Se Obama for reeleito, ele irá expandir a cobertura de seu sistema de saúde, aumentar os impostos sobre os ricos e intensificar a regulamentação sobre as atividades de Wall Street. Mas, se, em vez disso, Mitt Romney vencer, ele irá encolher substancialmente a cobertura do sistema de saúde, diminuir os impostos sobre os ricos, a níveis jamais vistos nos últimos 80 anos, e relaxar a regulamentação financeira.
Dada a nitidez dessa diferença, era de se esperar que as pessoas dos dois lados da fronteira política tentassem persuadir os eleitores a votar com base nessas questões. Ultimamente, porém, eu vejo um número cada vez maior de apoiadores de Romney propondo um argumento muito diferente. Votem em Romney, eles dizem, porque, se ele perder, os republicanos destruirão a economia.
Tudo bem que suas palavras não são exatamente essas. O argumento é posto em termos de um "entrave partidário", como se ambos os partidos fossem igualmente extremos. Mas não são. A questão aqui, na realidade, é agradar aos homens inflexíveis do Partido Republicano.
O ponto de partida para declarações do tipo "vote em Romney, senão..." é a noção de que, uma vez reeleito, o presidente Obama não seria capaz de conseguir fazer nada em seu segundo mandato. O que eles não veem é o fato de que ele já fez muita coisa, como a reforma financeira e do sistema de saúde reformas que terão efeito se, e somente se, ele for reeleito.
Mas será que Obama seria capaz de negociar a "Grande Barganha" sobre o orçamento? Provavelmente não. Mas e daí?
A América não está diante de nenhuma crise fiscal a curto prazo, exceto na mente fervorosa de alguns políticos. Se você está preocupado com o desequilíbrio a longo prazo entre despesas e receita, bem, isso é uma questão que terá de ser resolvida uma hora, mas não é agora. Além disso, eu diria que qualquer suposta "Grande Barganha" seria inútil enquanto o Partido Republicano continuar sendo tão extremo quanto é agora, porque o próximo presidente republicano, seguindo os passos de George W. Bush, iria desperdiçar os ganhos em cortes tributários e guerras sem fundos.
Por isso não devemos nos preocupar com a habilidade de Obama conseguir fazer o que precisa ser feito se for reeleito. Por outro lado, é razoável se preocupar com o fato de que os republicanos se esforçarão ao máximo para deixar o país impossível de ser governado durante o segundo mandato de Obama. Afinal de contas, é isso que eles têm feito desde que Obama assumiu o cargo.
Durante os primeiros dois anos da presidência de Obama, quando os democratas controlavam ambas as casas do Congresso, os republicanos ofereceram uma oposição ferrenha a tudo e qualquer coisa que Obama propusesse. Entre outras coisas, eles criaram um número sem precedentes de obstruções, transformando o Senado pela primeira vez numa câmara onde proposta alguma poderia passar sem que antes obtivesse 60 votos.
E, quando os republicanos tomaram controle da casa, eles se tornaram ainda mais extremos. O impasse sobre o teto do déficit de 2011 foi um marco na história dos EUA: um partido da oposição se declarou disposto a minar toda a plena fé e crédito do governo do país, com consequências econômicas incalculáveis, a não ser que lhes dessem o que queriam. E a briga que paira em torno da questão do "abismo fiscal" é mais do mesmo.
Mais uma vez, os republicanos estão ameaçando causar um enorme prejuízo à economia, a não ser que Obama lhes dê algo uma extensão dos cortes tributários para os ricos que eles mesmos não podem conseguir por não terem os votos necessários através dos processos constitucionais normais.
Será, então, que um Senado democrata ofereceria uma oposição igualmente extrema a Romney, se ele se tornar presidente? Não, não ofereceria. Por isso, sim, de fato, o "entrave partidário" causaria menos estragos se Romney vencesse.
Mas será que nós estamos prontos para viver num país onde o argumento político vencedor será "Que belo país vocês têm aí. Seria uma pena se alguma coisa acontecesse com ele"? Espero que não. Vocês têm todo o direito de votar em Romney se acham que ele oferece as melhores políticas. Mas o argumento de que ele seria capaz de dobrar a oposição e utilizar esse argumento para apoiá-lo chega muito perto da aceitação de uma política do tipo de esquema mafioso de extorsão em troca de proteção. E isso é algo que não tem lugar na vida norte americana.
Tradução de Adriano Scandolara.