De repente tornou-se fácil de ver como o euro esse grande e falho experimento em termos de fusão monetária sem uma união política poderia se desmantelar a partir de suas linhas de conexão. E também não estamos falando de uma perspectiva a longo prazo. As coisas podiam se desfazer com uma velocidade assombrosa, em uma questão de meses, não de anos. E os custos tanto econômicos quanto, o que é discutivelmente mais importante, políticos poderiam ser enormes.
Isso não precisa acontecer: o euro (ou, pelo menos, a maior parte dele) ainda pode ser salvo. Mas isso exigirá que os líderes europeus, sobretudo na Alemanha e no Banco Central Europeu, ajam de modo bem diferente da forma como têm agido nos últimos anos. Eles precisam parar com o moralismo e começar a lidar com a realidade; necessitam deixar de temporizar e, para variar um pouco, começar a antecipar as coisas.
Eu queria poder dizer que sou um otimista.
Eis a história até o momento: quando o euro passou a existir, houve uma grande onda de otimismo na Europa e isso, pelo que deu para ver, foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Entrou dinheiro na Espanha e em outras nações, que passaram a ser vistas como investimentos seguros. Essa enxurrada de capital alimentou enormes bolhas imobiliárias e enormes déficits comerciais. Então, com a crise financeira de 2008, a enxurrada secou, causando crises severas nessas mesmas nações que haviam prosperado anteriormente.
A essa altura, a falta de união política da Europa se tornou uma deficiência severa. A Flórida e a Espanha ambas tinham uma bolha imobiliária, mas, quando a da Flórida estourou, os aposentados ainda podiam contar com seus cheques da Previdência Social e do Medicare [programa de saúde nacional para indivíduos acima de 65 anos ou portadores de necessidades especiais], vindos de Washington. A Espanha não recebe nenhum apoio comparável. Assim, a bolha que estourou se tornou também uma crise fiscal.
A resposta da Europa tem sido a austeridade: cortes selvagens nas despesas em uma tentativa de garantir outra vez os mercados de títulos. Porém, como qualquer economista com bom senso poderia ter avisado (e como nós avisamos), esses cortes pioraram a depressão, o que simultaneamente minou a confiança dos investidores e levou à crescente instabilidade política.
E agora vem o momento da verdade.
A Grécia é, no momento, o ponto focal. Os eleitores que estão consideravelmente furiosos por conta das políticas que resultaram numa taxa de desemprego de 22% mais de 50% entre os jovens se viraram contra os partidos que estavam pondo essas políticas em prática. E porque todo o estabelecimento político da Grécia estava, com efeito, sendo pressionado para endossar uma ortodoxia econômica condenada, a revolta dos eleitores resultou em uma ascensão ao poder dos extremistas. Mesmo que as pesquisas estejam erradas, e a aliança do governo de algum modo traga uma maioria no próximo turno das eleições, o jogo basicamente já acabou: a Grécia não irá e não poderá pôr em prática as políticas que a Alemanha e o Banco Central Europeu estão exigindo.
Pois, então, e agora? No momento, a Grécia passa pelo que estão chamando de "corridinha aos bancos" uma corrida às instituições financeiras em câmera lenta, na medida em que cada vez mais depositantes estão retirando o dinheiro depositado em antecipação a uma possível saída da Grécia do euro. O Banco Central Europeu está, com efeito, financiando essa corrida ao emprestar para a Grécia os euros necessários; se e (provavelmente) quando o Banco Central decidir que não poderá mais emprestar, a Grécia será forçada a abandonar o euro e começar a produzir sua própria moeda outra vez.
A demonstração de que o euro é, na verdade, reversível poderia, por sua vez, levar a corridas aos bancos da Espanha e da Itália. Mais uma vez, o Banco Central Europeu teria de escolher entre fornecer fundos de investimento aberto ou não; se optasse pelo não, o euro como um todo poderia implodir.
Esse financiamento, porém, não é o suficiente. A Itália e a Espanha, em particular, precisam de uma esperança um ambiente econômico no qual possam ter uma perspectiva razoável para emergir da austeridade e depressão. O único modo realista de providenciar um ambiente assim seria se o Banco Central abandonasse sua obsessão pela estabilidade de preços e aceitasse e realmente encorajasse vários anos de 3 ou 4% de inflação na Europa (e ainda mais do que isso na Alemanha).
Tanto os banqueiros do Banco Central quanto os alemães odeiam essa ideia, mas é a única maneira plausível de se salvar o euro. Durante os últimos dois anos e meio, os líderes europeus têm respondido à crise com medidas provisórias para ganhar tempo, mas não têm feito nenhum uso do tempo ganho. E agora esse tempo acabou.
Sendo assim, será que a Europa irá finalmente dar um jeito na situação? Esperemos que sim e não somente porque a quebra do euro teria consequências negativas no mundo inteiro. Pois os maiores custos do fracasso das políticas da Europa provavelmente seriam políticos.
Pensem nisso da seguinte maneira: o fracasso do euro resultaria em uma enorme derrota para todo o projeto europeu em grande escala, para a tentativa de trazer paz, prosperidade e democracia para um continente com uma história terrível. Teria o mesmo efeito que o fracasso da austeridade teve na Grécia, o de descreditar as principais correntes políticas e dar mais poder aos extremistas.
Todos nós, então, temos muito em jogo com o sucesso europeu no entanto, chegar a esse sucesso depende dos europeus. O mundo inteiro espera para ver se eles darão conta da tarefa.
Tradução: Adriano Scandolara