Certa vez, jogando conversa fora em um evento, fui surpreendido com duas histórias um tanto quanto inusitadas, de dois empresários amigos. O primeiro perguntou: "Bernt, como faço para falar para um funcionário que ele não cheira muito bem?". Fui pego de surpresa e não soube responder imediatamente, afinal, falar sobre esses assuntos é muito delicado. Pedi que ele me explicasse um pouco melhor a situação.

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Juarez começou contando que a moça era muito competente no que fazia e que possuía um potencial enorme para crescer na empresa. Porém, da maneira que ela se apresentava, ele não se sentia à vontade nem para deixá-la onde estava, nem, muito menos, promovê-la a um cargo mais relevante.

De acordo com meu amigo, a moça não cuidava muito bem de sua higiene. Seu cabelo era visto constantemente oleoso, sinal nítido de que não via água há bons dias. Sem contar que falar de perto com Priscila era algo impensável, já que a moça possuía mau hálito. E, por fim, o que deixava Juarez demasiadamente descontente, a moça exalava um odor muito desagradável, como se não utilizasse desodorante ou não tomasse banho há dias.

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A primeira pergunta que fiz foi se ele fazia questão de que a moça continuasse como recepcionista, afinal, essas moças são as primeiras pessoas com quem nossos clientes têm contato ao entrar na nossa empresa. Elas são o nosso cartão de visita. Juarez disse que recepcionista era o cargo mais baixo da empresa, ou seja, ele queria promovê-la, mas, nessas circunstâncias, isso jamais aconteceria.

Foi então que Marcos, meu outro amigo, contou sobre um problema semelhante em sua empresa. A recepcionista de sua empresa, Diana, não se importava nada com a sua apresentação. A começar pelas roupas que utilizava, a moça abusava de decotes, utilizava blusas com golas esgarçadas e não conseguia combinar as peças com os assessórios adequados. Marcos relatou que o mais curioso é que era muito comum que num dia ela aparecesse com roupas sóbrias, e no dia seguinte com camisetas do Rodeio de Barretos. Imaginem a situação: seu cliente entra na sua empresa e se depara com uma recepcionista vestindo uma camiseta de rodeio!

Ponderei sobre a melhor forma de orientá-los e, tão logo achei a resposta para minhas perguntas, desatei a falar minhas ideias. Disse que, primeiramente, eles deveriam encontrar a pessoa ideal para falar com elas a esse respeito. Deveria ser alguém que se mostrasse amigável, mas que, ao mesmo tempo, indicasse autoridade, para que elas entendessem que se tratava de uma orientação e não um conselho de amigo. Na minha opinião, não havia outra forma a não ser falar a verdade. Feito isso, talvez eles devessem entrar com sua parcela de responsabilidade. No caso da recepcionista de Marcos, por exemplo, pode ser que comprar um uniforme fosse o primeiro passo, assim evitaria o problema das roupas inadequadas.

Alguns dias depois, Juarez me ligou para contar o que havia acontecido. Segundo ele, o mais difícil de tudo foi encontrar alguém que quisesse ter a conversa com a moça. Ele disse que as pessoas se negavam, alegando se sentirem desconfortáveis com a situação. Resolveu, então, ele mesmo falar, afinal, quem era o chefe ali? Juarez contou que a crítica não foi recebida da melhor forma. A moça, triste em ser criticada, começou a chorar e, após alguns minutos de soluço, contou que não era a primeira vez que diziam isso a ela.

Alguns dos problemas da moça foram solucionados. Ela passou a vir sempre com os cabelos limpos e bem cuidados, e a escovar os dentes com mais frequência, além de andar sempre com balinhas na bolsa para evitar o mau hálito. O único problema ainda não solucionado, segundo meu amigo, era o odor desagradável. Segundo ele, ela foi encaminhada a um endocrinologista para verificar quais as ações deveriam ser feitas para corrigir isso. Fiquei surpreso, mas, segundo ele, a moça precisaria passar por uma microcirurgia para corrigir aquilo que, até então, era visto como desleixo.

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O problema, às vezes, pode ser muito mais grave do que imaginamos. Por isso, não hesite em conversar com um funcionário que tenha esse tipo de problema. Para isso, não perca a coluna Talento em Pauta da próxima terça-feira, na Gazeta do Povo.

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