Sempre tive grande admiração por Priscila, uma moça que trabalhou com um empresário amigo por muitos anos e talvez nunca soube o potencial que tinha, por puro medo de ser substituída por um de seus subordinados. Priscila era jovem para a posição que ocupava, porém, não nego, não deixava nada a desejar aos profissionais mais experientes. Quando muito nova, participou de um processo de intercâmbio no Canadá, onde aprimorou seu inglês. Já no primeiro período da faculdade de Psicologia, começou a estagiar numa empresa de Recrutamento e Seleção de Executivos, onde ficou por dois anos, até ser convidada por uma companhia familiar a ocupar o cargo de analista de Recursos Humanos.

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Foi nessa empresa que ela galgou degraus importantes em sua carreira. Num curto espaço de tempo, passou de analista a coordenadora. Acreditava que não poderia mais crescer naquela organização; porém, quando menos imaginava, vislumbrou uma nova oportunidade, a chance de assumir a gerência de sua área. Com uma grande equipe para coordenar, e assumindo novos projetos importantes, sentiu necessidade de melhorar a qualidade dos funcionários que trabalhavam consigo.

Um deles, em especial, chamou a atenção de Priscila de uma forma diferente. Rogério tinha mais ou menos a mesma idade que a moça, dominava o inglês, além de falar também alemão, e tinha formação semelhante à dela. Além disso, era um profissional extremamente proativo, dinâmico e rigoroso na qualidade de seu trabalho. Sem contar sua criatividade impressionante.

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Com a possibilidade de assumir a gerência de RH da empresa, Priscila viu-se num dilema. Precisava preparar alguém para assumir o cargo de coordenador. Pensando friamente, não tinha dúvida de que Rogério era a pessoa mais indicada. Porém, quando imaginava nas ameaças que o rapaz lhe apresentava, sentia um nó na garganta. Atordoada com a inusitada situação que enfrentava, pensou em treinar Júlia, uma moça muito capaz, mas muito aquém de Rogério.

Priscila pensou por dias a fio, sem conseguir chegar a uma conclusão plausível. Sabia da importância em ter alguém competente ao seu lado, mas tinha medo de que Rogério se destacasse e, aos poucos, fosse ofuscando o brilho dela. O que mais me deixa triste nessa história é a certeza de que Priscila jamais seria superada pelo rapaz. Por mais que ele fosse muito bom, Priscila era especial. Uma profissional que dificilmente encontrei por onde andei, principalmente pelo fato de ela ser tão jovem e possuir tantas habilidades! Sem exagero algum, diria que a moça tinha um talento nato para a profissão que escolheu, sendo vista realmente como referência em seu meio, com tão pouca idade. O grande problema é que ela não se via dessa forma. Não imaginava o tamanho de sua capacidade, e muito menos entendia que não precisava ter medo algum do rapaz.

A moça tomou consciência de que a melhor opção era realmente Rogério. Durante meses preparou o rapaz para assumir a coordenação de RH e, algum tempo depois, ambos foram promovidos. Feliz com a posse da gerência, Priscila se viu com novos e grandes desafios a enfrentar. Não imaginava que assumir aquele cargo lhe traria tantas responsabilidades. Porém, em vez de utilizar Rogério a seu favor, teve medo de lhe imputar algumas tarefas. Começou a assumir alguns projetos mais importantes sozinha, e as tarefas menos importantes passava aos subordinados de Rogério. Com o tempo, essa conduta repleta de insegurança começou a lhe causar problemas. O jovem, insatisfeito por ser sempre deixado de lado, começou a brigar por seu espaço. Ela, por sua vez, tinha medo de reagir inadequadamente e demonstrar todo o pavor de ser abafada pelo próprio funcionário.

O resultado disso foi completamente previsível. Seus superiores perceberam o que acontecia e, depois de muito conversar, chegaram à conclusão de que o tempo da moça naquela organização já havia expirado e ela não poderia mais contribuir com a empresa. Fiquei deveras triste com esse desfecho, já que a moça era excelente. Mas sua nova postura realmente depunha contra si mesma.

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