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Histórias como essa que contarei hoje são raras. Conheci Daniela numa palestra que proferi numa grande Universidade do Sul, há alguns anos. A moça, filha de pais ricos e casada com um empresário bem sucedido da área de alimentos, estudou nas melhores instituições do país e fora dele. Com acesso a conhecimento e diferentes culturas, sem contar a excelente criação que recebera de seus pais, Daniela nunca quis se acomodar com as facilidades da magnífica condição financeira de sua família. Pelo contrário, fazia questão de sempre trabalhar para se desenvolver profissionalmente e, de quebra, ocupar seu tempo como qualquer outro ser humano do planeta.

Porém, com o passar dos anos começou a sentir que, mesmo fazendo o que gostava, ela parecia sempre frustrada, como se o que fizesse não lhe trouxesse um real sentido de vida. A moça, que estudara psicologia, não se sentia realizada apenas clinicando. Ganhar o dinheiro no fim de cada consulta, então, era algo que realmente não fazia muita diferença para alguém tão abastada.

Foi então que ela percebeu que talvez pudesse tirar um proveito muito maior se pudesse unir o útil ao agradável. E, nesse caso, o útil para Daniela seria trabalhar com o que gostava e o agradável seria ajudar pessoas carentes. Para começar seu projeto, abriu as portas de seu requintado consultório para pessoas que precisavam de auxílio psicológico, mas que não tinham condições para custear tal tratamento. Porém, mesmo com toda a boa vontade do mundo, muitas dessas pessoas eram tão carentes financeiramente, que não conseguiam sair de suas comunidades para ir ao seu consultório, localizado num bairro distante e nobre da cidade onde morava. Por mais que ela tivesse a boa vontade em ajudar, percebia que da forma que planejara, possivelmente logo "daria com os burros n’água".

Engajada em ajudar efetivamente a um número maior de pessoas, Daniela foi até um hospital oncológico e ofereceu seus préstimos. Começou atendendo a pacientes com câncer e aos familiares que acompanhavam a rotina de quimioterapias e radioterapias, temendo constantemente a perda de seus entes queridos. Julgava de extrema importância fortalecer o lado emocional dessas pessoas que precisavam estar à disposição daqueles pacientes que necessitavam de apoio contínuo.

Foi nesse hospital que a moça conheceu a ala oncológica pediátrica e se deparou com uma realidade cruel: a grande quantidade de crianças com câncer. Percebeu que, por se tratarem de crianças, os pais (as mães, principalmente) muitas vezes precisavam abdicar do trabalho para ficar integralmente na companhia dos filhos. Em alguns casos, ficavam dias, semanas ou meses internados, sem poder ir em casa. Até mesmo porque, muitas famílias vinham outras cidades e o hospital se tornava, também, um espécie de hotel. E o tratamento, que por si só já era bastante difícil, tornava-se ainda pior quando esses permaneciam no hospital por um longo período de tempo.

Foi assim que Daniela resolveu se especializar no atendimento a famílias de crianças com câncer. Dividiu seu tempo entre consultas no próprio hospital, e outras em seu consultório, para aqueles pacientes e familiares que não estavam internados.

Ao perguntá-la sobre sua satisfação pessoal, agora que sabe que ajuda muitas famílias, a resposta não poderia ter sido melhor: Daniela disse que sentia como se ajudasse a curar cada criança daquela, já que para o sucesso de um tratamento como o de câncer, é fundamental que todos os envolvidos estejam bem emocionalmente para dar esperança àqueles que sofrem com uma doença tão agressiva.

Perguntei a ela o porquê então de ela assistir a minha pa­­lestra, que visa bastante o desenvolvimento profissional e o crescimento na carreira. Daniele contou que não é porque ela faz um trabalho voluntário que deixaria de se profissionalizar. Pelo contrário, segundo ela, quanto mais pudesse aprender e se especializar, melhor para seus pacientes e para sua própria realização profissional.

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