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Os investimentos em ações tiveram o melhor primeiro trimestre desde 1999, com o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, avançando 13,67% no período, mesmo tendo perdido 1,98% neste mês. Com a queda mensal, os fundos de ações e os fundos mútuos de privatização FGTS-Vale e FGTS-Petrobras perderam brilho para os fundos cambiais entre as melhores aplicações de março, após o dólar comercial acumular alta de 6,16%.

Com isso, os fundos cambiais avançaram 5,75%. A aplicação é considerada arriscada, indicada apenas como um "seguro" para momentos de crise por alguns especialistas. Neste mês, porém, não foi apenas o alto risco nos mercados que turbinou os fundos cambiais. A atuação do governo contribuiu para a alta.

Março começou com o anúncio de medidas no câmbio: logo no primeiro dia do mês, a alíquota de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos no exterior passou a pegar as operações com prazo inferior a três anos - antes, o prazo era dois anos. No mesmo dia, o Banco Central (BC) limitou as operações de pagamento antecipado a exportações ao prazo de 360 dias. Dias depois, o prazo mínimo dos empréstimos isentos do IOF seria novamente elevada, para cinco anos.

"O governo passou a demonstrar incômodo com o nível da taxa de câmbio e suas implicações para a indústria", lembra o economista Alfredo Barbutti, da corretora BGC Liquidez, referindo-se aos discursos da presidente Dilma Rousseff e da equipe econômica.

Enquanto o governo se preocupava com o "tsunami monetário" provocado pelas injeções de liquidez por parte dos países desenvolvidos, o cenário externo ficou um pouco mais pessismista. Receios em relação à desaceleração da economia da China abalaram as bolsas e fizeram o dólar subir em mercados emergentes, como Austrália e África do Sul, além do Brasil.

Aqui, porém, foi onde a moeda americana mais subiu. Na Austrália, segunda colocada entre os 16 mercados de câmbio mais importantes acompanhadas pela agência Bloomberg News, a alta mensal foi de 3,73%.

A desaceleração da China reduz a demanda por matérias-primas, cujas cotações tendem a cair. Com isso, países exportadores desses insumos, como Brasil e Austrália, tendem a perder receita com exportações. Se o fluxo de dólares para o país reduz, a tendência é a moeda americana se valorizar.

Por isso, segundo Barbutti, a tendência para a taxa de câmbio, se de alta ou de baixa, é tão difícil de prever quanto o tamanho da desaceleração chinesa.

Os rumos da China, segunda maior economia do planeta, também impactaram diretamente os investimentos em ações. O principal índice da Bolsa de Xangai perdeu 6,82% neste mês. O mercado brasileiro sofre porque o peso dos papéis de empresas produtoras de matérias-primas é grande.

As ações da mineradora Vale e da petroleira Petrobras, por exemplo, sofreram mais que a média em março. Com isso, quem aplicou nos fundos FGTS-Vale perdeu 2,72% no mês. Os fundos FGTS-Petrobras caíram 3,69% e ficaram na lanterna das aplicações.

"Vale e Petrobras são mais afetadas pela queda nas cotações de matérias-primas", explica João Pedro Brugger, analistas da Leme Investimentos.

O especialista acrescenta ainda outro fator para a queda na Bolsa neste mês: depois de fortes altas em janeiro (11,1%) e fevereiro (4,3%), é normal investidores venderem ações para embolsar os lucros. Tanto que a alta acumulada no Ibovespa no ano, de 13,67%, só não superou os 57,67% do primeiro trimestre de 1999.

"Já imaginava a possibilidade de queda na Bolsa neste mês, após as altas de janeiro e fevereiro", diz o administrador de investimentos Fábio Colombo.

Diante da valorização acumulada, o especialista recomenda reduzir à metade a parcela dos investimentos em ações. Se o investidor aplica tradicionalmente 20% de seus recursos na Bolsa, a hora é de ficar com 10%, seguindo o princípio de "comprar aos poucos na baixa e vender aos poucos na alta". Colombo recomenda ainda deixar de 10% a 20% em fundos cambiais, como um "seguro", pois eles tendem a se valorizar quando a Bolsa cai.

Já para a renda fixa, o cenário não mudou muito. Mantida a tendência de queda nos juros básicos (a taxa Selic, hoje em 9,75%), os fundos DI e de renda fixa deverão render cada vez menos. Em março, o retorno bruto (sem descontar o Imposto de Renda) das duas aplicações foi de 0,74% e 0,86%, respectivamente, contra 0,61% na poupança.

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