Há alguns dias aconteceu uma coisa curiosa. Ao parar meu carro num estacionamento, o frentista que me atendeu me reconheceu por causa de minhas participações, às sextas-feiras, no Bom Dia Paraná e, brincando, solicitou-me que falasse um pouco sobre os "chefes malas". Apesar de ser uma expressão bastante popular, gostei do tema e hoje o retrato aqui. Os indivíduos caracterizados como "malas" nada mais são que pessoas extremamente chatas. Suas chatices (ou esquisitices) podem ser notadas de diversas formas. Sejam pela sua intransigência, inflexibilidade, cobranças exageradas, ou, simplesmente, pela forma como tratam os outros. De antemão digo que tais características não combinam com o perfil de um bom profissional e, muito menos, de um líder. Exatamente por isso, resolvi acatar o pedido do frentista e relatar a história de um coordenador que conheci.
Javier era um profissional extremamente competente tecnicamente e entendia todos os processos da empresa em que trabalhava. Talvez por isso foi nomeado como coordenador de operações de um grupo que abrangia cinco unidades distribuídas em território nacional. No começo, como ainda não estava acostumado a lidar diretamente com subordinados, sua liderança foi levada de forma ineficaz. Ele não tinha pulso para ditar suas regras e, muito menos, para impor limites aos membros das equipes. Em pouco tempo de gestão, pôde-se notar uma drástica queda nos resultados da empresa. Ninguém sabe ao certo o porquê disso acontecer, mas logo o diretor da empresa o chamou para uma conversa e explanou sua percepção quanto à sua gestão de equipes.
Para a surpresa do novo coordenador, a empresa não estava satisfeita com seu trabalho. Os demais funcionários não encontravam firmeza nas diretrizes que ele passava, assim como achavam que os prazos não ficavam bem estabelecidos, deixando muitas coisas prioritárias de lado. Javier notou que seu único problema era a forma de liderar, e decidiu que, a partir de então, usufruiria de seu poder para botar ordem na empresa. Foi aí que o erro todo começou. Javier não soube medir o tamanho do seu poder e, muito menos, a finalidade dele.
Em questão de semanas, Javier começou a abusar do domínio que possuía para exigir, de forma nada convencional, que seus subordinados fizessem suas tarefas dentro dos moldes da empresa. Tornou-se um profissional altamente intransigente e não aceitava nenhuma opinião que divergisse da sua. O coordenador não acolhia as desculpas dos seus funcionários e não abria mão de nenhum dever que fosse pertinente a eles. Queria que tudo girasse em torno dos processos estabelecidos e qualquer coisa que saísse além desses limites era tratado de forma humilhante. Aliás, ofensas de sua parte se tornaram coisas corriqueiras na empresa. Quando Javier via que algo estava errado, humilhava seus funcionários como forma de puni-los pelos erros.
Não demorou muito para que funcionários começassem a pedir as contas. No início foram os funcionários mais sensíveis, que não aguentaram a forma severa com que ele tratava das coisas. Depois alguns colaboradores que julgavam incompatibilidade de ideologia e que, com isso, desistiram da empresa. E o pior, cada novo funcionário que entrava na corporação era também uma nova decepção. Porém, o que os funcionários mais antigos não entendiam era como que, em tão pouco tempo, Javier mudara tão drasticamente de personalidade.
Eu tenho uma explicação muito simples para isso. Na verdade, Javier sempre teve um pouco de "chatice" em sua personalidade. A forma com que tratava as pessoas que ele julgava inferiores a ele mesmo, seja por questões sociais, religiosas ou raciais, mostrava bem quem ele realmente era. Talvez seja por isso que ele era sempre visto sozinho pelos cantos, pois ninguém queria sua companhia. Na empresa, entretanto, ele conseguia burlar isso tranquilamente, pois se obrigava a manter uma postura mais profissional, afinal, ambiente de trabalho requer, realmente, uma postura mais séria. Porém, quando lhe deram o poder nas mãos, sua personalidade mudou assustadoramente e, como dizem, sua máscara caiu, mostrando a todos quem ele realmente é. Preocupo-me com a forma com que as coisas acontecerão com Javier lá na frente. A tendência é que ele se torne cada vez mais sozinho e que afaste de si boas pessoas e bons profissionais.
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