Você está no futuro quando um exército alienígena decide exterminar a raça humana. Ou talvez seja um vampiro bonzinho que precisa enfrentar as forças demoníacas que querem acabar com a vida na Terra. Ninja, príncipe, guerreiro ou até uma arqueóloga curvilínea que deve salvar um artefato, uma princesa, o mundo. Se você não gosta deste tipo de enredo está perdido, pois sofrerá uma verdadeira aventura, esta não tão épica, para achar um bom jogo de videogame que fuja dos arquétipos citados.E o mês de outubro chegou para ajudar a comprovar que a criatividade foi catapultada dos grandes títulos. Os estúdios que comandam as grandes produções seguem a linha dos filmes produzidos em Hollywood e parecem só apostar em lançamentos que flanem por universos com temáticas mais que aceitas pelo mercado. Como investidores eles estão certos. É lucro quase garantido. O que não dá é para ficar só nisso.
Melhor exemplo recente é Halo 3: ODST, que vendeu milhões de cópias em poucos dias ao mostrar um grupo de sobreviventes humanos lutando contra ETs. Em Demons Souls, o herói se vê num mundo cercado de seres diabólicos e monstros dominando por um diabão. Por algumas horas de diversão descerebrada o jogador deve aguentar aqueles nomes que lembram uma ficção de Tolkien, como Vallarfax, Boletaria e Nexus. Outro é Ninja Gaiden Sigma 2 que só pelo título já dá para perceber do que se trata.
Mais esperado e considerado o título do ano por antecipação, Uncharted 2: Among Thieves é uma versão masculina de Lara Croft, protagonista de Tomb Raider. Ou um Indiana Jones metrossexual sem chicote. Objetivo: encontrar tesouros escondidos em uma lendária cidade. Todos os jogos citados foram considerados excelentes pela crítica, com notas altíssimas. Assim como Dead Space: Extraction, assunto desta coluna, e que só foi citado no quarto parágrafo em decorrência da originalidade do roteiro, uma espécie de Alien O Oitavo Passageiro de oitava categoria.
O jogo exclusivo para Nintendo Wii narra a história que precede os acontecimentos encontrados no original Dead Space, lançado no ano passado para Playstation 3, Xbox 360 e PC. Após o encontro de um artefato misterioso em uma colônia espacial, os moradores começam a apresentar comportamentos bizarros, como alucinações e crises de pânico. Muitos dos habitantes sofrem mutações e viram criaturas monstruosas que buscam sangue para se alimentar. O jogador deve tentar encontrar os motivos que levaram às tais deformações. Não há um único protagonista. Os personagens jogáveis mudam conforme as fases vão sendo completadas. O cenário são os corredores escuros de uma das espaçonaves onde os que não foram infectados puderam se refugiar.
A mecânica no estilo "tiro sobre trilhos", no qual os jogadores não podem se movimentar por vontade própria, é um dos principais problemas encontrados. Basicamente o que o jogador deve fazer é atirar em qualquer coisa que apareça na tela. Existem alguns poucos quebra-cabeças no meio do caminho e muitos, mas muitos mesmo, trechos não jogáveis com linhas de diálogo pobres que quebram ação. Lembra os filmes interativos do começo da era dos CDs. Por outro lado, o trabalho da Eletronic Arts em dar um bom acabamento gráfico na versão para o Wii deve ser ressaltado. Poucos títulos conseguem tiram tanto do fraco hardware do aparelho. A qualidade visual era um dos principais temores de quem aguardava a chegada do título. Outro ponto positivo é que Dead Space: Extraction ajuda a completar a biblioteca de games com temática adulta para o console da Nintendo.
O grande problema do jogo não é o enredo ter apelado para clichês. Afinal, milhares de excelentes histórias de amor foram contadas após a publicação dos escritos de William Shakespeare. O que o torna desnecessário é poder ser usado como um exemplo da falta de criatividade que ronda os blockbusters. Seria mais interessante se as grandes produtoras também investissem em jogos adultos com alguma diferenciação narrativa. O diretor russo Andrei Tarkoviski conseguiu transcender o universo da ficção científica com filmes como Stalker e Solaris. Stanley Kubrick fez o mesmo. Um bom jogo recente e que explora o tema de forma arrebatadora é Fallout 3, passado em uma terra destruída após uma hecatombe nuclear e que evita as cut scenes para dar mais liberdade à história. Usar velhas formas com uma jogabilidade limitada mina qualquer pretensão de Dead Space: Extraction entrar para a galeria dos melhores do ano. É só mais um na prateleira.
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