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A personalidade das pessoas é algo que sempre me fascinou. Todo grupo de trabalho tem um piadista, um exibido, um mal-humorado, a meiga, a inocente, aquele que ri de tudo e, impreterivelmente, um tímido.

É bom estabelecer aqui também um delimitador de águas. Os tímidos odeiam estar em evidência, pois estão sujeitos ao julgamento de outras pessoas. Temem o erro, a exposição pública e, principalmente, passar vexame (leia-se pagar mico). Enquanto isso, o introvertido valoriza e não se importa com a solidão e o silêncio. Eles gostam disso, na verdade. Sentem-se mais produtivos e confortáveis em ambientes assim. Embora estes dois perfis estejam muito ligados, são bastante diferentes. Os tímidos quase sempre têm um caráter mais introspectivo, mas nem todo introvertido é tímido.

Como toda empresa, há as pessoas de bastidores, como desenvolvedores de softwares, e as pessoas de exposição pública, como consultores de vendas. Obviamente isso não é uma regra, mas algumas profissões e cargos são muito ligados a determinados tipos de perfis comportamentais. Os tímidos desempenham com primor esta função de suporte, de bastidores, para que os outros peguem seu trabalho e o "façam brilhar" aos olhos do cliente. E é no fazer brilhar que, para muitos deles, mora a dificuldade.

Talvez a queixa mais comum dos tímidos seja a exposição pública, não somente em apresentações, mas até mesmo em conversas informais com várias pessoas, como almoços e happy hours. Entretanto, algo impressionante que descobri com algumas dessas pessoas é a cautela e o preparo mais detalhado que estas pessoas geralmente têm com apresentações e projetos. Outro ponto importante é a capacidade de observação e análise. O profissional que tem essas características de maneira marcante em seu caráter transmite mais confiança aos outros, mesmo que não tenha uma habilidade forte em oratória.

Duas habilidades interessantes de analisar nestas pessoas é a de negociar e investir. Pela média – e há algumas pesquisas sobre isso – os tímidos têm o melhor perfil para investir, pois arriscam menos e calculam mais antes de tomar uma decisão. São bons negociadores também, pois ouvem mais as necessidades do outro, pensam mais antes de falar e se expressam com calma, modulando o discurso de acordo com aquilo que ouviram.

Geralmente trabalham com atividades que requerem maior concentração e foco e que, obviamente, têm menor contato social justamente pela complexidade das atividades desempenhadas. Não enxergam como esforço extraordinário a necessidade de enclausurar-se e concentrar-se para desempenhar algo complexo. Em compensação, podem ter grande dificuldade para apresentar algo aos colegas, mesmo que sejam poucos. Evitam conflitos ao máximo e pensam muito antes de falar, pois têm o receio do que os outros vão pensar.

Algumas empresas já perceberam o poder dos introvertidos e levam em consideração essa característica na hora de contratar e de planejar o esquema de trabalho desses funcionários dentro de seu quadro funcional.

Como lidar e trabalhar com os tímidos

Bernt, por que comentar características comportamentais dessas pessoas? Já cansei de ouvir gestores, gerentes e presidentes de todos os tamanhos de empresas comentarem comigo que essas pessoas escondem um arsenal impressionante de habilidades. E a dificuldade desses gestores com os funcionários tímidos é justamente avalia-los com rigor e saber com precisão quais são essas habilidades que eles possuem.

A extroversão é muito importante para que os outros percebam melhor o potencial do profissional, além de possibilitar uma convivência mais agradável – e cabe ao líder saber descobrir estas habilidades e proporcionar um ambiente de convivência que agrade a todos. E ambiente agradável não é aquele em que há conversa e piadinhas o tempo todo. Não são todos que gostam de estar em um ambiente barulhento e com conversa intensa. Muitos desses gênios mudos gostam do silêncio, produzem melhor lá. Por isso, líder, pergunte, instigue sua equipe. Peça para que escrevam ou falem as principais habilidades e dificuldades na empresa ou no setor em que trabalham. Mapear os perfis comportamentais e suas necessidades é essencial para saber onde e porque estão acontecendo problemas e, mais importante ainda, como corrigi-los.

É importante que a empresa leve em consideração a personalidade dessas pessoas antes de remanejá-las dentro da empresa. Profissionais tímidos que são excelentes tecnicamente podem se sentir extremamente desconfortáveis em cargos de liderança por simplesmente não saberem conduzir pessoas, dar feedbacks, cobrar desempenho, cobrar entregas, elogiar. Lembrando que o líder precisa ter uma boa habilidade social para conduzir o grupo com perfeição, algo que algumas dessas pessoas podem não ter. Por outro lado, estes mesmos tímidos gestores podem ter uma capacidade incrível de gerenciar e conduzir projetos com a equipe, por terem uma visão sistêmica e técnica muito aprimorada, controlando recursos e problemas com maior rapidez e assertividade.

Por último, reitero a importância da adequação do ambiente de trabalho à equipe – dentro do possível, é claro. Ao lado disso deve estar a preocupação em incentivar individualmente o desenvolvimento de habilidades específicas. Nesse caso, a oratória e a habilidade social. Há inúmeras maneiras de estimular essas pessoas de maneira saudável sem fazer que sofram por isso. Lembre-se da importância e do potencial que tem este tipo de capital humano e você descobrirá aptidões e funcionalidades antes inimagináveis na sua equipe.

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