Em tempos de campanha eleitoral, quando o que mais se ouve são discursos de honestidade e ética, optei por contar a história de Wellington. A lição aprendida por ele deveria servir de exemplo para todo indivíduo que pretende ocupar um cargo público.
Desempregado havia mais de um ano e sem conseguir se recolocar devido à sua pouca experiência profissional, Wellington ingressou na empresa por indicação de um funcionário antigo, de muita credibilidade junto aos proprietários da organização. Apesar da pouca experiência, contaram a seu favor na hora da contratação a disponibilidade de aprender, a vontade de crescer e a boa índole, validadas pelo empregado que sugeriu seu nome.
Depois de ter as referências checadas, o jovem foi contratado como office-boy do Departamento Financeiro da companhia e, em pouco tempo, conquistou seu espaço entre os colegas e supervisores. Bastante prestativo e sempre disposto a auxiliar, ele oferecia seus préstimos até mesmo a outros departamentos quando finalizava suas funções diárias. Essa postura encantou a todos na organização, que comentavam a enorme aquisição feita pela empresa ao contratar um funcionário tão competente. Aos poucos, ele foi assumindo mais e mais responsabilidades e superando todas as expectativas em relação a seu trabalho. Então, após um ano de casa, Wellington foi promovido a auxiliar administrativo, com um aumento significativo de salário e de obrigações.
Ninguém mais cobrava dele suas tarefas, pois todos sabiam que ele as executava com competência e responsabilidade. Seu trabalho era supervisionado de longe, e ele o exercia com muita confiança e autonomia. Wellington não precisava mais prestar contas de suas decisões, pois compreendia os objetivos da empresa e sabia o que fazer para conseguir os resultados esperados. Já se comentava, pelos corredores, que ele seria promovido novamente, tamanha a satisfação dos proprietários em relação aos seus préstimos. O futuro de Wellington parecia garantido. No entanto, a promoção comentada subiu à cabeça do rapaz, que contraiu dívidas contando com o possível aumento de salário. Quando a promoção foi dada a outro colaborador, mais antigo e igualmente merecedor, Wellington se viu em maus lençóis.
Como havia assumido diversos compromissos financeiros, o jovem teve que fazer empréstimos junto aos familiares e amigos mais íntimos. Nesse período, deixou de se dedicar ao trabalho com o mesmo afinco de antes, pois sua cabeça estava cheia de problemas. Wellington até chegou a pensar em devolver alguns dos itens que havia comprado, mas o prazer de possuí-los era grande demais para que ele se desfizesse deles. No pouco tempo em que permaneceu na empresa, o rapaz tomou gosto pelas coisas caras, que só muito dinheiro consegue garantir. Então, sem querer abrir mão de seu novo estilo de vida, Wellington pensou em uma alternativa simples: ele "emprestaria" dinheiro da empresa e, quando estivesse mais organizado financeiramente, devolveria, sem ninguém perceber. Feito isso, o jovem achou-se muito esperto, inteligente ao extremo. Como ninguém se deu conta imediatamente do sumiço do valor, ele pegou mais um pouco. Depois, outras duas vezes.
Quando seu supervisor fechou as contas do mês e percebeu a falta dos valores, chamou a todos e comunicou o ocorrido, esperando que alguém se pronunciasse. E, como ninguém o fez, a organização iniciou uma investigação interna. Mas Wellington não se assustou nem se arrependeu. Em vez disso, utilizou a credibilidade que mantinha junto à chefia para lançar suspeitas sobre o office-boy. Desse modo, ele conseguiu que o acusado fosse desligado da organização. Sua vitória no processo fez com que ele desenvolvesse a habilidade de mentir como quem diz a verdade e empregasse isso no dia-a-dia do negócio. Negligenciava o trabalho e justificava seu baixo rendimento com discursos eloqüentes, inflamados. Surrupiava pequenos valores do caixa e incriminava os colaboradores com menos tempo de empresa.
Nada parecia detê-lo. Até que um dia foi chamado à sala da Diretoria para uma reunião de urgência. Lá estavam seu supervisor direto, o diretor e um policial, que haviam flagrado, com câmeras instaladas secretamente, Wellington roubando. Resultado: demissão imediata. A vergonha terrível que sentiu e a gratidão pela empresa, por ela não ter formalizado a denúncia, fizeram com que ele revisse seus atos e se arrependesse de tudo. Lição aprendida, Wellington tornou-se extremamente correto e ético. Sua postura de antes nada lembra o profissional que se tornou hoje.
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O excesso de confiança e a falta de fiscalização algumas vezes fazem de boas pessoas indivíduos errados. Nas nossas empresas, como na administração pública, há bons e maus profissionais. No entanto, a diferença crucial é que na esfera privada os maus não evoluem, enquanto no âmbito público eles conseguem brechas para continuar investindo na falta de valores éticos e na desonestidade. Por isso, aproveito o momento da eleição para lembrar que, em uma seleção de executivos, para ocupar uma vaga de extrema importância, os candidatos são avaliados por seus atos passados, por seu histórico comprovado. Nunca um profissional conquista um emprego quando suas ações são contrárias ao seu discurso. Isso deveria valer, também, para os candidatos a cargos públicos. Pense nisso!
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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@debernt.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br