O diretor de cinema nova-iorquino John Carpenter é conhecido por seus filmes medianos de terror, aliando histórias das trevas com um toque trash. A reputação construída com clássicos cult quase tudo que era medíocre se tornou cult hoje em dia como Vampiros, A Cidade dos Amaldiçoados e Halloween - A Noite do Terror. Mesmo com currículo tão questionável, os produtores de F.E.A.R 3, lançado recentemente para todas as plataformas, acharam válido destacar a participação do autor em todas as campanhas promocionais.
A série F.E.A.R ficou conhecida nesta geração por unir de forma competente suspense sobrenatural com a mecânica dos jogos de tiro em primeira pessoa. A primeira versão conseguiu manter a tensão durante toda a aventura, com momentos especialmente aterrorizantes. Estar no meio de uma guerra e ainda ver assombrações de meninas-mortas (sempre elas!) não era para qualquer um. A sequência preferiu ir mais para o caminho da ação e combate, esquecendo um pouco da trama e partindo para o tiroteio franco. Na versão que chegou ao mercado em agosto, houve uma volta às origens. O objetivo é que o jogo gere medo, coisa que os filmes de Carpenter tentaram, mas não conseguiram. A história é uma colcha de retalhos que tenta unir as duas versões anteriores. Basicamente, há um ser maligno, a menina fantasma Alma, que quer tocar o horror, literalmente, numa cidade devastada. O jogador assume o papel de um dos filhos dela, Point Man, que precisa encontrá-la. Depois de finalizar algumas fases, outro personagem fica disponível para ser utilizado: o também irmão Paxton Fertel, cujo poder de drenar a energia dos adversários deixa as coisas mais divertidas. Basicamente, o jogador deve percorrer os cenários de forma linear, matar o que aparecer pela frente e chegar ao final da fase para ver uma vinheta preparada por Carpenter. Com alguns sustos no percurso.
Além disso, os produtores calibraram melhor as partes de ação. Os robôs inimigos estão mais espertos, chegando ao ponto de serem desumanamente inteligentes nas modalidades mais difíceis. Eles traçam estratégia conforme o estilo de jogo do jogador, se organizam em bando e atacam de forma coordenada. Provavelmente esta é uma das melhores Inteligência Artificial emprega num game de tiro.
Uma das grandes novidades é o modo multiplayer cooperativo, que permite disputas locais e pela internet. No modo local, a tela é dividida e cada jogador assume o lugar de um dos dois irmãos. Limpar o cenário fica mais fácil e menos assustador, ideal para os jogadores mais sensíveis. F.E.A.R. 3 também reforça uma tese defendida por esta coluna há tempos: os jogos eletrônicos têm uma capacidade maior para imergir em histórias de suspense, mesmo as tolas. Ao se colocar em primeira pessoa dentro da ação, sustos que não funcionariam no cinema acabam sendo eficazes. Só isso já torna o jogo melhor que toda a filmografia de John Carpenter. Não que seja um grande feito.