Hoje, metade da receita do governo paraguaio vem da "reexportação" – a compra do produto de um país para ser revendido a outro. Isso, naturalmente, pode ser feito de forma legal. Mas nem sempre é assim. As reexportações, que já foram bem maiores, voltaram a superar as exportações de produtos do próprio Paraguai. Atualmente, eles exportam mais para o resto do mundo que para o Mercosul.

O país é ainda muito pobre. A construção de Itaipu equivaleu a três vezes o seu PIB. Do fim da obra até 2003, o produto per capita caiu. São pouquíssimas as indústrias, e 80% da agricultura são soja, que começou a ser plantada pelos brasiguaios, brasileiros que atravessavam a fronteira em busca de terras mais baratas. Segundo o professor Masi, o "desenvolvimento econômico do Paraguai nas últimas décadas foi todo fruto do crescimento das cidades da fronteira com o Brasil".

No entanto, uma peleja está prestes a estourar entre Brasil e Paraguai. Não entre empresários importadores e exportadores, que parecem satisfeitos. Mas entre governos. Isso porque, no ano que vem, haverá eleições no Paraguai, e uma das causas que todos os candidatos abraçam é a revisão das tarifas de Itaipu.

Para não dizer que não falei do gás

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A confusão está armada. Não que tenham voltado todos os problemas da terça-feira no abastecimento de gás, mas a evidência de que há pouco gás disponível está fazendo com que governo do Rio, indústrias, distribuidora e Petrobrás não consigam se entender. E esses impasses são sempre perigosos.

Uma das críticas que vêm sendo feitas é ao modelo de uso da fonte de energia no estado do Rio. Aqui, 27% do gás natural, que é subsidiado para esse fim, destina-se ao abastecimento de veículos. Outros 23% vão para as térmicas, 31% para indústrias, 10% para residências e 8% para serviços. Diante disso, o secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, Júlio Bueno, argumenta que ninguém tem razão nessa crise. E critica a Petrobrás, por ter executado um plano de massificação do gás com que não tinha capacidade de arcar; e as distribuidoras, que se comprometeram a fornecer mais que podiam. Além disso, é categórico na questão do GNV:

– Minha política é de não deixar crescer o GNV no Rio.

Segundo ele, vem ocorrendo atualmente no Rio uma queda nas conversões para o gás; que saíram de 25 mil carros por ano para 7 mil. O crescimento no consumo de GNV também é menor que os 15% dos últimos anos; será de 4,5%. Essa queda, diz, seria fruto de uma alta no preço. Porém, é inegável que ainda hoje é muito mais barato usar o gás como combustível.

De qualquer forma, a política do governo estadual continua sendo a de priorizar quem já abastece o carro com o gás. O secretário afirma que não pode faltar gás para "motoristas, consumidores residenciais e comerciais" (que consomem 46% do total); depois vêm as indústrias e, por fim, as térmicas.

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Tudo isso posto, vê-se o nó que se formou. Por ora, o que existe é cada ponta reclamando os seus direitos. Em continuando assim, somada a escassez do gás em si, vai ser difícil desatar essa confusão tão cedo.