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mercado Financeiro

Com ações baratas, Brasil volta a atrair investidores estrangeiros

 | YASUYOSHI CHIBA
(Foto: YASUYOSHI CHIBA)

Em meio a todo o pessimismo em relação às crises econômica e política do Brasil, uma coisa curiosa começou a acontecer: os investidores estão retornando ao mercado de ações.

Estrangeiros injetaram um total líquido de US$ 4,2 bilhões nas ações locais nos 20 primeiros dias deste mês, no que foi a primeira captação mensal desde junho, segundo dados da BM&FBovespa SA, operadora da Bolsa de Valores de São Paulo.

Além disso, gestores de ativos de mais da metade dos dez fundos locais de melhor desempenho agora dizem que estão cautelosamente voltando a comprar, fazendo um caminho contrário ao tomado no início do ano, quando eles abandonaram as ações para deixar o dinheiro aplicado em produtos atrelados a taxas de juros de curto prazo.

Caçadores de pechincha

Embora a estratégia esteja longe de ser consenso, esses caçadores de pechinchas estão se juntando a um grupo cada vez maior de investidores — incluindo Mark Mobius, presidente do conselho do grupo de mercados emergentes da Franklin Templeton, e o gerente de portfólio da Solitaire Aquila Ltd., Patrik Kauffmann —, que disseram nas últimas semanas que estão procurando comprar ativos depreciados na maior economia da América Latina.

As empresas do índice acionário de referência do país, o Ibovespa, estão sendo negociadas a 1,15 vez o seu valor contábil, ou ativos após subtração de passivos, segundo dados compilados pela Bloomberg. Essa proporção é um pouco maior que a média das ações globais.

“Não toca um sino quando o mercado atinge o ponto de inflexão em um mercado baixista” disse Guilherme Aché, que administra R$ 5 bilhões (US$ 1,28 bilhão) como sócio da Squadra Investimentos, em entrevista, em seu escritório, no Rio de Janeiro. “Mas qualquer um que comprar uma carteira selecionada de ações nos níveis atuais ganhará dinheiro”.

“Selecionada” é a palavra-chave, enfatizou ele. Quem busca pechinchas no mercado precisa ser exigente e manter uma visão de longo prazo, disse Aché, porque o abrangente escândalo de corrupção e a turbulência política que estão gerando pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff poderiam piorar a recessão, já projetada como a mais longa desde a Grande Depressão.

O fundo Master, da Squadra, apresenta o segundo melhor desempenho entre os fundos de ações do Brasil neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. Em entrevistas com oito dos dez principais fundos, outros cinco gerentes repetiram o otimismo cauteloso de Aché.

Entrada de recursos

Isso ajudou a impulsionar um ganho de 7,9% no Ibovespa neste mês, o que reduziu seu prejuízo no ano até esta data a 0,3%. Levando em conta o declínio de 32% da moeda, o índice registra baixa de 31% em dólares neste ano. O indicador subiu 1,8%, para 48.629, às 10h57 em São Paulo.

Em setembro, o iShares MSCI Brazil Capped ETF, maior fundo do Brasil negociado em bolsa em Nova York, registrou sua primeira entrada mensal de recursos desde fevereiro.

“Algumas coisas estão baratas, mas estamos aumentando nossas posições cautelosamente, porque o cenário político é muito imprevisível” disse Beatriz Fortunato, sócia da Studio, que administra R$ 400 milhões e gerencia o quinto fundo mais bem classificado, em entrevista, do Rio de Janeiro. “Nossa estratégia valoriza as empresas de qualidade, que têm condições melhores para enfrentar tempos difíceis”.

Títulos do governo

A Studio aumentou a parcela dos seus ativos alocada em ações em 10% no segundo semestre deste ano, adicionando empresas como a distribuidora CPFL Energia SA e a fabricante de ônibus Marcopolo SA.

Ainda há muitos céticos dizendo que preferem evitar as ações brasileiras depois da queda deste ano. Dois dos dez principais fundos dizem que, embora as avaliações sejam atraentes, ainda há um risco alto demais de que a confusa situação política do Brasil possa dinamitar qualquer ganho obtido.

“Os retornos teriam que ser muito atraentes para justificar aquisições em um momento de tanta incerteza” disse Alexandre Rezende, que ajuda a supervisionar R$ 1 bilhão como sócio da Oceana, que tem sede no Rio de Janeiro e é a gerente do 8.º fundo mais bem classificado. “Nós não vemos motivos para fazer isso se podemos investir de forma segura em bonds do governo, que têm um yield (rendimento) de até 15%”.

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