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Overgame

O maior lançamento da história do entretenimento

Favela carioca e o Cristo Redentor em tela de Modern Warfare 2: recriação precisa da realidade em um jogo polêmico | Reprodução
Favela carioca e o Cristo Redentor em tela de Modern Warfare 2: recriação precisa da realidade em um jogo polêmico (Foto: Reprodução)

A indústria dos videogames cresce de forma im­­pressionante há dé­­cadas. É tratada por alguns especialistas como a narrativa do futuro imediato, quando desbancará o cinema. Mesmo assim recebe pouca atenção do jornalismo tradicional. Não é à toa, caro leitor, que provavelmente você ainda não tenha lido em nenhum jornal ou assistido na televisão aberta uma boa reportagem sobre o maior fenômeno da história do entretenimento. Isso mesmo, nunca antes na história desse planeta um produto cultural (cinema, música, HQ, livro...) vendeu tanto numa estreia quanto Call of Duty: Modern Warfare 2, que mistura refinamento técnico, uma franquia de sucesso e muita polêmica.

Primeiro a justificativa. A produtora Activision foi taxativa em um comunicado à imprensa: "é o maior lançamento da história de todas as formas de entretenimento". De acordo com estimativas internas da empresa, o jogo teria vendido 4,7 milhões de unidades nos Estados Unidos e Reino Unido apenas no dia de lançamento, 10 de novembro. Vendagem impressionante, mas teria MW2 sido mais lucrativo do que o filme que mais faturou durante uma estreia?

O pessoal do site Kotaku faz um levantamento para tirar a prova dos nove e o resultado surpreendeu. Os discos que mais venderam no lançamento até hoje são "No Strings Attached", do ‘N Sync’s (EUA), e "Be Here Now", do Oasis (Inglaterra) . Juntos somaram pouco mais de 3 milhões de cópias, bem abaixo do game da Activision. Já no mercado editorial a luta foi mais dura. Harry Potter e as Relíquias da Morte vendeu 8,3 milhões de unidades nas primeiras 24 horas. Apesar de levar no quesito quantidade, perdeu quando se é comparado lu­­cratividade. Enquanto Modern Warfare 2 faturou US$ 310 mi­­lhões no mesmo período, o livro do bruxo ficou com US$197 mi­­lhões. Nas telonas, o recordista é Cavalei­ro das Trevas, com arrecadação de US$ 66,4 milhões. Surra épica.

O jogo

Vendagen alta, no entanto, não quer dizer que o jogo seja bom, caso dos concorrentes dos cinemas, livros e da música. E, mesmo que fosse fantástico, a receptividade do público já era anunciada antes do lançamento oficial, tanto que o preço foi elevado em U$ 10. Foi a maior pré-venda já registrada em diversas lojas on-line. Jogabilidade extremamente calibrada, campanha de divulgação maciça e muita polêmica fizeram parte da mistura que causou tamanha combustão em vendas.

É provável que a maioria dos que colocaram as mãos em Modern Warfare 2 já fossem consumidores da série Call of Duty. A primeira versão vendeu mais de 13 milhões de cópias e ganhou resenhas elogiosas por toda a imprensa especializada. O jogo não inova no seu estilo, tiro em primeira pessoa. Contudo, evoluiu a jogabilidade, principalmente nas partidas multiplayer, para um nível que poucos jogos conseguem alcançar hoje em dia. O principal concorrente na categoria é Halo, que também vende muito.

A história explora desdobramentos atuais e em um futuro próximo. A Rússia passa por uma instabilidade política e grupos terroristas ganham força. Os Estados Unidos entram em conflito com o país na tentativa de evitar uma onda de ataques, que se estende por vários continentes. As armas, roupas e cenários são retratados fielmente (nada de alienígenas e canhões de raios). O som produzido por um fuzil M4 é tão real que lembra uma ação qualquer da polícia em um morro carioca transmitida pela tevê.

A polêmica

Mesmo tendo a certeza do sucesso comercial, a produtora não aliviou e incluiu um episódio que está causando muita discussão e que levou o governo russo (real) a proibir a comercialização do título. Em um determinado estágio, o jogador assume o papel de um terrorista prestes a cometer um atentado em um aeroporto. O objetivo é ser eficiente. E a eficiência está diretamente ligada à morte de inocentes. Há a possibilidade de mudar de fase sem prejudicar o enredo. Assim como o jogador pode escolher não matar ninguém. O objetivo, no entanto, é claro: aniquilar inocentes.

Em outros meios, como o cinema, a mesma situação não chega a perturbar tanto governos e críticos. Em Disque M para Matar, por exemplo, Hitchcock nos levar a torcer para que o protagonista consiga completar seu objetivo, a morte da mulher. E, logo depois, o espectador é levado a torcer para que o bandido não seja preso. A deturpação da moral na ficção é antiga. O problema atual dos games talvez seja a necessidade da interação. Neste caso, a morte dos inocentes não seria passiva, pois depende do apertar de botões.Modern Warfare 2 vende muito por qualidades próprias e pe­­lo cuidado com que a Activision vem tratando a franquia. Desponta já como um dos melhores do ano e deve receber boa parte das premiações. Para os brasileiros o jogo ainda reserva uma boa surpresa. Um dos cenários é baseado em uma favela carioca, a Pavão-Pavão­zinho. A recriação dos barracos, com direito às imagens do Cristo Redentor e Pão de Açúcar ao fundo, foi realizada com boas doses de fidelidade. MW2 está disponível para PC, Xbox 360 e PlayStation 3.

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