Antônio chegou ao topo da organização em menos de 20 anos. Iniciou sua carreira como trainee e aprendeu logo como funcionava um grupo organizacional sólido e profissionalizado. Percebeu, com perspicácia, que a realidade de uma grande empresa é complexa, que seus profissionais precisam se dedicar muito para sobreviver e vencer e que, por outro lado, alguns cargos exigem conhecimentos básicos e simplicidade de procedimentos. Começou, então, a achar que a estrutura da organização era mais valiosa do que a participação das pessoas.

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Após algum tempo de casa, Antônio não conseguiu mais diferenciar pessoas e máquinas e passou a acreditar que aquelas também eram parte da estrutura inanimada da organização. Dessa forma, foi montando em sua cabeça uma estratégia em que administrava os colegas como peças de um jogo de xadrez. Sua visão fora do comum lhe valeu resultados numéricos fantásticos e, conseqüentemente, uma promoção seguida de outra. Seu relacionamento com a equipe, nesse ponto de sua carreira, ainda era bom. Mas, à medida que foi se tornando uma promessa de sucesso, deixou de se relacionar mais intimamente com qualquer pessoa à sua volta, pois temia a inveja e as fofocas.

O trabalho aumentava de volume e complexidade; contudo, isso só o estimulava a se dedicar cada vez mais aos resultados. Por conta de seu ótimo desempenho, Antônio recebeu outras duas promoções. Em contrapartida, afastou-se ainda mais do convívio social. O executivo achou essa transição natural, pois acreditava que, quanto mais alto subisse, mais se afastaria das pessoas medíocres e das bobagens da vida.

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Seu interesse único eram os resultados. Dormia e acordava pensando no balanço da empresa, nos concorrentes, nas variações de mercado, nas oportunidades de negócios... A cada novo dia, tornava-se mais frio e distante em relação às pessoas. Nem ligou quando um colega antigo, que ingressara com ele na empresa, foi demitido em razão de um corte de despesas. Não se alterou também quando desligou um subordinado que estava prestes a se aposentar e que, ao receber a notícia, chorou copiosamente em seu escritório, implorando por mais um ano de empresa, com o qual conseguiria a aposentadoria.

Por esse caminho, foi colecionando resultados, cargos mais importantes, e, logicamente, mais dinheiro. Aos poucos, foi aumentando também sua desconfiança em relação aos seus amigos e até membros da família. Acreditava que, como havia se tornado um homem rico e poderoso, seria rodeado por interesseiros e oportunistas. Até o momento em que foi despedido pelo presidente da organização. Nos primeiros dias, Antônio não quis acreditar e esperou ser chamado de volta para o cargo. "Eles devem estar enganados. Afinal, meus resultados são expressivos", pensou. Mas, com o passar do tempo, percebeu que fora descartado como aqueles que ele próprio havia demitido ao longo de sua carreira.

Quando tomou consciência desse fato, tristemente notou outro: estava só, absolutamente só. Da solidão, arrancou uma doença grave e, em poucos meses, faleceu. Ao único ser vivente que lhe ouviu em seu leito de morte, confessou: "Não vivi, só sobrevivi. Não valeu a pena!"

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A máxima "A gente colhe o que planta" funciona na prática profissional e na vida pessoal. Por mais óbvia que seja essa afirmação, muitas pessoas se esquecem dela e agem como se fossem os únicos indivíduos que importam no mundo. Permanecem centradas em suas ações e pensam somente no seu bem-estar, mas esperam que, no futuro, sejam lembradas e benquistas. Para isso, baseiam-se em seus feitos e resultados, descartando as relações interpessoais, a rede de relacionamentos e o comprometimento social e ambiental. Infelizmente, esses profissionais só descobrem que optaram por uma estratégia de vida errada quando já é tarde demais para reverter a situação. Por essa razão, lembre que o seu futuro é escrito hoje, a cada gesto, pensamento e sentimento transmitido.

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Saiba mais

Sob o olhar de um headhunter

Depois de mais de 35 anos acompanhando de perto o dia-a-dia de grupos nacionais e internacionais, o headhunter Bernt Entschev acaba de lançar o livro "Executivos, Alfaces e Morangos", pela Editora Fundamento. Nele, Bernt mostra como os cuidados que um agricultor tem com sua plantação se aplicam à realidade das empresas. Enquanto traça esse paralelo, o autor recheia sua obra com inúmeros contos escritos com base no que ele próprio assistiu durante décadas gerenciando funcionários e selecionando executivos. Mais do que descrever cada circunstância, Bernt mostra nessas situações o que no comportamento dos personagens é considerado adequado ou não à realidade atual do mercado de trabalho. Os contextos são diversos: abordam a confecção do currículo, a inserção no mundo empresarial, a manutenção de uma vaga de emprego, a ascensão e a terceira idade profissional, além de inúmeras outras questões, como assédio moral e preconceito.

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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@debernt.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br

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