Um dos argumentos do governo estadual para não colocar em funcionamento a UEG Araucária, e assim justificar a quebra do contrato, foi de ordem técnica. Em primeiro lugar, ela explodiria assim que fossem acionadas suas turbinas. Além disso, como a interligação da usina com a rede pública seria incompatível a UEG supostamente não toleraria as oscilações de freqüência do sistema elétrico brasileiro , o funcionamento da térmica poderia "derrubar" a rede, ocasionando um "efeito dominó" que provocaria um apagão em todo o Brasil.
O fato é que a usina está funcionando há 22 dias, e não há notícia de qualquer apagão desde então. Devido ao pedido de antecipação de produção feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Copel diz ter "antecipado uma série de testes e experimentos", o que incluiu "a substituição de algumas peças e componentes comprometidos pela ação do tempo, limpeza e inspeção geral dos equipamentos, condutores e tubulações, ensaios elétricos e testes de recomissionamento".
A ONS, enquanto isso, se comprometeu a monitorar a instabilidade do sistema e a Petrobrás, a verificar constantemente se o gás natural boliviano não está prejudicando as turbinas. Todos esses procedimentos, da Copel, ONS e Petrobrás, poderiam ter sido adotados desde o início de 2003. A usina, portanto, poderia funcionar e sem derrubar o sistema.
Explosão
A questão da suposta explosão envolve uma unidade de processamento de gás anexa à usina, que não estava prevista no planejamento inicial. A unidade custou US$ 43 milhões (R$ 93,3 milhões pelo câmbio atual) e começou a ser construída após o início das obras na UEG, por decisão das acionistas da termelétrica (Copel incluída) para tratar o gás natural boliviano. A conclusão dos técnicos foi que, como o gás da Bolívia é mais "pesado" que aquele para o qual as turbinas foram planejadas, seria necessário tratá-lo antes que fosse usado pela térmica. Mas, depois que a UEG ficou pronta, a Siemens-Westinghouse, fabricante das turbinas, voltou atrás e afirmou que as turbinas poderiam, sim, funcionar com o gás boliviano pesado. Ou seja, a unidade de processamento, já pronta, tornou-se desnecessária.
A Copel informa que essa unidade apresenta "sérios vazamentos". Ou seja, se posta em funcionamento, o gás natural se espalharia pelo ambiente e poderia provocar uma explosão a partir de qualquer faísca. Mas nisso há dois pontos contraditórios: 1) se a unidade está desativada e é desnecessária, como prova o atual funcionamento da UEG, não haveria motivo para se alegar uma explosão; 2) a Copel demonstra que pretende colocá-la em funcionamento, pois a incluiu no orçamento dos reparos que planeja fazer na térmica logo após o período emergencial de geração. Bastaria, portanto, ter feito esses reparos em 2003, antes de se usar uma eventual explosão como pretexto para quebrar o contrato com a UEG.
Todos os reparos que a Copel está planejando vão custar R$ 11 milhões a companhia não divulga o valor que será aplicado especificamente na unidade de processamento gás. Mas, mesmo que a maior parte da verba vá para esse conserto, pode-se dizer que o funcionamento da unidade trará retorno. Segundo outro ex-executivo da companhia, o tratamento do gás, que o deixa mais leve, tem como resíduo hidrocarbonetos que formam o gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha. Um ex-executivo da Copel afirma que, se envazasse e vendesse o GLP, o retorno do investimento na unidade de processamento se daria em oito anos depois disso, a Copel apenas lucraria.
Questionada sobre o assunto, a companhia informou que por enquanto sua grande preocupação em relação à UEG está relacionada com seu negócio principal, que é a energia elétrica. "A correção das pendências técnicas que inviabilizam sua operação vai acontecer em momento oportuno. Quanto a colocar ou não essa unidade em funcionamento, é uma questão que ainda será avaliada e discutida pelas sócias Copel e Petrobrás", informou a empresa paranaense. (FJ)