Por que a administração Obama continua a procurar por amor nos lugares errados? Por que ela desvia do seu rumo para alienar amigos, enquanto galanteia pessoas que jamais abandonarão o ódio que sentem?
Essas perguntas são inspiradas no atual suspense sobre se o presidente Obama irá fazer a coisa certa e nomear Elizabeth Warren para chefiar a nova agência de proteção financeira do consumidor. Todavia, o caso Warren é apenas o último capítulo da saga que está em curso.
Obama chegou à Presidência carregado por uma vasta onda de entusiasmo. Esse entusiasmo estava destinado a virar desapontamento, não só porque o presidente sempre foi mais centrista e convencional do que seus defensores fervorosos imaginavam. Tendo em conta os fatos da política e, sobretudo, a dificuldade de se conseguir qualquer coisa em face da cerrada oposição republicana, ele não seria a figura de transformação que alguns imaginaram.
E Obama cumpriu aspectos importantes. Acima de tudo, conseguiu (com muita ajuda de Nancy Pelosi) aprovar uma reforma da saúde que, ainda que imperfeita, vai melhorar muito a vida dos norte-americanos a não ser que um Congresso republicano consiga sabotar a sua implementação.
Mas a desilusão progressista não é só uma questão de expectativas astronômicas se encontrando com uma realidade prosaica. Terroristas ameaçados não forçaram Obama a tagarelar sobre tortura, aumentar a presença americana no Afeganistão e escolher, com perfeita falta de sincronia, afrouxar as regras de perfuração marítima no início deste ano.
Então, há questão das nomeações. Sim, a administração precisava de pessoas experientes. Mas todos os membros mais experientes da equipe econômica tinham de ser protegidos de Robert Rubin, o apóstolo da desregulamentação financeira? Era realmente necessário colocar Ken Salazar no Departamento do Interior, apesar das objeções dos ambientalistas que temiam, com razão, que os laços do político com empresas extrativistas iriam retardar sua ação na reforma de uma agência corrupta?
E onde está a Frances Perkin desse governo? Como secretária do Ministério do Trabalho durante a administração Roosevelt, Perkins, uma velha defensora dos direitos trabalhistas, serviu de símbolo do compromisso do New Deal com a mudança. Não tenho nada contra Hilda Solis, a atual secretária do Trabalho mas nem ela nem qualquer outro membro sênior da administração atual é um progressista com estatura independente suficiente para interpretar esse tipo de papel.
O que explica o fato de Obama esnobar constantemente aqueles que o fizeram quem ele é? Ele teme que seus inimigos usariam qualquer apoio a pessoas ou ideias progressistas como uma desculpa para denunciá-lo como um extremista de esquerda? Bem, como todos devem ter notado, eles não precisam de tais desculpas: o presidente foi retratado como um socialista por ter promulgado a reforma do sistema de saúde de Mitt Romney, e como um inimigo virulento dos negócios por ter mencionado que as empresas às vezes se comportam mal.
O fato é que as tentativas de Obama de evitar confrontos têm sido contraproducentes. Seus opositores continuam altamente passionais, enquanto os que o apoiam, por não terem sido tratados com respeito, carecem de convicção. E, em uma eleição de meio de mandato, onde o número de votos é crucial, o "desequilíbrio do entusiasmo" entre republicanos e democratas pode representar catástrofe para o programa de Obama.
O que me traz de volta a Warren.
O debate sobre a reforma financeira, debate esse no qual o Partido Republicano ficou do lado dos bandidos, deve ser uma vitória política para os democratas. Grande parte da reforma, todavia, é profundamente técnica: "Manter o requisito de que os derivativos sejam comercializados nas bolsas públicas!" é uma frase que não fica bem em um cartaz.
Todavia, proteger os consumidores, garantindo que eles não sejam vítimas de práticas financeiras predatórias, é algo que o eleitorado pode assimilar. Eleger uma grande defensora dos consumidores para chefiar a agência que fornece esse tipo de proteção alguém cujas escolaridade e experiência contribuíram grandemente para a criação da agência em si é uma medida natural, tanto substancial quanto politicamente.
Enquanto isso, a alternativa desapontar apoiadores mais uma vez ao escolher uma tecnocrata pouco conhecida parece ser um erro crasso.
Logo, por que esse assunto ainda está em alta? Sim, os republicanos podem muito bem tentar postergar a nomeação de Warren, mas esta é uma briga que a presidência deve encarar.
Ok, eu admito não saber o que está realmente acontecendo. Todavia, receio que Obama ainda esteja envolto com seu sonho de partidarismo transcendental, enquanto as pessoas que o apóiam não gostam da ideia. E o resultado final desta queda de braço é uma administração que parece estar determinada a alienar seus amigos.
Apenas esclarecendo, os progressistas seriam tolos de não votarem nesta eleição: Obama pode não ser o político dos seus sonhos, mas seus inimigos são, certamente, seu pior pesadelo. Todavia, Obama também tem uma responsabilidade. Ele não pode esperar grande apoio das pessoas que seu governo insiste em ignorar e insultar.