Lamentavelmente, recebi uma triste notícia de um conhecido que teve que demitir um funcionário por justa causa. Digo triste, pois, como já citei inúmeras vezes, nenhum empresário gosta de demitir seus funcionários e, mais triste ainda, é ter que demitir por justa causa. Porém, após ele me contar o que havia ocorrido, pude observar que realmente não havia outra coisa a se fazer. O rapaz havia pisado feio na bola.
Leandro era um rapaz de vinte e poucos anos e havia ingressado na empresa de Julio graças à indicação de um antigo funcionário. Como confiava muito nesse antigo colaborador, Julio achava que podia acreditar cegamente em Leandro, deixando, em pouquíssimo tempo, grande cota de responsabilidade sob os cuidados do rapaz.
E, como esperava, Leandro apresentou bons resultados nos primeiros dois meses de emprego. Chegava pontualmente, resolvia seus afazeres em tempos hábeis, desenvolvia relacionamento saudável com os demais colaboradores e se arriscava a opinar sobre questões estratégicas e que não condiziam com o escopo de suas funções, obtendo sucesso em muitas de suas ideias. Porém, pouco antes de completar o terceiro mês de trabalho, alguns fatos inusitados começaram a ocorrer com o jovem.
Aos poucos foram chegando ao conhecimento de Julio algumas reclamações a respeito da conduta do rapaz. De acordo com os relatos, ele faltava com respeito com os colaboradores e, em momentos de estresse, soltava palavras de baixo calão, sendo altamente desrespeitoso. Num dos almoços promovidos por um grupo da empresa nos finais de semana, ele chegou a puxar uma briga com o marido de uma de suas colegas, pois havia mexido com a moça após beber algumas doses exageradas de álcool. É claro que, após esse evento, o burburinho entre os colaboradores foi inevitável. Mas, passados alguns dias, o caso foi relevado e Leandro seguiu sua vida normalmente.
O tempo de paz, porém, durou pouco. Algumas semana depois, Julio foi surpreendido por uma colaboradora esbaforida em sua sala. A senhora, que era de uma religião muito conservadora, estava vermelha de tanta vergonha e nem sabia como falar com ele. Depois de uns goles de água, e recompondo-se, desatou a falar com indignação que aquele menino novo (o Leandro) estava vendo obscenidades no computador. Melindrado, e mais do que depressa, Julio correu até a mesa do rapaz e, surpreendentemente, não encontrou nada de comprometedor em sua tela. Mesmo assim, especulou com os presentes sobre a realidade dos fatos apresentados e todos, sem exceção, confirmaram as acusações da senhora.
Tomado por ímpeto, Julio pediu que o rapaz fosse à sala dele e se pôs a dizer uma série de sermões e puxões de orelha. Falou sobre sua satisfação em relação ao moço no que diz respeito ao seu trabalho, porém ressaltou a grande quantidade de reclamações que vinha recebendo de diferentes colaboradores e por distintos motivos. Leandro jurava reconhecer que estava errado em algumas situações, porém acreditava que boa parte daqueles protestos não passava de um complô de pessoas que o queriam longe dali. Julio lhe deu mais uma chance, porém, por precaução, mandou uma notificação formal a sua casa, como uma espécie advertência, alertando-o sobre a seriedade dos abusos que vinha cometendo.
Mas, como o copo já estava quase transbordando, a gota que fez com que isso ocorresse veio pouco mais de um mês depois. Num dia de correria em que o final do mês chegava e todos pareciam correr contra o tempo para dar conta de seus afazeres, Leandro foi designado a fazer alguns serviços externos com o carro da empresa. Foi uma espécie de Job Rotation relâmpago, pois estavam com desfalque naquele dia e precisavam de alguém que dirigisse para resolver tais assuntos. Mais do que prontamente, Leandro aceitou o pedido e executou tudo dentro dos horários estipulados. O problema veio depois disso, quando, ao invés de voltar para o escritório, foi fazer alguns "serviços" pessoais. Além de resolver questões de interesse próprio com o carro da empresa e dentro do horário de trabalho, Leandro foi visto nos arredores da companhia com duas moças desconhecidas dentro do carro e com o som no último volume.
Julio contou que a demissão por justa causa infelizmente teve de ser feita. O rapaz era bom no que fazia e parecia ter futuro, mas depois de tantas presepadas, não tinha como continuar dando chances atrás de chances. Infelizmente, situações como essas são muito mais comuns do que se possa imaginar. E, curiosamente, muitas vezes a empresa é culpada pelas atitudes dessas pessoas. Não foi o caso de Leandro, mas pode ser o de qualquer um que você conheça.
Não perca na próxima terça-feira alguns exemplos de atos que podem ser considerados como justa causa. Siga-me no twitter: www.debernt.com/bentschev.