Ao longo de nossas vidas precisamos tomar muitas decisões. Algumas são simples e impactam apenas o nosso dia a dia, outras são muito mais sérias e podem impactar não apenas o resto de nossas vidas, mas também a vida de outras pessoas. E é por essas últimas que considero essencial termos consciência dos efeitos de nossas escolhas. Quando decidimos devemos estar cientes que, dependendo da opção que escolhermos, teremos apenas dois resultados possíveis: ganhar ou perder. Foi por causa de uma história delicada que presenciei, ainda em uma das primeiras empresas em que trabalhei, que resolvi escrever sobre esse assunto.

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Luiz era gerente de vendas e, como a maioria desses profissionais, geria uma grande equipe. Eram, ao todo, 14 vendedores sob sua supervisão direta. Vários deles eram seus companheiros de longa data. Amigos de todos os dias e, também, dos finais de semana. Luiz tinha a consciência de que quanto maior a equipe, maior a dimensão dos negócios e maior a dificuldade de conseguir acompanhar todos os seus subordinados em cada negociação. Uma vez que a profissão de vendedor promove muitos desafios, como a pressão constante para a conquista das metas, a prospecção de novos clientes e a administração dos antigos, estabeleceu a confiança mútua como a base de seu relacionamento com todos os seus funcionários.

Porém, em um dia inesperado recebeu uma incumbência relativamente complicada. Seu superior imediato lhe informou, em tom despreocupado, que a direção da empresa havia decidido que a partir de agora a idade máxima para exercer o cargo de vendedor seria de 40 anos. A orientação, para tanto, era que os profissionais não enquadrados nesse perfil fossem demitidos.

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O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi que, apenas em sua equipe, havia três pessoas nessa situação. Pior, eram seus três melhores vendedores e, também, mais antigos companheiros. E agora? Como ele poderia aceitar o fato de ser o responsável por correr o risco de arruinar, mesmo que momentaneamente, a vida dessas pessoas? Ele estava certo que essa orientação era discriminatória, mas que, se não aceitasse, ele correria o risco de perder o próprio cargo – e seus companheiros seriam demitidos da mesma maneira.

Muitas vezes ao longo de sua carreira, Luiz ouviu pessoas dizendo que, dentre as principais características de um líder está a capacidade de tomar decisões com qualidade, exijam elas frieza ou não. Nesse caso, ele reconheceu ter sido afetado pelo impacto que sua decisão implicaria na vida de seus funcionários e amigos. De qualquer maneira, procurou isolar-se do fato, respirou fundo e seguiu as ordens que seus superiores haviam lhe imposto.

Com a decisão, os três foram desligados. O problema é que, a partir dessa faixa etária, a dificuldade de conseguir uma recolocação aumenta, justamente na idade em que o que essas pessoas desejam é estabilidade. A ocasião marcou Luiz emocional e profissionalmente, feriu seus princípios e valores e feriu também o engajamento de sua equipe, criando sensações de medo, instabilidade e insegurança quase irreversíveis. E quem não se sente atingido quando vê colegas de anos de trabalho sendo mandados embora?

Luiz já não estava mais confortável na empresa e decidiu que a melhor solução era desligar-se.

Em três meses ele havia tomado duas decisões importantes em sua vida (demitir e demitir-se), que se tivessem sido melhor avaliadas, teriam implicado em situações totalmente diferentes.

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Recentemente reencontrei Luiz e conversei sobre esse assunto e, hoje, olhando para trás, ele admitiu que teria agido de outra maneira. Infelizmente não podemos modificar o que passou, por isso o momento de decidir é o mais importante de todos. É quando ainda temos a chance de fazer diferente, de buscar todas as alternativas possíveis para mudar um fato ou uma situação. Mesmo quando a situação vai contra os nossos ideais, temos a chance de buscar argumentos sólidos para mudar não apenas o presente, mas uma situação de desconforto e até de arrependimento no futuro.

Se você se interessou pelo assunto e deseja saber um pouco mais sobre Tomada de Decisões, não perca a Coluna desta terça-feira, aqui na Gazeta do Povo. Até lá!