Todo relacionamento, seja ele amigável, romântico ou profissional precisa de transparência para se sustentar. Honestidade por ambas as partes é fundamental, mas a transparência a que me refiro é ainda mais ampla do que ser simplesmente verdadeiro. Quer ver a diferença? Então, leia a história que apresento a seguir.
Roberto era gerente financeiro da empresa de um grande amigo meu. Ao lado de sua sala, trabalhava Silvana, que ocupava o cargo de gerente comercial. Ambos se relacionavam bem entre si, e dificilmente apresentavam problemas comportamentais aos seus gestores. Pelo contrário, extremamente focados aos resultados da empresa, tanto um quanto o outro sempre colocavam os interesses corporativos frente a qualquer outro mérito.
A convivência de ambos ia muito bem, obrigado, até o dia em que Roberto, tomado por uma desconfiança súbita de que poderia perder seu emprego, começou a esconder algumas informações de Silvana. Eles iam juntos a muitas reuniões e, aos poucos, o gerente financeiro começou a filtrar os assuntos que colocava na mesa. Não bastasse isso, marcava reuniões à parte com os diretores da empresa, sem convocar Silvana, justamente para discutir aqueles assuntos que ele mesmo evitava colocar na mesa.
No princípio, Silvana não se importou. Por ser muito atarefada, acabou não parando para pensar no que estava acontecendo. Porém, com o passar do tempo, ela percebeu que volta e meia, quando surgiam novas pautas para discussão, todos pareciam saber do que se tratava, menos ela. Pega de surpresa, não conseguia se colocar de forma eficaz diante de alguns assuntos abordados, que pareciam já ter sido discutido amplamente em outra ocasião. Dessa forma, começou a se incomodar com o que vinha acontecendo e a perceber que, na verdade, ela vinha sendo excluída de alguns assuntos inerentes a ela.
A moça resolveu convocar uma reunião com a diretoria para dizer que gostaria de participar de todas as reuniões diretivas, ou pelo menos daquelas que abordavam temas que diziam respeito a sua área. Para sua surpresa, ao chegar à sala onde aconteceria o encontro, deu de cara com Roberto, que não havia sido convocado. Surpresa, Silvana disse que seu encontro era apenas com a diretoria e que preferia que ele não ficasse. Porém, ao contrário do que ela esperava, seu pedido foi negado pelos diretores que alegaram que Roberto deveria saber de tudo que se passava na empresa, já que ele é quem cuidava do dinheiro da companhia. Sem alternativas, a moça iniciou a discussão, alegando estar extremamente insatisfeita por ter deixado de tomar conhecimento acerca de situações sérias que envolviam, inclusive, sua equipe.
Os diretores, porém, foram contundentes. Disseram que a decisão de como as informações estratégicas da empresa eram passadas aos seus colaboradores era deles e de mais ninguém. Sendo assim, eles continuariam convocando quem considerassem melhor para cada reunião. Silvana sentiu como se tirassem o chão sob seus pés. Ela não imaginava o porquê de tais mudanças. Era como se, de repente, simplesmente tirasse dela o "poder" que ela tinha. Como ela poderia fazer seu serviço bem feito sem ter acesso a informações fundamentais para a boa execução de seu trabalho?
Passaram-se alguns meses nessa nova situação até que Silvana enfrentou uma prova de fogo. A diretoria da empresa fechou um grande negócio, onde se fundiram com um grupo conhecido no Brasil. A moça, por sua vez, não sabia nada a respeito do ocorrido e questionada por um dos clientes sobre a fusão, não soube o que responder. Pelo contrário, demonstrou-se surpresa com a notícia, já que saber daquela situação, ainda dessa forma, causou-lhe grande espanto.
Ao chegar ao escritório, correu para a sala de um dos diretores, e contou o que havia acontecido. Disse não saber como agir diante de tal situação e que era inconcebível a gerente comercial daquela empresa não saber de um fato tão relevante como esse. Dias depois, pediu demissão. Silvana sempre acreditou que transparência era algo que deveria ser praticado não só pela cúpula da empresa, mas por todos os funcionários. E, se não fosse pra ser dessa maneira, era melhor procurar uma empresa que compartilhasse de seus ideais.
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