Antes de começar, uma constatação: todas as pessoas têm competências natas, do mesmo modo que também possuem fraquezas. Na maioria dos casos estas competências tanto as boas quanto as não tão boas só são percebidas ao adentrar o mercado de trabalho. O início da carreira é um momento crucial na vida dos jovens profissionais, e o papel do líder, nesse momento, conta muito para desenvolver tais carreiras ainda em concepção.
No artigo de hoje trago o exemplo de como uma liderança inspiradora funcionou como propulsora para o meu desenvolvimento.
Quando iniciei minha carreira, ainda como office boy, depois como secretário, e então muitas outras vezes como profissional de vendas, todos os meus chefes tentavam consertar minhas fraquezas, meus lapsos, minha desorganização e meu português, claro, que na época ainda não era fluente. Para eles, reparar estas debilidades era fator determinante para o avanço na minha função e carreira.
Nesse tempo todo, entretanto, minha carreira pouco tinha mudado. Acabei concentrando toda a minha energia para compensar meus "gaps" e deixei de lado o que fazia de melhor. Sem muitos progressos, procurei um novo emprego. Logo que entrei, fui recepcionado por Mário, que seria o meu chefe direto. Lembro-me de suas palavras quando contei o método que seguia para ser um profissional melhor. Ele me disse, imediatamente, que estava seguindo pelo caminho errado.
Mário, após perceber minha desorientação, aconselhou-me a buscar o desenvolvimento dos meus pontos fortes, ao invés das minhas fraquezas o que eu sempre acreditei ser o correto e realizou um exercício comigo. Pediu para que eu colocasse, em um lado de uma folha de papel, todos os meus pontos fortes e todas as atividades que eu mais tinha prazer em realizar. No outro lado, ele pediu para que eu escrevesse tudo o que eu tinha dificuldade em realizar ou simplesmente não gostava.
No dia da entrega, Mário leu ambos os lados, olhou para mim e colocou a folha na mesa, dizendo que a partir de então só trabalharíamos o lado que eu mais gostava, consequentemente ocultando o outro lado da folha. Nesse momento disse a ele, e também a mim mesmo, que o que iria importar dali em diante eram as minhas destrezas, as minhas qualidades.
Imagine como se suas qualidades representassem 50% de você, e as fraquezas os 50% restantes. Agora imagine-se trabalhando os pontos positivos. Com isso, automaticamente, o seu "verso da folha" irá encolher. Além disso, trabalhar suas qualificações será muito mais prazeroso e natural e esse lado "positivo" e nato passará a representar 60%, 70% da sua capacidade, das suas habilidades. É uma analogia diferente, porém interessante. Foi neste momento em que fui "convertido" da área de vendas para o recrutamento, treinamento e desenvolvimento de pessoas.
Para fechar esse pensamento, digo que precisamos apostar mais as nossas fichas em nós mesmos. Geralmente, as pessoas se autominimizam. É fácil perceber. Basta o chefe fazer um elogio para algum funcionário seu, e esse, um pouco sem jeito, trata de minimizar o seu próprio feito. É claro que ninguém gosta de pessoas convencidas, que abusam da autoconfiança. Mas, de um modo comedido, torna-se saudável para o bom exercício da profissão e o desenvolvimento pessoal. Algumas pessoas são tão inseguras que acabam paralisadas e, por isso, fogem de desafios, o que acarreta na perda de inúmeras oportunidades de crescimento e, ao mesmo tempo, de se sentir satisfeito com a vida e, principalmente, o trabalho.
Após ter realizado este simples exercício com Mário, tudo ficou mais claro para mim. Em dois anos e meio consegui mudar muito para melhor o meu comportamento. Transferi isso a todas as minhas equipes na época e, hoje, aos meus funcionários e filhos. Não há dúvidas de que essa prática induz ao autoconhecimento, à reflexão e à busca por uma jornada em que nos sintamos satisfeitos com nós mesmos.
Todos, sem exceção, possuem talentos e é neles que precisamos focar. O mercado está cada vez mais exigente, e profissionais com habilidades medianas quase que invariavelmente também ocupam posições medianas. Na coluna Talento em Pauta desta terça-feira, falarei mais sobre o desenvolvimento de pontos fortes. Até lá!