De acordo com noticiários, a administração de Obama que pareceu, durante o fim de semana, estar se retratando da "opção pública" para os seguros de saúde está chocada e surpresa com a reação furiosa dos progressistas.
Bem, estou chocado e surpreso com o choque e surpresa de Obama.
Uma reação na base progressista que ajudou o presidente Barack Obama a alcançar o topo nas prévias democratas e teve papel decisivo em sua vitória eleitoral acontece há meses. A briga pela opinião pública envolve substância política real, mas também ofusca questões maiores sobre as prioridades e abordagem geral do presidente.
A ideia de deixar cidadãos comprarem seguros de um plano administrado pelo governo foi apresentada em 2007 por Jacob Hacker, da Universidade de Yale, foi adotada por John Edwards durante as prévias democratas, e se tornou parte do plano original de assistência médica de Obama. Um dos propósitos da opção pública é economizar dinheiro. A experiência adquirida com o Medicare sugere que um plano administrado pelo governo teria custos mais acessíveis para os segurados privados; além disso, ele iria gerar mais concorrência e manter baixos os valores das prestações.
E vamos ser claros: a suposta alternativa, as cooperativas não-lucrativas, é um blefe. Esta opinião não é apenas minha, é o que o mercado diz: as ações de companhias de seguros de saúde subiram bastante após a notícia de que a Gangue dos Seis (senadores), que estava tentando negociar uma abordagem bipartidária a reforma do sistema de saúde, estaria abandonando o plano público. Está claro que os investidores acham que as cooperativas podem oferecer pouca concorrência real a segurados da iniciativa privada.
Além disto, e de extrema importância, a opção pública ofereceu uma maneira de reconciliar diferentes pontos de vista entre os democratas. Até o surgimento dela, uma facção significativa dentro do partido rejeitava qualquer coisa que não fosse uma reforma verdadeira, com um único plano, um Medicare para todos, considerando qualquer coisa menos que isso como perpetuar as falhas de nosso sistema atual. A opção pública, que força os planos de saúde privados a provar sua utilidade ou desaparecer, resolveu algumas dessas divergências.
Tendo isto exposto, é possível termos cobertura universal sem uma opção pública vários países da Europa operam desta maneira e alguns daqueles que defendem tal opção poderiam estar dispostos a abdicar dela se tivessem confiança na estratégia geral do sistema de saúde. Infelizmente, o comportamento do presidente em exercício minou tal confiança. Sobre o assunto do sistema de saúde em si, a figura inspiradora que os progressistas elegeram se tornou um tecnocrata seco que fala em "dobrar a curva", mas somente agora começou a fazer da reforma um caso moral. As explicações de Obama sobre seu plano se tornaram mais claras, mas ele ainda aparece ser incapaz de estabelecer uma fórmula simples e eficaz. Os discursos do presidente ainda parecem mais terem sido escritos por um comitê.
Enquanto isso, em questões delicadas como tortura e detenções mantidas por tempo indefinido, o presidente tem desanimado os progressistas com sua relutância em desafiar ou mudar a política do governo Bush.
E então surge a questão dos bancos.
Eu não sei se as autoridades do governo percebem quanto estrago causaram a si mesmas com seu tratamento delicado do setor financeiro, visto o espetáculo do governo apoiando instituições que estão pagando bônus gigantes. Entretanto, já tive muitas conversas com pessoas que votaram em Obama, mas que rejeitam o estímulo como um total desperdício de dinheiro. Quando as pressiono, descubro que elas estão realmente furiosas com os resgates em vez dos estímulos mas essa é uma distinção que passa despercebida por muitos eleitores.
Há uma noção cada vez maior entre os progressistas de que sofreram um trote, como sugeriu meu colega Frank Rich [colunista do New York Times]. E este é o motivo para os sinais ambíguos a respeito da opção pública criarem tamanho rebuliço.
Agora, a política é a arte do possível. Obama jamais conseguirá fazer tudo o que seus eleitores querem.
Mas há uma linha que divide o realismo da fraqueza, e os progressistas sentem cada vez mais que o governo está no lado errado dela. Parece que não há nada que os republicanos possam fazer que para que o governo reaja: o senador Charles E. Grassley alimenta a mentira dos painéis da morte, alertando que a reforma "desligará o plugue do respirador da vovó", e dois dias depois a Casa Branca declara que ainda está comprometida em trabalhar com ele.
É difícil evitar a sensação de que Obama desperdiçou meses tentando apaziguar pessoas que não podem ser apaziguadas, e que tratam cada concessão como um sinal de que ele pode ser enrolado.
De fato, assim que surgirem os relatos de que o governo possa vir a aceitar as cooperativas como uma alternativa para a opção pública, os líderes republicanos anunciarão que as cooperativas também são inaceitáveis.
Consequentemente, isto revoltou os progressistas. Obama teve certeza de que teria a confiança deles, mas a perdeu no meio do processo. O que ele precisa fazer agora é reconquistá-la.