Certa vez, ao visitar um cliente e definir o perfil da vaga que estávamos negociando, ele me solicitou que esse profissional possuísse algum tipo de deficiência, pois queria começar a oferecer vagas para pessoas com necessidades especiais. Falou por horas sobre a importância de abrir portas para essas pessoas, que têm inteligência semelhante ou superior a muitos profissionais que encontramos no mercado, mas que não conseguem as mesmas chances. Concordei com ele e achei interessante o que ele dizia, pois partira dele a vontade de fazer essa contratação e não de um superior, ou uma lei, ou qualquer outra coisa que pudesse influenciar sua decisão.

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Rogério era alguém de coração bom. Durante a semana, dedicava-se à profissão com afinco e de maneira realmente admirável. Nos fins de semana, participava como voluntário em um hospital que tratava de crianças com câncer e, em datas especiais, "adotava" crianças órfãs para que elas pudessem passar esses dias ao lado de uma família. E, por fim, fazia doações financeiras periódicas, a fim de ajudar pessoas com deficiências físicas a se reabilitarem.

Voltando à descrição da vaga, perguntei ao meu cliente sobre as condições que a empresa deveria oferecer ao novo profissional. Rogério não entendeu bem a minha pergunta no princípio. Mas logo comecei a explicar que para receber uma pessoa deficiente em sua empresa, precisaria prepará-la para isso em detalhes que talvez nem ele, que sempre lidava com isso, pudesse imaginar.

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Contei-lhe sobre uma situação que vivenciei, certa vez, de uma empresa que, ao receber um cliente cadeirante, passou por maus bocados ao perceber que a casa onde funcionava a empresa não oferecia infraestrutura necessária a uma pessoa como ele. Foi muito difícil contornar a situação, já que o diretor, constrangido e indignado, pôs-se a fazer uma série de ressalvas em relação àquilo, deixando quem as recebia atordoados e de mãos atadas. Não tinham, realmente, o que fazer e, ao oferecerem carregá-lo ao segundo andar, receberam um justo "não" do cliente.

Foi então que Rogério começou a pensar na infraestrutura do prédio onde funcionava a empresa onde trabalhava. Na portaria havia rampas para cadeirantes, pisos antederrapantes e portas largas. Nos elevadores caberia tranquilamente uma cadeira de rodas. Porém, ao imaginar seu escritório, lembrou que as portas eram estreitas, o que certamente dificultaria muita coisa. Sem contar os banheiros que não eram adaptados, e até mesmo as estações de trabalho, que não comportariam tais necessidades.

Perguntou-me, então, como faziam as empresas que mantinham esses profissionais e nem demonstravam ter de fazer tantas adaptações. Claro que todas elas se prepararam. Aliás, expliquei a Rogério que a inclusão demandava um esforço, não só estrutural, mas emocional também. Algumas pessoas, infelizmente, não estão acostumadas com esse tipo de solidariedade e acabam sendo inadequadas em suas formas de tratar esses profissionais que são como qualquer outra pessoa.

Surpreso com uma ignorância que ele não imaginava ter, declinou do pedido. Insatisfeito com sua decisão, perguntei o motivo. Rogério, decepcionado, explicou-me que a diretoria da empresa em que ele trabalha infelizmente não teria essa consciência e jamais aceitaria fazer investimentos para recepcionar o novo colaborador com necessidades especiais.

Para minha surpresa, porém, alguns anos depois, Rogério, que havia se recolocado numa outra empresa com princípios muito fortes em responsabilidade social, chamou-me para uma nova conversa. Solicitou-me um executivo com necessidades especiais de locomoção, demonstrando grande satisfação em, agora, poder recepcionar bem qualquer pessoa, já que aquela empresa era muito bem preparada por isso.

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