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Assistindo ao jornal durante a semana, vi uma matéria sobre a escassez de jovens disponíveis para estagiar. Os motivos não poderiam ser piores: eles preferem nesse momento priorizar as férias, o carnaval e outras ações muito menos importantes do que suas próprias carreiras. É triste ver jovens não dando a devida importância ao estágio. Isso me fez lembrar a história de um rapaz que após assistir a uma palestra minha, engatou num papo comigo pelo qual me interessei e ouvi até o fim.

Alex começou elogiando minha apresentação e dizendo que, infelizmente, não concordava comigo no que dizia respeito a estágios e programas de trainees. Segundo o rapaz, com o que ele aprendia na faculdade, era completamente capaz de atender a qualquer demanda que chegasse a ele. Alex considerava estágio um abuso da empresas em utilizar mão de obra barata para executar tarefas banais, que não complementavam o conhecimento de ninguém.

Não discordei do rapaz sobre algumas empresas realmente contratarem estagiários para conseguir a tal mão de obra barata. Por outro lado, expliquei ao moço que nas empresas sérias não era assim que a "banda tocava" e que são essas empresas que os jovens devem buscar para realizar seus estágios. Até porque, convenhamos, quem acaba de sair de uma graduação, ainda não possui experiência suficiente para assumir responsabilidades maiores. O estágio tem o papel principal de preparar esses jovens para que, quando formados, não cheguem crus no mercado de trabalho.

Mas, Alex discordava ainda assim. Contou-me sobre sua única experiência como estagiário. De acordo com ele, iniciou suas atividades numa construtora. O rapaz, que cursava Publicidade e Propaganda, ingressou na companhia acreditando ser uma excelente oportunidade de colocar em prática alguns aprendizados do curso que tanto amava. Já na primeira semana, quando ainda organizava sua papelada, percebeu, porém, que nem mesmo um coordenador de estágio teria. Para burlar a burocracia junto aos órgãos de estágio de sua cidade, a empresa conseguiu um funcionário que havia formação em PP para assinar seus papéis, mas ele sequer trabalhava nessa área. Na verdade, nem mesmo existia essa área na empresa.

No primeiro dia de suas atividades, seu chefe lhe chamou para uma conversa e explicou o quê exatamente ele faria como estagiário. Em princípio, o rapaz precisaria ficar num dos apartamentos decorados da empresa, apresentando as instalações aos visitantes. Alex estranhou e tentou entender qual ligação isso teria com Publicidade e Propaganda. Porém, como não sabia exatamente como essa tarefa funcionaria, resolveu tentar para ver até onde isso iria. Antes de conhecer o apartamento decorado, entretanto, seu chefe lhe explicou que nas duas primeiras semanas ele precisaria permanecer no escritório para entender o funcionamento da empresa e a sua cultura organizacional.

Alex contou-me que durante essas duas semanas ficava sentado em uma mesa no canto do escritório, esperando surgirem demandas que não passavam de favores como: ir à sala de cópias, copiar alguns documentos; fazer ligações para seu chefe agendando horários com clientes; ir ao banco efetuar pagamentos; fazer compras de materiais de escritórios, dentre outros. Segundo o rapaz, ele percebeu que estava numa cilada quando pediram que ele sempre fizesse um café quando chegasse ao escritório. O rapaz me explicou que não teria nada contra fazer esse tipo de favor, desde que suas atividades principais fossem relacionadas à Publicidade e Propaganda. Como não era bem isso que acontecia, o moço acabou recusando continuar na empresa. De acordo com ele, após ir para o apartamento decorado e perceber que lá ele era, nada mais nada menos, que um vigia (pois quem fazia as apresentações eram os corretores), desistiu de tentar aquele estágio e qualquer outra oportunidade semelhante que aparecesse em seu caminho.

Concordo com Alex em alguns pontos. Porém, não dá para generalizar e acreditar que todos os estágios sejam como esse. Pelo contrário... muitos profissionais excelentes que temos hoje, a maioria eu diria, começaram estagiando em empresas que conheciam a real importância de um programa de estágio.

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