Estar disponível para a empresa é uma questão importantíssima, já que muitas vezes a vida útil de um profissional numa empresa depende disso. Acontece que, na construção da carreira dentro de uma empresa podem aparecer demandas por parte do empregador que, muitas vezes, não condizem com as nossas expectativas. Para ilustrar melhor o que quero dizer, venho contar a história de um executivo que conheço desde a época que tudo isso aconteceu.
Marcos desenvolveu carreira numa multinacional importante e, ao ingressar na empresa, sabia aonde queria chegar: no topo da pirâmide daquela organização. E, para isso, certamente teria que atender alguns pré-requisitos, dentre eles, mudar-se de cidade. Ele era casado há apenas seis anos quando recebeu sua primeira promoção. Já com três filhos aceitou o desafio, com a aprovação de sua esposa, de se mudar para uma importante cidade paulista.
Era como se começassem uma nova vida. Com filhos pequenos, o desafio parecia ser ainda maior. Ter que achar apartamento que comportasse a todos de forma confortável, escolher a melhor escola, sem nem mesmo conhecer a cidade, e ambientar-se eram os maiores desafios. Mas, tiraram de letra, visto que o motivo que os levara a isso era realmente muito bom.
Não demorou muito para que ele fosse convidado a se mudar para o Sul. Com o clima mais semelhante a sua cidade de origem, a adaptação foi fácil. Aqui, porém, ficaram menos tempo que imaginavam. A nova promoção não esperou um ano para acontecer e, com o apoio constante da esposa, Marcos aceitou a proposta de ir morar no Nordeste.
A realidade era outra agora. A cidade em que moravam não tinha muitos avanços naquela época. Sem contar que o clima praiano era completamente diferente.
O próximo desafio foi muito bem recebido por todos da família. Marcos foi promovido e convidado a morar numa cidade no Sudeste. Morar lá e, de quebra, estar mais próximo do Sul parecia ser muito bom. E foi! Mas essa experiência durou menos de um ano. Marcos recebeu mais uma promoção e seu caminho rumo ao topo da pirâmide parecia ser o certo. O novo destino era novamente no Nordeste, mas, desta vez, uma cidade mais moderna e reconhecida nacionalmente. Sua esposa, sempre muito compreensiva, aceitou mais uma vez, mas era nítido que ela não aguentava mais essa vida cigana.
Nessa cidade, Marcos ficou a maior parte do tempo em que esteve à disposição daquela empresa. Para agradar à sua família, alugou um apartamento de frente para o mar, espaçoso, com área de lazer suficiente para dar aos seus filhos infraestrutura necessária para sua diversão. Lá se foram três anos. Parecia que, enfim, tinham encontrado o tal lar doce lar.
Mas, para sua surpresa, após três anos muito bem vividos, Marcos foi promovido novamente e convidado a morar, desta vez, fora do Brasil. Londres era o destino e, ao saber disso, ficou ainda mais feliz. Ao chegar em casa e contar a notícia, veio a decisão cortante de sua esposa: ela lhe disse, muito tranquilamente, que lhe apoiava na decisão que tomasse, mas ela voltaria para o Sul com os filhos. Não teve conversa, e Marcos recusou a promoção. Porém, nesses casos, a empresa não tem muito o que fazer com o colaborador. Ao negar o convite, o executivo ficou suscetível às decisões da organização e foi mandado de volta a sua cidade de origem, num cargo inferior ao que tinha antes. É claro que sua carreira dentro daquela empresa havia se encerrado e ele ainda trabalhou na companhia por mais dois anos antes de pedir demissão. Ele sentiu, durante esse tempo, que foi subutilizado. Foi assim que, após 15 anos trabalhando para a mesma empresa, deixou de ser funcionário para se tornar empresário.
Ele não nega que queria ter aceitado aquele convite. Trabalhar em Londres era um sonho. Hoje ele não se arrepende da decisão e jamais culpou sua esposa por isso. Pelo contrário, é grato a ela por ter lhe apoiado durante todos esses anos e, sem dúvida, ela tem papel fundamental no que ele se tornou, um grande empresário da área hoteleira.