Uma mensagem para os democratas da Câmara dos Estados Unidos: esta é a hora da verdade. Vocês podem fazer a coisa certa e aprovar o projeto do Senado para a reforma do sistema de saúde. Ou procurar uma saída fácil, criando desculpas e reprovar no teste da história.
A vitória republicana nas eleições especiais de Massachusetts mostra que os democratas não podem mandar um projeto de reforma do sistema de saúde modificado de volta ao Senado. Isto é uma vergonha porque o projeto que seria fruto das negociações entre os deputados e o Senado seria melhor do que o projeto que o Senado já aprovou. O projeto do Senado, todavia, é muito, muito melhor do que nada. E tudo o que precisa acontecer para que ele vire lei é que a Câmara aprove o mesmo projeto e o envie para a sanção do presidente Obama.
A líder da maioria na Câmara, Nancy Pelosi, declara que não possui os votos necessários para aprovar o projeto do Senado, mas que não existe uma boa alternativa.
Alguns pedem que os democratas alterem suas propostas na esperança de ganhar algum apoio republicano. Todavia, qualquer pessoa que realmente acha que isto irá funcionar deve ter passado o último ano vivendo em outro planeta.
O fato é que o projeto do Senado é um documento centrista, que os republicanos moderados consideram inteiramente aceitável. Na verdade, ele é muito similar ao plano que Mitt Romney apresentou a Massachusetts há alguns anos. Mesmo assim, o plano teve de enfrentar a oposição acirrada do Partido Republicano, determinado a impedir que os democratas obtenham o mais ínfimo sucesso. Por que isso mudaria agora, justo quando os republicanos acreditam estar em uma maré de vitórias?
Como alternativa, alguns exigem que o plano seja dividido em partes de forma a possibilitar que o Senado transforme cada peça em lei. Mas qualquer um que acredite que isso funcionaria provavelmente não pretou atenção nas questões políticas reais.
Imagine a reforma do sistema de saúde como um banquinho de três pernas.Você iria, com toda a razão, ridicularizar qualquer um que fizesse a proposta de cortar uma ou duas pernas do banquinho como uma maneira de economizar dinheiro. Bem, os que propõem levar adiante apenas partes da reforma merecem o mesmo tipo de reação. A reforma só irá funcionar se todas as partes elementares estiverem no lugar certo.
Suponha, por exemplo, que o Congresso tivesse aceito o conselho dos que querem banir a discriminação de seguro com base no histórico médico, e parado por aí. O que teria acontecido em seguida? A resposta, conforme qualquer economista do sistema de saúde poderia confirmar, seria que se o Congresso não solicitasse simultaneamente que pessoas sadias contratassem o seguro, existiria uma "espiral da morte": os americanos mais saudáveis não contratariam seguro saúde, o que levaria a preços maiores para os que contratassem, o que faria com que muitas pessoas desistissem da contratação, e assim por diante.
E se o Congresso tentasse evitar a espiral da morte fazendo com que americanos mais saudáveis contratassem o seguro, ele teria que oferecer ajuda financeira para famílias de baixa renda a fim de possibilitar a compra do seguro ajuda ao menos tão generosa quanto o projeto do Senado. Não existe como fazer a reforma em escala menor.
Dessa forma, pedir ajuda dos republicanos não irá funcionar, e nem tentar aprovar apenas as partes do projeto que agradam a todos. O que dizer da sugestão dada pelos democratas de usar a reconciliação o procedimento do Senado para finalizar a legislação orçamentária, medida esta que evita os impasses a fim de aprovar a reforma?
Essa é uma opção real, que pode se tornar necessária (e pode ser usada para melhorar o projeto do Senado). Entretanto, a reconciliação, que é basicamente limitada a questões de tributação e gastos, não pode provavelmente ser usada para aprovar muitos aspectos importantes da reforma. Na verdade, ainda nem está claro se ela pode ser usada para banir a discriminação com base no histórico médico dos pacientes.
Por fim, alguns democratas querem apenas desistir de tudo.
Isso seria um ato de absoluta tolice política e não protegeria os democratas das acusações de terem votado por um sistema de saúde "socialista" lembre-se, as duas casas do Congresso já aprovaram a reforma. Tudo o que isso iria fazer seria solidificar a percepção que o público tem dos democratas como sendo azarados e inúteis.
De qualquer maneira, a política deve tratar de alcançar algo além de sua própria reeleição. Os EUA precisam desesperadamente da reforma do sistema de saúde; seria uma quebra de confiança se os democratas recuassem apenas por esperarem (erroneamente) que isso pudesse minimizar suas perdas nas eleições durante a metade do mandato de Obama.
Agora, parte do problema dos democratas desde a eleição especial de terça-feira é que estão esperando em vão pela liderança da Casa Branca. Mas Obama, visivelmente, fracassou em lidar com o assunto, e os membros do Congresso, que foram enviados a Washington para servir à população, não têm o direito de se esconder atrás da passividade do presidente.
Lembre-se que os horrores do seguro de saúde preços exorbitantes, cobertura negada àqueles que mais precisam e limitada quanto você realmente fica doente vão piorar ainda mais se a reforma fracassar, e as seguradoras sabem que estão se livrando de uma enrascada. E os eleitores culparão os políticos que, quando têm chance de fazer alguma coisa, inventam desculpas em vez de agir.
Senhoras e senhores, o país está esperando. Parem de se queixar e façam o que é necessário.