Há uma certa frustração na bipolarização da indústria dos videogames. Ou se produz para o mercado americano ou para o japonês. Existe um meio termo ali que tenta dar conta da Europa, mas é mínimo e quase irrelevante. A justificativa é que os dois países são os maiores consumidores, logo é melhor fazer jogos que cada vez agrade mais estes públicos. Faz sentido. De qualquer forma, nós, jogadores brasileiros, acabamos tendo que comprar a ideia deles e encarar sempre o mesmo ponto de vista estrangeiro. Chega a ser gratificante quando um personagem brasileiro aparece num game, como lutador Blanka da série Street Fighter ou o mercenário Carlos Oliveira de Resident Evil. Tirando os jogos de futebol, brasileiros são coadjuvantes.Imagine então como seria encontrar um paranaense em um jogo. Ou curitibano. Foi com esta expectativa que coloquei as mãos em UFC Undisputed 2010, lançado no mês passado para o Xbox 360 e Playstation 3. O jogo baseado no maior campeonato de MMA (antigo vale-tudo) traz não há apenas um, mas três lutadores curitibanos. E eles são as estrelas: Wanderlei Silva (lenda viva do esporte), Maurício Rua (campeão do peso meio-pesado) e Anderson Silva (campeão peso médio). Ou seja, temos os melhores lutadores do mundo para defender, na porrada, nosso ponto de vista. Americanos e japoneses que se cuidem.
UFC Undisputed 2010 não se destaca apenas por trazer um plantel de paranaenses. Outros ícones de MMA também estão lá, como Rogério Nogueira, Vitor Belfort, Mark Coleman, George St. Pierre e Bj Penn. Vários grandes nomes entre uma centena de lutadores que têm contrato com a organização. Além de ter uma das maiores opções de escolha entre os jogos de luta, a produtora THQ fez um trabalho primoroso no acabamento técnico. Cada jogador tem características diferenciadas, inclusive com trejeitos no modo de lutar. Graficamente, chega a impressionar o nível de detalhes de cada personagem. Durantes as lutas, por exemplo, o suor vai se formando aos poucos no corpo, assim como os hematomas ou cortes vão aumentando conforme a quantidade de golpes acertados. E não existe super-homem, ao se aplicar muitos golpes seguidos o lutador cansa e fica mais vulnerável a ataques.
Jogar UFC 2010 é quase como assistir ao evento visto os tantos detalhes presentes. O famoso octógono (ringue oficial da organização cercado por grades), posição de câmeras, árbitros, garotas de ringue, apresentador, comentaristas estão lá exatamente como são nos eventos reais. Tudo transpira hiper-realismo.
Mas o mais importante é a jogabilidade. A produtora conseguir transformar em algo natural a execução de golpes extremamente complicados, como chaves de braço ou estrangulamentos. "É sensacional. A câmera se foca na articulação que está sendo pressionada. É visceral e você pode sentir o que está acontecendo", explica de forma entusiasmada Marc Laimon, treinador de jiu-jitsu na vida real e no jogo.
Normalmente em jogos do estilo, socos e chutes correspondem a um comando específico, como vem sendo deste a pré-história dos jogos eletrônicos. No caso das finalizações, como são conhecidos os golpes técnicos que levam o oponente a desistir, é necessário fazer movimentos circulares nos direcionais analógicos. E cada movimento depende da posição e das habilidades do atleta. Tentar fazer Wanderlei Silva, especialista em muay thai, aplicar com sucesso uma chave de braço em início de combate é quase impossível. Já jogando com Nogueira, faixa preta de jiu-jitsu, a tarefa se torna bem mais fácil. O excesso de possibilidades, no entanto, eleva o nível de aprendizado. Todos os botões do joystick tem que ser utilizados durante a luta. Do contrário, o jogador vai à lona.